Recentemente, ao postar minhas considerações
sobre a animação espanhola Justin
e a Espada da Coragem, falei sobre a falta de originalidade no meio
cinematográfico. Ao ver as primeiras cenas de As Aventuras de Peabody e Sherman pensei: “mais um produto que nasce para virar franquias, games, série de TV
etc.” Não sabia, evidentemente, que a animação da DreamWorks é o resgate da
animação Peabody's Improbable History,
que integrava a famosa série de desenho animado norte-americanas The Rocky ans Bullwinkle, veiculada na
TV na década de 1960. Peabody's
Improbable History (alguns episódios podem ser vistos no YouTube) foi homenageado em Os Simpsons, Family Guy, De Volta para o
Futuro (1985)
As
Aventuras de Peabody e Sherman (Mr. Peabody & Sherman, EUA, 2014), dirigida por Rob Minkoff (Rei Leão), é uma animação de aventura e ação que conta a surreal
história do relacionamento entre o beagle Sr.
Peabody, um cachorro inteligentíssimo (inventor, cientista, ganhador do
prêmio Nobel, chef, medalhista olímpico) e Sherman,
um menino órfão adotado por ele. Amor e consideração é o que sentem e
demonstram o “pai” cão e o “filho” humano. Porém, o mundo abaixo da cobertura onde
vivem, tem as suas próprias normas de tolerância às diferenças.
Peabody é um
tratador dedicado, amoroso e excessivamente preocupado com normas e regras de
bem viver num mundo ainda preconceituoso. Quanto a Sherman, ele usufrui da melhor pré-educação domiciliar, com direito
a viagens no tempo (a bordo da Volta Atrás)
e encontros com personagens históricos, para aprimorar seus conhecimentos. O
problema é que o excesso de informação (?) acaba lhe causando alguns
inconvenientes na escola, colocando-o em confronto direto com Penny, uma garota arrogante e maldosa.
Em um encontro de conciliação, entre a família
de Sherman e a de Penny, as duas crianças acabam se
metendo numa confusão “efeito borboleta”
e o mundo entra em colapso. Adivinhe quem vai ter que se desdobrar para
reordenar as coisas? AVISO: na escola (onde as crianças de sete
anos agem como adolescentes de catorze) há
uma perturbadora cena de bullying.
Talvez a mais terrível que já vi no cinema! Aliás, na maior parte da trama, pelas
decisões (?) que toma, o casal infantil parece ter bem mais de sete anos.
Baseada no roteiro didático de Craig Wright, a
narrativa não deixa claro se a intenção é embarcar no politicamente incorreto e
ou na paródia. Tampouco define (?) o público alvo, já que há cenas não
apropriadas ao público infantil e outras extremante infantilizadas para o
adulto. Digamos que está mais para Enciclopédia Básica de Informação e
Curiosidades Históricas a serviço da diversão sem compromisso com os fatos. Pode
não agradar a todo público, pela forma de abordar (e contestar) a História
oficial e ou colocar alguns cacos de gosto duvidoso, que felizmente a garotada
e muitos acompanhantes não vão entender.
Assim como a série original, a animação traz
muitos trocadilhos infames e, portanto (a mim!) sem a menor graça, mas deve
arrancar sorrisos de algum desavisado. E por falar em humor, a se pautar pela
versão e (discutível) dublagem brasileiras, ele perdeu a viagem. A lembrança do
que é um convite ao riso não dá para uma gargalhada. Há sequências belíssimas
(mágicas), como o voo das crianças no aeroplano de Leonardo da Vinci; momentos “escolares”
com a (Guilhotina da) Revolução Francesa e a Guerra (e o Cavalo) de Troia; e tolices como o casamento de
Tutankhamon; tudo num clima de gags assim-assim e ação (tipo) pastelão.
As
Aventuras de Peabody e Sherman, que não dispensa manjados
clichês, tem um enredo que lembra, entre outros filmes e séries de sci-fi, Doctor Who. Se bem que a famosa série
britânica (lançada em 1963) pode muito bem ter sido inspirada na famosa série
animada norte-americana (lançada em 1959). Já que falar da plasticidade e
técnica é redundância, num contraponto às apavorantes sequências de bullying e
de linchamento, destaco a feliz ideia de inclusão da maravilhosa "Beautiful Boy", de John
Lennon, na trilha. O meu desencanto com a animação, acredito, tem a ver com a "banalização" da violência!
Nenhum comentário:
Postar um comentário