terça-feira, 14 de setembro de 2021

Crítica: Família

 

F A M Í L I A

2º Festival de Cinema Russo no Brasil

16/09/2021 a 10/10/2021

online e gratuito

link: textos em laranja 

O argumento família é batido, mas, conforme a mão que escreve o roteiro e o olhar que dirige a trama pode resultar em filme até divertido. Hollywood é viciada no assunto que aceita qualquer tipo de embalagem: comédia, suspense, terror, policial, ficção científica..., sobra até para séries na tv e no streaming. O que não quer dizer que só os norte-americanos cometem tal entretenimento. No cinema também encontramos a emotiva família italiana, a liberal família francesa (com triângulo amoroso e masturbação mental política), a dramática japonesa, a tensa sul-coreana, a melodramática argentina, a esculhambada brasileira, por exemplo. Falo daquelas produções mais próximas, daquelas que chegam à Terra Brasilis. Em mostras e festivais de cinema, já assisti ao tema em tramas realizadas nos mais longínquos países do mundo. Porém, uma vez que o mais comum ao foco é o gênero comédia, confesso que (no momento) não me lembro de ter visto algum filme russo (geralmente sisudo e ocupado com temas de guerra e ou épicos) se aventurado em tal comicidade. Ao menos até agora, com Família (Родные/Parentes, 2020), de Ilya Aksyonov, que será apresentado no 2º Festival de Cinema Russo no Brasil, de 16 de setembro a 10 de outubro de 2021, em sessões online e gratuitas via serviço de streaming Spcine. Confira, abaixo das considerações críticas, as sinopses dos oito filmes russos programados para o festival.

 


F A M Í L I A

por Joba Tridente 

O enredo de Família trafega em mão dupla, por alguns dias, na vida da Família Karnaukhov que, numa bucólica manhã, desacelera, para no acostamento do desjejum, e se torna refém do patriarca Pavel (Sergey Burunov), que obriga a esposa Natasha (Irina Pegova) e os filhos Boris (Nikita Pavlenko), um inútil chamado de Bob (pelo pai), Nastya (Liza Monetochka), aspirante à cantora e compositora, mas sem nenhum talento, Sanya (Semyon Treskunov), um especialista em TI e que, junto com sua mulher Sonya (Katerina Becker), quer imigrar para Canadá, a acompanha-lo numa viagem ao Festival Grushinsky. 

“Os sonhos são as sementes das nossas ações” 

Como nenhum dos membros da família quer dar marcha à ré em suas rotinas, Pavel, que começou a dar valor à sua vida naquela manhã, revela a todos que tem uma doença grave, que lhe resta pouco tempo de vida e que, portanto, precisa realizar este último desejo: cantar, no famoso festival, uma canção que compôs. A notícia de fundir o motor de qualquer um acaba adiando os planos de imigração de Sanya e Sonya, o ensaio de Nastya, o jogo de vôlei de Bob, e a feitura de bolinhos tradicionais de Natsha..., e todos, em solidariedade a Pavel, com sua doença terminal, largam seus afazeres e embarcam numa minivan que sai ziguezagueando estradas russas afora. Fim? Não esse é só o prólogo! 


No desenrolar da faixa narrativa, a cada sinal de inconstância do patriarca, os membros daquela família disfuncional questionarão se fizeram a coisa certa ao embarcar no sonho aventureiro de Pavel. Dúvidas sobre possível chantagem e notícia falsa da doença persistirão por toda a viagem e virão à tona a cada cantada de pneu em paradas estratégicas que expõem o passado de Pavel que a família desconhecia. Um passado que pode explicar as ações inconvenientes de Pavel, cujos desvios de caráter o espectador vai conhecer ao longo do trépido trajeto. 

Com base no roteiro de Zhora Kryzhovnikov e Alexey Kazakov, a trama de Família está mais para um melodrama de estrada..., com pitadas de humor nem sempre engraçadas para quem não é russo e tampouco familiarizado (ôps!) com as suas idiossincrasias..., do que para uma comédia estradeira escrachada. Não é que faltem elementos ao gênero, é que o humor sempre varia de povo a povo e assim, as gags que funcionam para um público, não funcionam para outro. O que para um espectador (local) é hilário, para outro (estrangeiro) é enfadonho..., como a discussão sobre o recheio de um bolinho que lembra o pierogi polonês. Não é só questão de linguagem, mas de quintal da aldeia, que desvela um modo de vida oriental estranho aos dias de hoje de “abertura” ocidental, mesmo que visto por frestas na cortina de ferro e, portanto, apenas partes de um cotidiano extremamente nacionalista..., como as músicas (infantilizadas) cantadas por Nastya, com intenções políticas que beiram o ridículo. 


Enfim, Família segue fiel à cartilha (norte-americana?) de filmes de estrada recheados de confusões de gosto duvidoso e pautadas por trilha sonora grudenta (infelizmente, como é de esperar, nem todas as canções são legendadas). Os desvios de conduta de Pavel, por exemplo, que poderiam resultar em humor negro (internacional), acabam soando constrangedores em seu acúmulo (regional) estrada afora. Com um enredo flertando mais com a melancolia (doença terminal, passado obscuro) do que com o (esperado) humor, a trama (sentimental) não desperta muito mais que sorrisos (amarelos) e favorece algumas lágrimas..., enquanto o espectador aguarda o desfecho da viagem que vai mudando o itinerário, a trilha sonora e a reflexão: Pavel: E aí, esse Canadá é melhor do que aqui? Sasha: Com certeza não é pior. Pavel: Mas, melhor por quê? O que te falta aqui? Sasha: Tudo pai, liberdade, oportunidades. Pavel: Acredita mesmo nisso? Sasha: Não assisto TV, por isso acredito. Sim, nem sempre a realidade capital combina com a realidade interior no horizonte de cada um. 

 

NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.

  

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2º Festival de Cinema Russo no Brasil

16/09/2021 a 10/10/2021

online e gratuito 

A segunda edição do Festival de Cinema Russo no Brasil promete novos encontros com os personagens do cinema russo. São oito histórias poderosas, de diferentes gêneros, incluindo estreias deste ano, em sessões transmitidas pela Supo Mungam Plus, em parceria com a Spcine Play.

 


DOUTORA LIZA (Doctor Liza)

Ano: 2020

Gênero: drama biográfico

Direção: Oksana Karas

Elenco: Andrey Burkovskiy, Chulpan Khamatova,

Konstantin Khabenskiy, etc.

Duração: 120 min

Sinopse: Um dia na vida de Elizaveta Glinka, filantropa e fundadora do grupo de caridade Ajuda Justa. Ela planejava comemorar seus 30 anos de casamento em família, mas mesmo em um dia desses, ela não consegue desligar o telefone. A Doutora Lisa precisa ir à ferroviária para alimentar os sem-teto e visitar o Dr. Shevkunov, um amigo, para pegar morfina e dar a uma criança doente terminal. Por todo esse tempo, ela é vigiada pela polícia, cuja atenção tem sido atraída por essa filantropa extremamente enérgica, há muito tempo.

trailer: aqui  

 


A HISTÓRIA DE UMA NOMEAÇÃO

(The Story of an Appointment)

Ano: 2018

Gênero: drama histórico

Direção: Avdotia Smirnova

Elenco: Evgeni Kharitonov, Aleksei Smirnov,

Filipp Gurevitch, Irina Gorbatchova

Duração: 112 min

Sinopse: Uma história pungente e trágica sobre eventos dos quais o próprio conde Liev Nikolaevitch Tolstói é um participante. O tenente da capital, Grigory Kolokoltsev, inspirado por ideias avançadas, é enviado para servir em um regimento de infantaria, no qual ocorre um crime de guerra. O soldado, sobre cujos ombros recai a culpa, enfrenta um tribunal militar. Kolokoltsev pede ajuda ao conde Tolstói, que decide proteger os inocentes. Uma história comovente sobre a complexidade das escolhas e a lealdade aos próprios ideais. Baseada em eventos reais.

trailer: aqui

  


KID-E-CATS (Kid-E-Cats)

Gênero: animação

Criada por: Dmitri Vysotsky

Duração: 82 min

Sinopse: Kid-E-Catsé uma história sobre o dia a dia, relações e aventuras de três pequenos gatinhos curiosos: o gatinho Cookie, seu irmãozinho Pudim e sua irmãzinha, Candy. Na sua grande família, a vida nunca para: juntos, eles aprendem a expressar suas emoções, a apoiar-se mutuamente e a encontrar saídas para quaisquer situações, mesmo difíceis à primeira vista, com a ajuda da imaginação e dos conselhos dos pais. A série de animação é exibida no Brasil pela TV Cultura e o Festival de Cinema Russo apresenta uma compilação com 5 episódios.

trailer: aqui 

 


LUTA (Voy)

Ano: 2019

Gênero: documentário

Direção: Maksim Arbugaev

Duração: 78 min

Sinopse: LUTA é um documentário sobre futebol, mas não sobre aquele que estamos acostumados a assistir na TV ou jogar no quintal. É sobre o futebol no qual os jogadores são totalmente cegos. O filme fala sobre a seleção russa paralímpica de futebol para cegos, que se prepara para o evento mais importante de suas vidas, o Campeonato Europeu. A equipe tem apenas um objetivo, ganhar ouro a qualquer custo! Na preparação para o campeonato, o treinador e os jogadores enfrentam obstáculos significativos, que podem colocar seus sonhos em risco.

trailer: aqui

 


MASHA (Masha)

Ano: 2020

Gênero: drama

Direção: Anastasiya Palchikova

Elenco: Maksim Sukhanov, Anna Chipovskaya,

Polina Gukhman, Aleksandr Mizev

Duração: 84 min

Sinopse: Masha, uma menina de 13 anos, cresceu entre um ringue de boxe e as ruas de uma cidade russa provinciana, nos turbulentos anos 90. Seus amigos mais próximos são jovens que matam, roubam, assaltam e são odiados por toda a cidade. Mas para a menina, são o sal da terra e uma família que a ama e protege. Masha revela interesse pelo jazz e sonha em se tornar cantora. Tempos depois, Masha deixa sua cidade natal e se muda para Moscou, para tentar começar uma nova vida. Mas quando o passado a alcança, Masha se vê obrigada a retornar ao lugar onde passou sua infância. 

trailer: aqui 

 


NA PONTA (On the Edge)

Ano: 2020

Gênero: ação/ drama

Direção: Eduard Bordukov

Elenco: Svetlana Khodchenkova, Stasya Miloslavskaya, 

Sergei Puskepalis, Alexey Barabash, etc.

Duração: 115 min

Sinopse: A melhor esgrimista de sabre do mundo, Alexandra Pokrovskaya, é famosa, rica e feliz. Para entrar na história, ela só precisa dar um último passo: conquistar o ouro olímpico. Porém, seu caminho cruza o de Kira Egorova, uma garota provinciana de dezenove anos, que conquista Moscou da noite para o dia. Kira vence todas as competições e não sai das capas de revistas, ocupando o lugar de Pokrovskaya. Um confronto feroz começa, não apenas em torneios, mas também na vida real. As duas garotas são obcecadas pela vitória, e parece que nada pode detê-las. O mundo inteiro, com a respiração suspensa, observa o brilho de suas lâminas afiadas. E cada vez fica mais óbvio: esta luta está indo longe demais.

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PARENTES (The Relatives)

Ano: 2021

Gênero: comédia, drama

Direção: Ilya Aksyonov

Elenco: Sergey Burunov, Irina Pegova, Sergey Shakurov,

Semyon Treskunov, Liza Monetochka,

Nikita Pavlenko, Katerina Bekker

Duração: 100 min

Sinopse: Certa manhã, um pai de família decide realizar seu sonho de toda a vida: ir com sua família ao Festival Grushinsky para apresentar sua música. A família é forçada a aceitar o desejo de um pai tirano e embarcar em uma viagem por toda a Rússia. No caminho, enfrentam aventuras e vários desafios, passando por uma prova de amor em seu relacionamento, além de um importante encontro, que o pai esperou por vinte anos.

trailer: aqui 

 


SHEENA 667 (Sheena 667)

Ano: 2019

Gênero: drama

Direção: Grigoriy Dobrygin

Duração: 97 min

Elenco: Yuliya Peresild, Vladimir Svirskiy, Jordan Frye,

Yury Kuznetsov, Nadezhda Markina, Pavel Vorozhtsov

Sinopse: A cidade de Vyshny Volochyok tem como características estradas quebradas, neve e neblina. Na periferia, há um centro automotivo onde moram e trabalham o casal Olga e Vadim. Os dois têm um pouco mais de trinta anos, são pessoas simples e sérias, compartilhando alegrias e tristezas um com o outro - até o momento em que na vida deles aparece um intruso: a internet.

trailer: aqui

 



Festival de Cinema Russo é um projeto organizado pela ROSKINO com o apoio do Ministério da Cultura da Federação Russa. O RFF tem como objetivo conhecer os espectadores estrangeiros e apresentar a eles uma variedade de conteúdo russo contemporâneo, de longas-metragens a documentários e animações. Em 2020, o festival foi realizado em quatro países (Austrália, México, Espanha e Brasil) em formato online, reunindo mais de 120 mil espectadores. Em 2021, o RFF aconteceu na Argentina, Chile, Uruguai, Cazaquistão e Coreia do Sul. Para a indústria cinematográfica russa, este é o primeiro projeto online voltado a um grande público internacional. 

ROSKINO é um órgão estatal que representa a indústria russa de conteúdo audiovisual nos mercados internacionais; uma operadora nacional para a promoção de filmes, séries e animações, bem como para o potencial criativo de talentos russos no exterior e oportunidades de coprodução dentro da Rússia. A ROSKINO também atua como especialista do mercado e conselheira para criadores de conteúdo russo em sua promoção internacional; organiza programas de educação e coaching sob medida para produtores, diretores e atores russos. A ROSKINO promove o conteúdo russo nos principais mercados e festivais internacionais de cinema e organiza o Festival de Cinema Russo no exterior.  

Criada em 2016, a Spcine Play é a primeira plataforma de streaming pública do Brasil. Com uma programação selecionada e gratuita desde o início da pandemia, em março de 2020, hoje são oferecidos ao público mais de 250 títulos, entre filmes e séries, que podem ser acessados de qualquer lugar do Brasil. Deste total, 200 títulos são brasileiros. A curadoria exibe filmes das principais mostras e festivais de cinema de São Paulo, ação inédita entre serviços do gênero. O conteúdo fica acessível simultaneamente aos eventos - incluindo os virtuais - e segue disponível na plataforma. 

Spcine é uma empresa pública de fomento ao audiovisual vinculada à Secretaria Municipal de Cultura da Cidade de São Paulo. Atua como um escritório de desenvolvimento, financiamento e implementação de programas e políticas para os setores de cinema, TV, games e novas mídias. Seu objetivo é reconhecer e estimular o potencial econômico e criativo do audiovisual paulista e seu impacto em âmbito cultural e social.  

Russia Beyond é parceira de mídia para o Festival de Cinema Russo no Brasil é a principal porta de entrada para a Rússia seja em cultura, viagens, educação, idioma, negócios e muito mais.  Descubra mais em rbth.com.


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