Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, EUA, Espanha, 2009), de Woody Allen, é mais um daqueles mix que só ele sabe fazer: dramático, engraçado, melancólico, irônico, sensual. Só que, desta vez, um pouco mais triste e quase sem esperança de que “tudo” (ainda) pode dar certo, já que nem “tudo” sai como os seus personagens esperam. Sonhadores (às vezes fúteis), eles se atropelam nos seus desejos (pessoais, sexuais, profissionais). Surpresas acontecem na vida real e na tela de cinema, queiram ou não as gentes de cá ou do lado de lá da ficção.
Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos (You Will Meet a Tall Dark Stranger, EUA, Espanha, 2009), de Woody Allen, é mais um daqueles mix que só ele sabe fazer: dramático, engraçado, melancólico, irônico, sensual. Só que, desta vez, um pouco mais triste e quase sem esperança de que “tudo” (ainda) pode dar certo, já que nem “tudo” sai como os seus personagens esperam. Sonhadores (às vezes fúteis), eles se atropelam nos seus desejos (pessoais, sexuais, profissionais). Surpresas acontecem na vida real e na tela de cinema, queiram ou não as gentes de cá ou do lado de lá da ficção.
Sagaz, enquanto rolam os créditos iniciais (e finais) rola a música tema de Pinóquio, clássica animação da Disney, ganhadora de dois Oscars em 1941 (melhor trilha sonora e melhor canção): When You Wish Upon a Star (de Leigh Harline e Ned Washington): When you wish upon a star/ Makes no difference who you are/ Anything your heart desires/ Will come to you (…) If your heart is in your dream/ No request is too extreme/ When you wish upon a star/ As dreamers do (…) Fate is kind/ She brings to those who love/ The sweet fulfillment of/ Their secret longing (…) Like a bolt out of the blue/ Fate steps in and sees you through/ When you wish upon a star/ Your dreams come true. A balada fala que ao fazer um pedido a uma estrela, não importa quem você seja, se o pedido for de coração, ele será atendido. A versão de Leon Redbone é tocante e antes que o espectador comece a se debulhar em lágrimas, lembrando das peripécias do menino de madeira que virou menino de verdade, uma frase Shakespeareana: A vida é cheia de som e fúria, mas no final não significa nada, encerra o prólogo.
No palco armado, numa Londres em qualquer lugar do mundo, cada personagem choraminga sua dor, ciente do seu ponto de fuga. Helena (Gemma Jones), na meia idade, não aceita a separação e busca respostas (pagando e bebendo para ouvir o que quer) nas consultas a uma futuróloga charlatã, que lhe garante que ainda vai encontrar um homem alto e moreno (do título original). O ex-marido Alfie (Anthony Hopkins) acredita poder recuperar a juventude perdida e, na tolice dos “enta”, busca o “afeto” de uma garota atriz/acompanhante: Charmaine (Lucy Punch). A filha do casal, Sally (Naomi Watts), com o casamento em crise, busca a felicidade no trabalho (enquanto não conquista a independência financeira), sonhando com o amor do patrão Greg (Antonio Banderas). Roy (Josh Brolin), marido de Sally, é um escritor (frustrado) de um sucesso só que, infeliz no amor e na profissão, se apaixona pela vizinha de vermelho Dia (Freida Pinto). Acreditar em si mesmo exige um pouco mais do que força de vontade. Caso contrário, a rasteira é certa.
Nesta nova trama de Woody Allen, o espectador cai de paraquedas no seio de uma família pra lá de complicada. Cada um remói seu problema achando que a culpa é sempre (a falta de complacência) do outro. Um ciclo vicioso que começa e termina em Helena. Se há muita verdade nos desejos dos personagens (amor, sucesso, felicidade, trabalho, filho, casamento), há também muito jogo de cena, pra enganar a solidão e as (pequenas?) frustrações cotidianas. Helena se consulta com uma vidente cartomante (que lhe prevê um futuro promissor) porque é muito mais barato (e produtivo) do que se consultar com um psicanalista (que não lhe vê futuro algum). Crédulos ou incrédulos cada um se deixa cegar pelo egocentrismo. O amanhã pode estar nas mãos do Acaso, do Destino ou das Cartas de um Tarô, e o tal homem alto e moreno, não passar de uma metáfora.
Apesar de todo o seu ceticismo em Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos, não acho que Woody tenha perdido a mão como diretor ou roteirista, como alegam os seus detratores. É um drama curioso e, dependendo do estado de espírito de espectador, bem engraçado. Talvez esse riso (não digo gargalhada) venha depois da exibição, ao se lembrar de alguma passagem, principalmente nas trocas de palavras e farpas entre Helena, Sally, Roy. Os atores estão ótimos e a trilha sonora é maravilhosa. Para fãs (ou não) é mais um bom filme com a assinatura de um mestre cinematográfico em constante questionamento (social, filosófico, moral, religioso...). Ah, e de brinde ainda tem boas, divertidas e dramáticas reviravoltas. O público não perde por esperar para ver se (afinal) o novo livro de Roy vai fazer mais sucesso que o primeiro (no surpreendente final).
Ao fim da sessão, imediatamente me lembrei da música As Aparências Enganam. Acho que ela poderia tranquilamente encerrar o filme. Diz a bela canção, de Sergio Natureza e Tunai, imortalizada por Elis Regina: As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na fogueira das paixões/ Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague/ Se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são/ O alimento, o veneno, o pão, o vinho seco, a recordação/ Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver/ As aparências enganam, aos que odeiam e aos que amam/ Porque o amor e o ódio se irmanam na geleira das paixões/ Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele/ Se ha neve cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser/ Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar/ Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor/ As aparências enganam, aos que gelam e aos que inflamam/ Porque o fogo e o gelo se irmanam no outono das paixões/ Os corações cortam lenha e, depois, se preparam pra outro inverno/ Mas o verão que os unira, ainda, vive e transpira ali/ Nos corpos juntos na lareira, na reticente primavera/ No insistente perfume de alguma coisa chamada amor.
Joba, vi o filme por sugestão sua, na terça-feira aqui em Sampa. Adorei. Há dois dias revejo cenas na cabeça. Acho que finalmente Woody amadureceu. E a resenha que você escreveu é muito boa. Ela dá uma ótima idéia do que é o filme, sem falar na lembrança certeira da letra de As aparências enganam. Ouço Elis, mentalmente, fechando seu texto. Obrigado, amigo. E fique sempre por perto.
ResponderExcluircarlos
Olá, Carlos.
ResponderExcluirObrigado pela presença e
boníssima estada em Sampa.
Abração.
T+
Joba