O mais recente filme de Almodóvar é uma ficção
(Oh!). A advertência ao espectador incauto vem no início dos créditos. Como se
precisasse. Ora, qualquer frequentador (com algum QI) sabe que até mesmo os
filmes baseados (ou inspirados) em fatos reais (por conta ou não das liberdades
poéticas) são “pura” ficção.
Os
Amantes Passageiros (Los
Amantes Pasajeros, 2013), de Pedro
Almodóvar, é meio que de volta ao passado cinematográfico descerebrado e
trash (por vezes divertido) do diretor. Um filme “meio que” não vai muito além
do “assim-assim”. Ou melhor, um filme tão a deriva (ôps!) que cada espectador deve
se sentir livre para viajar na meta(eu)fórica maionese espanhola. Se é que há
alguma metáfora (de Estado) nessa comédia eufórica às voltas com um seleto
grupo de passageiros em confronto com a tripulação gay da companhia aérea
Península, cujo avião perdeu o trem de pouso e voa em círculos, buscando um aeroporto
em condições de pouso. Ufa!
Num voo onde tudo pode acontecer (e acontece!),
a narrativa tangencia o romantismo desenfreado, o ecletismo religioso e a
intimidade (profissional e sexual) de cada um dos bizarros “prisioneiros sem
destino” desta aeronave “das loucas”. Até aí tudo bem. Nada mais Almodóvar, mestre
em comungar absurdas coincidências e diferenças de seus tragicômicos personagens.
Todavia, no painel de controle, alguns botões não funcionam a contento e a
redundância sexual acaba perdendo a graça depois da primeira ou segunda enfiada,
digo, piada grosseira. A excessiva exploração do desvario sexual (principalmente)
da tripulação, por vezes, faz o roteiro parecer tão emperrado quanto o trem de
pouso. Assim como as pecaminosas historietas dos passageiros que vão se
enroscando no manche. Península, Ibéria..., sei não. Será que a paella está no
ponto?
Se o humor de Os Amantes Passageiros varia entre o hilário (o número musical ao
som de I'm So Excited, das
Pointer Sisters, é ótimo) e o enfadonho, a culpa não é do excelente
elenco, encabeçado por Javier Cámara, que mantém a Península no ar. Mas, se o
drama-trágico se perde na turbulência de um argumento pouco inspirado (ou seria
confuso?), gerando um desconforto, sem direito ao saquinho plástico de
emergência, a responsabilidade é do piloto Almodóvar. Embarcar nessa viagem
fica por conta do fã-espectador.
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