quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Crítica: O Último Prosecco

 

Cine Clube Italiano

O ÚLTIMO PROSECCO

24 a 30 de setembro de 2021

online e gratuitamente

(links: texto em laranja)

 A quarta edição do Cine Clube Italiano exibirá, online e gratuitamente, entre os dias 24 a 30 de setembro de 2021, para assinantes e não assinantes do streaming À LA CARTE, em parceria com o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo, o filme O Último Prosecco (Finché c'è Prosecco c'è Speranza, 2017), de Antonio Padovan. No dia 29 de setembro de 2021, às 18h30, acontece no canal do YouTube do À LA CARTE, um imperdível Bate-Papo, sobre o filme, com a jornalista Neusa Barbosa¹ e Leo Mendes², gerente de inteligência do Belas Artes Grupo.

 

O ÚLTIMO PROSECCO

(Finché c'è Prosecco c'è Speranza)

por Joba Tridente 

Já há um bom tempo venho assistindo a comédias que não me satisfazem no humor..., ou melhor, pela falta de humor. Algumas tidas como hilárias (em seus países de origem) não têm despertado nem sequer um sorriso amarelo. Não sei se com a idade fiquei (certamente!) mais exigente com o humor e ou se o humor atual é que está tão sofisticado (e regional) que não consigo entender as gags. Mas, como dizem que nem tudo está perdido quando resta uma esperança (ou Prosecco) para a felicidade do riso, arrisquei e acabei me encantando com a comédia italiana de mistério O Último Prosecco (Finché c'è Prosecco c'è Speranza / Enquanto houver Prosecco haverá Esperança, 2017), de Antonio Padovan..., um dos filmes mais despretensiosos e cativantes que vi recentemente. 

Bêbado no último dia de batalha! 


Baseado no romance Finché c'è Prosecco c'è Speranza (2010), de Fulvio Ervas, que escreveu o roteiro em parceria com Antonio Padovan e Marco Pettenello, O Último Prosecco acompanha o Inspetor Stucky (Giuseppe Battiston, excelente) nas investigações do dramático suicídio do Conde Desiderio Ancillotto (Rade Šerbedžija) e de misteriosos assassinatos, nas belíssimas colinas de Conegliano e Valdobbiadene, onde o Ancillotto (que deixou uma mensagem: “Bêbado no último dia de batalha!”) produzia o melhor Prosecco e cuja produção vinícola estava prejudicada com a emissão de resíduos de uma fábrica de cimento instalada nos arredores. 


Recém-nomeado para o cargo e sem nenhuma experiência em investigação policial, o gordinho simpático ítalo-persa Stucky, conduz as investigações no seu próprio ritmo. Nem mesmo Sergio Leonardi (Roberto Citran), chefe de Stucky, consegue apressar os passos do afável policial. Assim, acolhido pela bela paisagem e driblando aldeões arredios e tipos peculiares, como o louco do cemitério Isacco Pitusso (Teco Célio, ótimo) e integrantes da Irmandade de Produtores de Prosseco, entre outros..., o tranquilo Inspetor vai tropeçando numa prova (familiar) aqui e num grande incômodo (empresarial) acolá, na certeza de colocar na mesa todas as peças de um quebra-cabeça relacionado ao meio ambiente e ao capitalismo. 


Com planos longos sobre a inebriante paisagem bucólica, O Último Prosecco..., que provoca riso sincero (sem ser hilário), que é nostálgico (sem ser piegas), que é romântico (sem ser grude), que é inteligente (sem ser arrogante), que é despretensioso (sem falsa modéstia) em sua narrativa,..., se contrapõe à sisudez habitual dos filmes de suspense. É muito agradável ver o Inspetor Stucky, com seu jeito manso e feito um bom vinho que precisa de tempo para ser apurado, agir com toda tranquilidade do mundo para driblar os aldeões e suas idiossincrasias na tentativa de resolver o seu primeiro imbróglio criminal com nós demais para desatar e muita gente poderosa para atrapalhar. 


Enfim, embora não exiba cenas de violência explícita e de perseguição e opte por um thriller com boa dose de comicidade, O Último Prosecco, com a bela fotografia de Massimo Moschin emoldurando convidativamente as regiões vinícolas do Vêneto, tem roteiro consistente, sensível e perspicaz o suficiente para surpreender e cativar o espectador com uma história pertinente e que, na sua essência, remete a recentes denúncias de vinicultores do sul do Brasil de que a pesticida usada por agricultores vizinhos é trazida pelo vento e afeta a qualidade das suas vinhas. Um embate que embaça taças, avinagra vinhos, amarga paladares e parece estar bem longe do fim. Quanto ao filme, este deve ser visto sem moderação. 


Para Antonio Padovan, que não conseguiu investimento de nenhuma esfera de governo e nem de produtores do Prosecco produzido na região, onde se passa a trama, para realizar o filme: O Último Prosecco, é uma investigação repleta de reflexões sobre o futuro que queremos. Uma ode ao ir devagar, saboreando a vida. O retrato de um espaço emaranhado entre o progresso e a tradição. A relação entre gerações, viagens, diversidade. Amor, mas não do tipo banal. O valor da beleza, mas sem presunção. Uma carta de amor a um território emaranhado no progresso e na tradição, excelência e vergonha. Uma carta sincera. Escrita com o coração nas mãos. 

O Último Prosecco recebeu o Prêmio de Melhor Cinematografia, Mercado e Festival Internacional de Cinema da Cidade do Cabo (2017); Menção Especial: Mention spéciale du public no Festival de Cinema Italiano de Toulouse (Les rencontres du cinéma italien à Toulouse,2017); Nomeações ao Prêmio Mario Verdone (um dos três finalistas no 19º Festival de Cinema Europeu de Lecce (2018); Nastro d'Argento (Silver Ribbon, Sindicato Nacional Italiano de Jornalistas de Cinema, 2018): Melhor Ator (Giuseppe Battiston); Globo de Ouro Italiano (2018): Melhor Primeiro Longa-Metragem e Melhor Roteiro. 


NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 


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O ÚLTIMO PROSECCO

bate-papo ao vivo 


Na quarta-feira, 29 de setembro de 2021, às 18h30, no canal do YouTube do À LA CARTE, acompanhe o imperdível bate-papo, ao vivo, sobre o filme O Último Prosecco, com a jornalista Neusa Barbosa¹ e Léo Mendes², gerente de inteligência do Belas Artes Grupo. 

¹. Neusa Barbosa é jornalista e escritora. Trabalhou nos jornais Folha de S.PauloO Estado de S. Paulo e na revista Veja S. Paulo. Criadora e editora do site Cineweb, um dos pioneiros em cinema na internet, em 2000. Foi colaboradora do jornal Valor Econômico, revista Bravo  e da agência Thomson Reuters. Membro e fundadora da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) e do coletivo Elviras de Mulheres Críticas de Cinema. Integrante do comitê de seleção do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade desde 2006. 

². Léo Mendes iniciou sua experiência cinematográfica como gerente e assistente de programação no extinto Cineclube Oscarito, em São Paulo, de 1989 a 1991, passando a trabalhar na distribuidora independente Pandora Filmes, ainda em 1991, onde permanece até hoje como consultor de aquisições internacionais. Paralelamente, atuou como programador da sala de cinema do Esporte Clube Banespa, de 2002 a 2003; em outubro de 2017, assinou a curadoria da Mostra Incuráveis, dedicada a filmes com temática LGBT no cinema Belas Artes; foi curador da exposição itinerante de cartazes cinematográficos intitulada Um Século de Cinema em Cartaz – De 1915 a 2015, que foi vista de 01 de agosto a 31 de outubro entre as estações Luz, Paulista e Fradique Coutinho do Metrô de São Paulo e atua como programador do Noitão Belas Artes desde 2004. 

Cine Clube Italiano

O Cine Clube italiano é uma programação realizada pelo streaming de filmes À La Carte e o Instituto Italiano de Cultura de São Paulo. De maio a novembro de 2021 serão realizadas sete edições mensais que trarão filmes italianos recém-lançados e inéditos no circuito comercial brasileiro que serão seguidos de uma programação especial. Os filmes terão acesso gratuito por uma semana no À LA CARTE e as programações acontecerão no canal do YouTube do streaming. 

Para as próximas edições estão programados os filmes O Grande Espírito/Il Grande Spirito e Duas Famílias/I Predatori. 

O Instituto Italiano de Cultura de São Paulo (ou Istituto Italiano di Cultura di San Paolo) é um órgão oficial do Governo Italiano. Foi fundado em 1950 e se dedica a promover a cultura e a língua italiana, além de enriquecer o panorama cultural em sua área de ação com iniciativas voltadas à cooperação ítalo-brasileira neste setor. Localizado em um histórico casarão no bairro de Higienópolis, o Instituto promove concertos, exposições, sessões de cinema, palestras e encontros, e possui uma biblioteca com mais de 23 mil títulos, a maioria em língua italiana, disponíveis para o público. O Instituto é também fonte de informações sobre o país, cursos de língua italiana ministrados na Itália e bolsas de estudo outorgadas pelo Governo Italiano. 

À LA CARTE é um streaming (por assinatura) de filmes pensado para quem ama cinema de verdade. Seu catálogo, que já conta com cerca de 400 títulos, e inclui filmes de todos os cantos do mundo e de todas as épocas: contemporâneos, clássicos, cults, obras de grandes diretores, super  premiados e principalmente aqueles que merecem ser revistos e que tocam o coração dos cinéfilos. Além de pelo menos quatro novos filmes que entram semanalmente no catálogo, há também a possibilidade do aluguel unitário, que são os Super Lançamentos: um espaço para filmes que estreiam antes dos cinemas; simultâneos ao cinema; filmes inéditos no Brasil, entre outras modalidades. Outro diferencial são as mostras de cinema, recentemente o À LA CARTE trouxe especiais dedicados à cinematografia francesa, italiana, coreana, espanhola, britânica e suíça. O À LA CARTE foi criado no final de 2019 e integra o Belas Artes Grupo, que inclui também a Pandora Filmes e o Cine Petra Belas Artes, um dos mais tradicionais e queridos cinemas de rua de São Paulo.

 

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