quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Crítica: O Que Será de Nozes


Cinema tem disso, mexe e vira e um velho assunto volta..., às vezes muda apenas o gênero. O clima de O Que Será de Nozes, de Peter Lepeniotis, não é exatamente o do tradicional film noir, mas a trama policial, ainda que burlesca, sabe onde fica a fonte.

O Que Será de Nozes (The Nut Job, Canadá, Coréia do Sul, EUA, 2014), que em fase de produção ganhou o simpático teaser Nuts & Robbers (2012), é baseado no premiado curta Surly Squirrel (2005), também dirigido por Lepeniotis. A alucinada história de bandido e mocinho (ou bandido e bandido) se passa na década de 1950, nos EUA.
  

É outono no Liberty Park. Os animais roedores, sob o comando do guaxinim Raccoon, juntam comida para o inverno quando um acidente, envolvendo o egoísta esquilo Surly, acaba comprometendo o armazenamento. Expulso do grupo e do parque, o individualista Surly está à procura de um novo lar e comida quando dá de cara com uma loja de nozes e decide roubá-la. O problema é que, além de servir de fachada para uma gangue de humanos, que pretende assaltar um banco próximo, a loja é guardada pela cadela Preciosa. É uma empreitada perigosa e ele tem que decidir se age sozinho e ou se divide a tarefa e o lucro com seus ex-companheiros: o inocente rato Buddy, a intrépida esquila Andie e seu parceiro narcisista Grayson..., e o diversificado bando que o expulsou.


O roteiro, que não esconde as expectativas de virar franquia, é razoável. Alguns tropeços acontecem aqui e ali, mais pela indefinição do público alvo. Se falha, ao insistir, por exemplo, no humor escatológico (peidos e arrotos), acerta, na ação pastelão (Looney Tunes) e na diluição da violência (forte no curta). Em alguns momentos surpreende com sequências inteligentes, como a do entrelaçamento (num mesmo porão) das duas histórias de assalto: a dos humanos ao banco e a dos roedores às nozes.


Produtoras europeias e sul-coreanas vêm se esforçando para se destacar num universo em evidência e ainda com pleno domínio da Pixar e DreamWorks, que atualmente se distinguem mais pela história do que pela primorosa técnica. O Que Será de Nozes tem bom padrão técnico e em alguns momentos fica bem acima da média. O desenho dos personagens (para o longa) melhorou e muito, mas não sei se a mudança (incômoda?) de característica e personalidade de Buddy, agora mudo (?) e gentil, vai agradar aos fãs do curta. Será que a “metamorfose” de Buddy foi para diminuir (em um?) o número de vilões e cair nas graças da criançada? Outro que sofreu mudança, pra melhor (com quem você acha que ele se parece de perfil?), é o pássaro espião de Raccoon. Já o Surly, este continua falastrão, egocêntrico e salafrário. A antipatia em esquilo.

Com os títulos abrasileirados que a gente vê por aí, o trocadilho O Que Será de Nozes nem é dos piores. Na verdade o roteiro também “brinca” com o título original The Nut Job, fazendo piadas (que, na dublagem brasileira, passam batidas) com a palavra “nut”, que serve tanto a “porca” (de parafuso) quanto a “noz”. Mas, sinceramente, nem no contexto (americano) a gag tem muita graça.


Enfim, alguns animaníacos, feito eu, vão achar que O Que Será de Nozes lembra um pouco Os Sem Floresta (2006)..., mas isso é o de menos. Também porque a graciosa animação foge do lugar comum com seus protagonistas e coadjuvantes malandros e foras da lei. É uma boa história de ação e aventura repleta de trapaças, explosões, correria, vilanias..., compensada com um subtexto pra lá de altruísta, que arremata, sem pieguice, mas com alguma malícia, as ousadias da trama. Quanto ao castigo aos criminosos, após os créditos-clip com o sul-coreano Psy cantando e dançando com todos os personagens o seu sucesso Gangnam Style, há uma, digamos, cena surpresa.

Ah, um lembrete: quem espera a “tradicional” jornada do herói, acho que vai ter que se contentar com a jornada do bandido, quem é bem mais interessante.

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