Com o mercado da animação em crescimento, não
está nada fácil conseguir uma história original. Na verdade não está fácil nem
na ficção (inclusive científica!). Mesmo assim, é admirável o esforço de se
produzir desenho animado fora dos EUA.
Justin
e a Espada da Coragem (Justin y
la Espada del Valor, Espanha, 2013,), com direção de Manuel Sicilia (O Lince
Perdido), é o segundo longa-metragem da Kandor Graphics. A história, estilo
cavaleiros medievais (capa e espada), com algumas referências (A Espada Era Lei, de 1963; Fúria de Titãs, de 1981), acompanha a saga
do magriça Justin que, vivendo num
reino tomado pela burocracia, onde há lei para tudo e justiça para poucos,
prefere seguir os passos do avô Sir
Holand e se tornar cavaleiro, do que a determinação do pai e se tornar
advogado.
Justin é o
tipo padrão do herói improvável: adolescente fracote, desajeitado, tímido, romântico
etc etc. Ele precisará conhecer a si mesmo, antes de provar aos monges-mestres Blucher, Legantir e Braulio, que reúne os requisitos para se
tornar um cavaleiro, empunhar a Espada da
Coragem e enfrentar o vilão e ex-cavaleiro Sir Heraclio. Não é preciso ser gênio para saber os caminhos
que o jovem tomará e o resultado da sua jornada, incluindo interesse romântico.
Obviedade é o que não falta aos personagens que
fazem exatamente aquilo que se espera (?) que façam. Alguns até que poderiam
render (mago duas caras, falso cavaleiro), não fosse o clichê ou a necessidade
(?) de seguir a cartilha da grande maioria dos filmes (animados ou não) realizados
em todo mundo. Há uma dose razoável de ação e aventura..., mas não parece satisfazer plenamente o espectador mais adulto, acostumado com o ritmo hollywoodiano.
Excetuando o “susto” de umas duas (?) tonterias:
laptop (?) e controle de video-game (?), a narrativa é bastante linear (previsível), afinal
o público alvo é a criançada dos 7 aos 12. Bom, dependendo da criança, ela pode
até se sentir subestimada pelo roteiro simplório de Matthew Jacobs e Manuel Sicilia. O humor não é hilário (muita coisa geralmente se perde na
tradução e dublagem), mas deve agradar a garotada, principalmente o (divertido!)
dragão-crocodilo em excelente sequência numa aula de treinamento. A mensagem? É fácil: perseverança!
Tecnicamente, Justin e a Espada da Coragem é muito bom. Nota-se o cuidado na
paleta de cores, tratamento de tecidos, arquitetura dos belos e convidativos
castelos. Uma sequência em especial é de encher os olhos: a história dos
cavaleiros narrada através de primorosos recortes de tapeçaria bordada. A
decisão das músicas cantadas em inglês (sem legenda!), na versão dublada em
português, me pareceu equivocada. Mas sei que é algo que não incomoda a maioria
dos espectadores mirins.
A Kandor, dos excelentes curtas: La Dama y La Muerte e El Corazón Delator, ainda não conseguiu
acertar 100% nos longas, o pré-adolescente Justin
e a Espada da Coragem, assim como o infantil O Lince Perdido, são animações medianas (num mercado repleto de
obras-primas), mas acredito que seja apenas uma questão de tempo até encontrar o
enredo perfeito. Os grandes estúdios, bem sabemos, também não acertam
sempre.
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