De Luc Besson gosto de Subway (1985), de Imensidão
Azul (1988). Ao ler o pressbook de Lucy,
achei que o filme estaria à altura (não esperava que superasse!) do meu
favorito e seu melhor trabalho: O Quinto
Elemento. Confesso que ao sair da Cabine de Imprensa, achei que seria
melhor processar as ideias antes de emitir alguma opinião sobre o que tinha
visto. O veredicto apressado: insanidade total.
Insanidade? Sim! Lucy (Lucy, França,
2014), de Luc Besson, é uma ficção
pseudocientífica policial tresloucada com pé no acelerador, dedos no gatilho e
totalmente sem cabeça. Ôps! Ôps? A trama “discute” a possibilidade do homem,
que erroneamente dizem usar apenas 10% do cérebro, conseguir usar 100% (o que já
é feito). Como sair de 10% pra 100%? Lucy
(Scarlett Johansson) é uma estudante
americana em Taipei (Taiwan) que, num rela-rela com seu namorado basbaque, se
vê presa (fugir, nem pensar!) a uma maleta com droga e, na (con)sequência,
prisioneira do chefão do crime Jang (Choi Min-sik), que a sequestra e a
transforma em mula do potente alucinógeno CPH4,
que pretende despachar para Paris, Roma, Berlin.
Todavia, num incidente (absurdo, dado o valor do
produto!) seu corpo absorve a droga e rapidamente ela começa a despertar os 90%
do cérebro adormecido e a desenvolver habilidades sobre-humanas. Acreditando
(?) ter apenas 24 horas de vida, Lucy
decide viajar para a França, a fim de se consultar com o neurocientista Samuel Norman (Morgan Freeman), que estuda a potencialidade do cérebro humano para
além dos 10%..., e de se encontrar com o policial francês Pierre del Rio (Amr Waked),
que está no encalço dos outros mulas a
caminho da Europa.
Como sou um ser 100% pensante, mas com a memória
falha em 10%, talvez não consiga enumerar todas as “referências” e “homenagens”
do produtor, roteirista e diretor Besson aos filmes que precederam a Lucy. Deixa-me ver, a minha lembrança
mais antiga é a do Viagens Alucinantes
(1980), de Ken Russel e a mais recente - passando por AKIRA (1988), de Katsuhiro Otomo e Matrix (1999), de Andy e Lana Wachowski - é do ótimo Sem Limites (2010), de Neil Burger.
Ainda divagando sem critério, cito o belíssimo Ela (2013), de Spike Jonze, o descartável Transcendence
(2014), de Wally Pfister, que trocou fiação com Geração Proteus (1977), de Donald Cammell e O Passageiro do Futuro (1992), de Brett Leonard. É melhor acabar
logo com a dor de cabeça finalizando com O
Cérebro (trash de 1988), dirigido por Ed Hunt.
Se bem que Luc Besson pode não conhecer (?)
nenhum dos filmes que citei. Como se sabe, tem muito diretor de cinema que vê
(e depois revê) apenas os próprios filmes. O que não tem muita importância, já
que o grande público também tem memória curta. Mas, enfim, o frenético Lucy, de francês, tem apenas o seu
diretor. O resto é tipicamente clichê e previsibilidade norte-americana, com
uma pitada hard-core sul-coreana: tiroteio gratuito; correria; perseguição de
carro na contramão (ah!) e sob marquises (oh!) e entre pessoas (ih!); sadismos etc.
A trama insana (ou vice-versa) tem mais furos
que o queijo suíço Batman (2012)
de Christopher Nolan. O que quer dizer que suscita muito mais “por quês”: Se Lucy tem todo esse poder, por que agiu e
ou não agiu assim? Porque ela matou fulano e não matou beltrano? Por que esse
sujeito ainda está vivo? Porque a polícia francesa não prendeu os traficantes? Óbvio
que se Luc respondesse a todos os “por quês” faria um filme diferente. Possivelmente
melhor e não um arremedo de produções estadunidenses do gênero, cujas situações
o espectador (memória 100%) já viu trocentas vezes. Bom, mas há que se pensar
no espectador (memória 10%) que nunca viu, no cinema ou na tv, perseguições de
automóveis, carro batendo ou dando cambalhotas ou voando, tiros a queima roupa
ou troca de tiros em lugares públicos, matança de inocentes etc..., não é?
Honestamente? Não!
Lucy
não é o primeiro e com certeza não será o último filme a falar de drogas (leves
ou pesadas) reais ou fictícias, como a CPH4,
de Besson, e dos seus efeitos colaterais. Também porque parece haver um público ávido
por “tramas” sobre a belicosidade do tráfico e traficantes. Algumas produções
podem até “confundir” o público com a glamourização do tema, mas nunca é demais
lembrar que (qualquer) droga vicia e overdose não transforma o usuário em alguém
superpoderoso (como Lucy)...,
overdose mata. Por falar nisso, nunca consegui entender porque quando um
personagem está chapado, bêbado, em cena, quem vê tudo fora de foco e fora de
oderm é o espectador e não ele.
Pastiche do gênero policial sci-fi dramático norte-americano, Lucy não apresenta novidade nem na direção, que embaralha
“discursos” ou “tempo” ou “cérebro” para parecer inteligente. Da retórica
inicial: “A vida nos foi dada há um
bilhão de anos. O que fizemos com ela?” à retórica final: "A vida nos foi dada há um bilhão de
anos. Agora você sabe o que fazer com ela."..., o roteiro de
Besson é pretensioso e a sua analogia com o fóssil Lucy, querendo ir onde o 2001:
Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, já esteve há muito tempo, é
tola. A metaforização animal/homem/universo (do prólogo ao epílogo) é piegas.
Pontos positivos: elenco protagonista (Johansson
tem carisma e fã clube e Freeman status), ainda que o personagem Samuel Norman, de Morgan Freeman, seja o
mesmo Joseph Tagger, de Trancendence;
fragmentos do mundo animal; parte dos efeitos especiais; a metragem de 90
minutos, que nos livra de 30 minutos ou mais de encheção de saco e idiotices; a ausência de
humor, que poupa olhos e ouvidos dos espectadores de piadas escatológicas
hollywoodianas.
Considerando que é difícil saber o que é
pior, se o script imbecil que subestima o espectador (100%) ou se a narrativa
que faz o espectador (10%) se sentir esperto por “antecipar” os acontecimentos
clichês; que há nada de novo na tela, a não ser um au revoir sutileza europeia..., o meu veredicto tranquilo:
insanidade total.
PS: Apesar
da história e do desfecho, a irresistível Lucy
In The Sky With Diamonds, de Lennon e McCartney, não faz parte da trilha
sonora de Eric Serra. Seria óbvio demais! Atenção:
Confira a letra só após o filme..., senão vira spoiler.
Concooooooooooooooooordo com toda a sua crítica. Assistir o filme e só me veio a sensação de mais do mesmo, aquela ação típica. E também, o filme passa uma sensação de que vai responder várias perguntas, pro final, acontecer o contrário :P
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