A quem não sabe do que se trata, o cartaz de Caçadores de Obras-Primas (2014)
promete algo à Indiana Jones e Os
Caçadores da Arca Perdida (1981), com muita aventura, ação e bom humor. Mas...,
a gente espera e vira e espera e remexe e espera... Depois de um tempo de
arrastada movimentação fica imaginando o que seria do mundo se os EUA não
existissem. Ou melhor, se ainda haveria mundo se os norte-americanos não
existissem.
Caçadores
de Obras-Primas (The
Monuments Men, EUA), com direção de George
Clooney, é um dos filmes mais americanófilos dos últimos anos. Inspirado no
fascinante livro homônimo de Robert M. Edsel, o drama de guerra, em “ritmo de aventura
patriótica” estadunidense, acompanha, na Europa, o trabalho de um grupo de 7
especialistas em arte (curadores, artistas, arquitetos, restauradores): Frank Stokes (George Clooney), James
Granger (Matt Damon), Richard Campbell (Bill Murray), Walter Garfield
(John Goodman), Preston Savitz (Bob Balaban);
Donald Jeffries (Hugh Bonneville); Jean Claude
Clermon (Jean Dujardin); e a
curadora-assistente do Museu Jeu de Paume, Claire
Simone (Cate Blanchett), correndo
contra o tempo para resgatar milhares de obras roubadas de museus, igrejas e
coleções particulares, pelo exército de Adolf Hitler.
A operação durou de 1943 a 1951 e frustrou os
planos do Führer de expor esse material no monumental Führermuseum, que planejava
construir no futuro distrito cultural às margens do Danúbio, em Linz, na
Áustria. Edsel destaca o papel de oitos homens, um a mais que Clooney, mas sabe
se que esse grupo chegou a 350, reunindo voluntários de 13 países, empenhados
em recuperar obras de artistas como Leonardo Da Vinci, Caravaggio, Rembrandt,
Rafael, Vermeer, antes que, por determinação de Hitler, caso o 3º Reich caísse,
a “Operação Nero” destruísse o acervo de valor inestimável. Acredita-se que o número
de objetos furtados ultrapasse a 5 milhões.
Pautado na caça a duas obras: Madonna de Bruges,
de Michelangelo e A Adoração do Cordeiro Místico, de Jan van Eyck, encontrados
na mina de Altaussee, na Áustria, escondidas entre 6.577 pinturas e 137 esculturas,
o roteiro de Clooney e Grant Heslov, que teria sido de mais valia a um
documentário, força a amizade. Quanto mais busca a “neutralidade” mais se
enrosca na tremulante bandeira norte-americana em solo europeu, onde qualquer
mané (speak english) prefere falar a
língua ianque à língua pátria. O assunto de obras de arte roubadas e escondidas
em cavernas, feito um tesouro de Ali Babá,
é muito interessante, mas Clooney, talvez embevecido demais com o rico material
em mãos, acabou perdendo o rumo. O roteiro é redundante e a direção
convencional (mais popular?).
Em Caçadores
de Obras-Primas não se vê a promissora ousadia do diretor de Boa
Noite e Boa Sorte (2005) e ou de Tudo
Pelo Poder (2011), por exemplo. A narrativa até esboça um olhar mais
distanciado no drama familiar e ou profissional da equipe de abnegados
caçadores que colocaram em risco a própria vida, em meio ao fogo cruzado, por
uma obra de arte que não lhes pertencia. Porém não o sustenta..., derrotado pelo
texto e imagem clichês. Excetuando uma sequência mais emotiva (Natal) ou outra
mais ou menos (in)tensa (fazendeiros alemães), a trama carece de criatividade,
de mistério..., de veracidade. Nem mesmo o discurso sobre a importância da arte
na vida das pessoas e o sacrifício dos especialistas para salvá-las de mãos
ímpias parece consistente.
Não há personagem que desperte alguma empatia. Prisioneiro
da redundância e do convencionalismo, o elenco de veteranos não diz a que veio
e, assim como os seus personagens (cujos nomes foram trocados), aparece em cena
sem nenhuma convicção. Teria a ver com as liberdades poéticas da versão
cinematográfica? Há uma brevíssima referência ao The Train (1964), de John Frankenheimer, baseado no livro Le frente de l'arte, de Rose Valland,
que no filme de Clooney seria a personagem Claire,
de Blanchett. Passatempo para curiosos pouco exigentes e admiradores de artes plásticas.
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