sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crítica: Megamente


O lado bom do mau é lado mau do bom. Será que o homem realmente nasce bom e a sociedade o corrompe? Se o homem é fruto do seu meio social, o crime merece castigo ou perdão? Acho que nunca uma observação de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) foi levada tão ao pé da letra, como nesta admirável e divertida animação da DreamWorks.

Megamente (Megamind, EUA, 2010), dirigida por Tom McGrath, é um daqueles filmes irônicos que vai mexer com os conceitos de muita gente. Ele narra as peripécias do superdotado Megamente, um megavilão que não tem lá muita sorte com as suas vilanias contra o seu arquiinimigo Metroman, defensor da população de Metro City. Megamente e Metroman são criaturas extraterrestres despachadas, ao mesmo tempo, dos seus respectivos planetas em colapso, pelos seus pais biológicos. O primeiro encontro entre eles ocorreu ainda no espaço e, se não fosse o acaso, a história de cada um poderia ser diferente. Aqui na Terra as aeronaves-berços de Metroman (branco, forte, bonito) e de Megamente (azul, magricela, inteligente) pousaram em lares diferentes (muito diferentes!). As “famílias” que os adotaram os moldaram de acordo com o meio em que viviam. Em comum, mesmo, cursaram (ou quase) a mesma escola para crianças superdotadas. E só!


Megamente é uma divertida paródia a diversos heróis e vilões de HQ, Cinema, Televisão, especialmente do paladino de Metrópolis, o certinho (demais) Superman. O bonitão Metroman nunca levou o franzino Megamente a sério, mas está sempre pronto a defender Metro City, e a sequestrável repórter Rosane Rocha, dos seus ataques. Vivendo e trabalhando num velho observatório, com seu Criado, um dramático peixe-gorila-robô, meio trapalhão, que o acompanha desde bebê, o super-gênio Megamente estuda detalhadamente seus planos mirabolantes que nunca saem exatamente como o planejado. Quando um de seus desafios ao Metroman dá errado, mas dá certo, ele fica feliz, eufórico, pra logo depois cair em depressão, ao se dar conta de que, com o desaparecimento inesperado do super-herói, a sua vida de vilão não tem mais sentido.

Melancólico e insignificante para o povo, Megamente é ao mesmo tempo um anti-bandido e anti-herói que busca reconhecimento, mas, mais do que isso, busca o amor, o carinho que lhe foi negado desde a infância e que Metroman teve de sobra. Carente e decidido a preencher o seu tempo (e o vazio deixado pelo sumiço de seu adversário favorito) ele decide criar um novo herói para Metro City e assim ter com quem lutar. A questão é que, se mais uma vez as coisas não saírem exatamente como ele planejou, o seu gesto de “benevolência” pode virar ato de “malevolência”. É ver pra crer porque o poder em mãos (erradas) de um sujeito apaixonado é uma catástrofe, e torcer pra aparecer alguém capaz de dar um jeito na situação.


Conhecendo todos os percalços da vida do mirrado homem azulado, pra chegar onde quer chegar, não tem como o espectador não torcer pra que, pelo menos uma vez, o azar dê uma trégua e ele se dê bem (de verdade) na vida. A deliciosa animação tem muita ação e homenagens a heróis de HQ e, como é comum nas produções da DreamWorks, referências cinematográficas, como a dedicada ao Batman, numa cena engraçadíssima (pinçada dos filmes de Joel Schumacher, com seus closes nas “redundâncias” de Val Kilmer e George Clooney). Pode ser que os pequenos (e também alguns adultos que não se ligam em heróis) não entendam algumas piadas. Mas, estes momentos de descontração não interferem no ritmo ou na compreensão narrativa que convida o público a uma saudável (e profunda) reflexão sobre o que é ser e ter. Vale ressaltar também a divertida e bem humorada trilha sonora que, de enrosco em enrosco, pode até emocionar.

Megamente tem excelente roteiro de Alan J. Schoolcraft e Brent Simons e uma qualidade técnica impressionante (repare na água da chuva que corre pelo asfalto enquanto Rosane caminha pela rua). A versão em 3D só não é perfeita por conta da insossa dublagem brasileira. Mas, como quem prefere filmes dublados nem repara na falta de vida dos “dubladores”, tudo bem. Não se pode vencer sempre!

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