MEU SANGUE É VERMELHO
por Joba Tridente
links: texto em laranja
Desde que os portugueses invadiram a Terra Brasilis,
nos idos de 1500, o território brasileiro vem sendo devastado, as nações
indígenas dizimadas e suas terras extorquidas para exploração sem limites da
madeira, da agropecuária, da agricultura, da mineração, do garimpo..., degradando
o solo. Tudo em nome do desenvolvimento insano e da ganância..., como se os
recursos naturais fossem inesgotáveis. Como se as vidas humanas usadas,
pisoteadas, anuladas para o lucro cada vez maior dos poderosos fossem nada. E
para os governos que, gestão após gestão, se renovam nas promessas vãs da reforma agrária e da demarcação de
terras indígenas, são nada, mesmo. E dificilmente o quadro mudará, já que
apenas se alternam os mandatários no poder governamental e no
socioeconômico..., independentes e/ou indiferentes às ideologias políticas. Só
resta aos oprimidos protestar, se mobilizar, fazer com que o seu grito por
mudanças reais, que políticos e especuladores querem mudo, crie eco no Brasil e
no mundo. Ainda que a mídia brasileira prefira ignorar as tragédias humanas
nacionais em prol das internacionais, é preciso gritar e tirar da letargia
providencial aqueles à frente dos poderes legislativo, executivo e judiciário.
Enquanto a enrolação do julgamento do Marco Temporal Indígena (aquela
acintosa tese defendida por ruralistas, incorporadoras e o atual presidente: “É uma pena que a cavalaria brasileira não
tenha sido tão eficiente quanto os americanos, que exterminaram os índios.”
- para ocupar (roubar) as terras indígenas) que, constitucionalmente é
anticonstitucional, continua, como se não houvesse amanhã para os plantadores
de soja e criadores de gado, grileiros, garimpeiros, madeireiros continuarem
roubando pertences daqueles a cada dia mais sem eira nem beira..., que tal
conhecer o documentário-manifesto Meu
Sangue é Vermelho, dirigido por Graci
Guarani, Marcelo Vogelaar, Thiago Dezan e Tonico Benites? O filme estreará dia 24 de setembro de 2021 e ficará disponível, por tempo e acessos
ilimitados, no Canal Vimeo.
O premiado documentário Meu Sangue é Vermelho acompanha alguns dias na vida do jovem Werá Jeguaka Mirim (Owerá)..., o ativista,
poeta e rapper Guarani M’bya que, aos treze anos, surpreendeu o Brasil e o
mundo ao mostrar uma faixa com os dizeres Demarcação
Já!, na abertura da fatídica Copa do Mundo
de Futebol no Brasil (2014)..., em visitas à lideranças de comunidades
indígenas no Maranhão e Mato Grosso do Sul, para falar de desapropriação de
terra e da violência cada vez mais rotineira de fazendeiros e seus jagunços que
aleijam povos indígenas, exterminam populações originárias à luz do dia. Entre
uma visita e outra, num respiro às revelações de crueldade, Owerá se encontra com o rapper Criolo, para mostrar suas composições,
que tratam desta inaceitável realidade brasileira, e fazer uma gravação
histórica.
Meu Sangue é
Vermelho traz cenas impressionantes da mobilização dos índios em Brasília e
na Bahia. As sequências na Praça dos Três Poderes, com indígenas carregando
caixões pretos (simbolizando a morte de indígenas) e lançando-os no espelho
d´agua, enquanto são recebidos à bala por militares é tão impactante quanto
revoltante. Ali, onde os direitos humanos também são desrespeitados, o
emblemático rastro de sangue que pintam no asfalto ilustra muito bem os ataques
impunes de jagunços e as cenas de covardia de policiais armados pra guerra no cumprimento
de ordens de despejo e/ou desocupação e/ou desapropriação. Arco, flecha,
pedaços de pau contra armas de fogo..., a intifada dos povos nativos humilhados.
São 500 anos de terror sem fim, pois, pelo que se vê
na (retórica) política, no decorrer dos séculos, é que governo algum se
interessa por demarcação de terra e reforma agrária, o lobby ruralista e industrial é volumo$o mais do que $uficiente para
atravancar qualquer medida nessa direção. Diante de um enfático discurso desenvolvimentista,
se algum político demonstrar algum interesse na questão, possivelmente é
promessa eleitoreira, promessa que ficará ao vento até as próximas eleições.
NOTA: As considerações acima são pessoais e,
portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de
carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003),
de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
ESTREIA ONLINE
Meu Sangue é
Vermelho (My Blood is Red, Brasil/Reino
Unido, 2020), que mostra, por meio do rap do Owerá, a dura realidade
indígena no Brasil, e traz, entre outros, depoimentos estarrecedores de Vincent
Carelli, historiador, antropólogo,
indigenista mundialmente reconhecido e idealizador do projeto Vídeo nas Aldeias;
e dos ativistas e líderes indígenas Sonia Guajajara e Inaldo Gamela, estreará no dia 24 de setembro de 2021 e
ficará disponível, por tempo e acessos ilimitados, no Canal Vimeo.
OS
PRODUTORES
Os dados de crescimento da violência contra indígenas
no Brasil são espantosos: até o início de 2020 o número de lideranças mortas em
conflitos de campo foi o maior em pelo menos 11 anos, segundo a Comissão
Pastoral da Terra (CPT). Tendo como principal motivo a desapropriação de terras
em favorecimento da expansão do agronegócio e pecuária - isso somado à
ocorrência da pandemia de coronavírus, em que o potencial de morte para estes
povos foi 16 vezes maior -, a causa pela sobrevivência indígena é urgente, representada
também pelas manifestações recentes no Congresso Nacional, em Brasília.
Por isso a união da produtora britânica Needs
Must Film com o rapper Owerá, da tribo brasileira Guarani M’bya, foi
importante para lançar um documentário que mostra ao mundo a realidade de
indígenas brasileiros. Movido por letras e batidas, o filme mostra a violência
brutal e o genocídio do qual esses povos são alvo; desapropriação de terras,
levando alguns deles a viverem na beira de estradas; perda de identidade, que
desencadeia depressão; a relação ancestral e com a natureza; desmatamento; e
outros. Este documentário é sobre extermínio de pessoas e a resposta de um
jovem músico sobre isso.
OS DIRETORES
Para Graci Guarani, Marcelo Vogelaar, Thiago Dezan e
Tonico Benites: “Somos um coletivo de
cineastas de muitas culturas que associam suas habilidades a um fim comum.
Nosso objetivo é fazer documentários de interesse humano de classe mundial que
tenham um elemento de empresa social incorporado ao processo de produção.
Fazemos isso em parceria com a comunidade cuja história estamos tentando
contar. Dessa forma, a comunidade pode se beneficiar materialmente do processo
de produção, mas, mais importante, pode manter um senso de propriedade em suas
histórias. Esta não é a visão da crise indígena pelo homem branco. Nossas
imagens mais bonitas são obras de diretores de fotografia indígenas, como
Graciela Guarani, Inaye Lopes, Tonico Benites e Alexandre Pankararu. E o
produto de cooperativas de cineastas indígenas como o Coletivo Aty Guasu e o Coletivo Olhar da Alma. Celebramos as
lentes indígenas!
Meu Sangue é
Vermelho não possui dublagem nem
narração, para que as pessoas contem suas próprias histórias, em suas próprias
vozes. Então, de muitas maneiras, os diretores deste filme são os povos
indígenas do Brasil. Foram eles que nos disseram o que deveríamos filmar - o
que era importante para eles. Deixamos eles falarem diretamente com você, cara
a cara. Nós celebramos as lentes indígenas e, portanto, o documentário
apresenta também, orgulhosamente, a obra de Thiago Dezan - cineasta residente
da Comissão Interamericana de Direitos Humanos.”
OS FESTIVAIS
Meu Sangue é
Vermelho, produzido pela
britânica Needs Must Film, foi apresentado em diversos festivais
internacionais durante o ano de 2020, onde recebeu 25 indicações a prêmios,
levando 17 deles. Entre os destaques estão: Filme do Festival, no Festival de
Nottingham (Nottingham, Reino Unido); Melhor Edição e Melhor Trilha Sonora no
Milestone Worldwide Film Festival (Battipaglia, Itália); Melhor Filme Ambiental
e Melhor Documentário no Crown Wood International Film Festival (Kolkota,
India); Melhor Filme no Buenos Aires International Film Festival (Buenos Aires,
Argentina); Melhor Trilha Sonora no London Independent Film Awards (Londres,
Reino Unido); Melhor Documentário no Beyond the Curve International Film
Festival (Paris, França); entre outros; além de méritos e menção honrosa no Twilight
Tokyo Film Festival (Tokyo, Japão) e IndieFEST Film Awards (Califórnia, EUA).
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