quarta-feira, 18 de março de 2015

Crítica: O Duelo


Lançado em 1961, o romance A Completa Verdade Sobre as Discutidas Aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, Capitão-de-Longo-Curso, ou simplesmente Os Velhos Marinheiros, de Jorge Amado (1912-2001) não tardou a ganhar notoriedade e a ter seus direitos de adaptação cinematográfica vendidos à Warner Bros.  Ainda nos anos 1970, o romance teria sido roteirizado por Frank Pierson (1925-2012), mas jamais filmado. Em 2010, praticamente cinquenta anos após o seu lançamento, o diretor Marcos Jorge assumiu o projeto, assinando também o roteiro de Os Velhos Marinheiros, rebatizado de O Duelo.

O DueloUma história onde a verdade é mero detalhe (Brasil, 2015), gira em torno de dois contadores de histórias. Ou melhor, de um contador de histórias, o Capitão Vasco Mosco de Aragão (Joaquim de Almeida), que relata as suas aventuras amorosas e heroicas, vividas em alto mar e em países distantes, para uma encantada plateia de moradores da pequena Periperi, no litoral baiano, para onde ele se mudou recentemente. O outro é o fofoqueiro ciumento Chico Pacheco (José Wilker), falastrão local que, não suportando o sucesso do recém-chegado e duvidando daquelas histórias de marinheiro, resolve investigar para provar que não passam de lorotas.


Se no livro o enredo de Jorge Amado é promissor, na tela a adaptação de Marcos Jorge deixa a desejar. São as opções de percurso! A cada história de Aragão a malemolência do ritmo claudica aqui e ou acolá, levantando o pó do mofo que logo reassenta. Os causos de Aragão e as revelações de Pacheco até soam curiosos, mas o didatismo é tanto que não tardam a perder o interesse. Nem mesmo os fragmentos “românticos” dão bom engate. Falta safadeza, falta desejo, falta ginga, falta tesão..., sobra carolice! As cenas de sexo e ou de sedução são meramente ilustrativas. A sensação é a de que, por mais que se lance ao mar, o (con)texto na sai da praia dos lugares comuns da obra de Amado e tampouco das limitadas adaptações cinematográficas.

Híbrido de fantasia (?), com uma pitada de drama e sexo, e meia pitada de humor, O Duelo parece feito a toque de caixa. A trama simplória, que se desenrola em três atos (histórias de Aragão; desvelação de Pacheco; prova de Capitão), com diálogos pouco inspirados e velhas metáforas-clichês, subestimam a inteligência do espectador. Excetuado a sequência engraçadinha na embaixada portuguesa, não há espaço nem para um sorriso amarelo. Não fosse a irritante e ensurdecedora trilha sonora, se sobrepondo ao estranho áudio-robótico da voz (seca e áspera) do elenco, principalmente de Almeida e Wilker, seria fácil pegar no sono. Quanto aos efeitos especiais..., acho que os recursos não eram suficientes nem para um bom recorte de máscaras.


Todavia, nem tudo são pérolas de plástico em O Duelo. Há que se destacar a fotografia de José Roberto Eliezer, a arte de Marcos Flaksman e, ainda que remeta ao fascinante O Fundo do Coração (One from the Heart, 1982) de Ford Coppola, as bem resolvidas fusões de cenários e planos. O elenco faz a diferença nas performances de Joaquim de Almeida, Patrícia Pillar e de um José Wilker livre da síndrome de “caras e bocas” de Jack Nicholson, que o caracterizou nos últimos trabalhos.

Acho que é isso. Como a versão (antiquada e marola) de Marcos Jorge não me arrebatou, minha atenção se voltou para os deslizes técnicos. O que não quer dizer que O Duelo não tenha lá seus argumentos ocultos (a mim) para agradar (ou não) aos leitores (ocasionais) de Jorge Amado.


2 comentários:

  1. Ainda não assisti, portanto não posso comentar o filme, mas em função do que li, acho válido colocar aqui um comentário que ouvi de um dramaturgo baiano, feito logo após o filme Quincas Berro D'água: "o diretor ideal pra adaptações do Jorge Amado seria o Kusturica". Tive que concordar.

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    1. ..., então, Merege..., talvez um olhar estrangeiro pudesse tirar Jorge Amado do lugar comum, da mesmice que faz a gente pensar que, de filme a filme parece que a gente esta vendo o mesmo filme a filme..., ou seja, uma continuação sem fim. ... depois de assistir ao O Duelo, reapareça para dar a sua opinião. ..., grato!

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