segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crítica: Os Amantes Passageiros


O mais recente filme de Almodóvar é uma ficção (Oh!). A advertência ao espectador incauto vem no início dos créditos. Como se precisasse. Ora, qualquer frequentador (com algum QI) sabe que até mesmo os filmes baseados (ou inspirados) em fatos reais (por conta ou não das liberdades poéticas) são “pura” ficção.

Os Amantes Passageiros (Los Amantes Pasajeros, 2013), de Pedro Almodóvar, é meio que de volta ao passado cinematográfico descerebrado e trash (por vezes divertido) do diretor. Um filme “meio que” não vai muito além do “assim-assim”. Ou melhor, um filme tão a deriva (ôps!) que cada espectador deve se sentir livre para viajar na meta(eu)fórica maionese espanhola. Se é que há alguma metáfora (de Estado) nessa comédia eufórica às voltas com um seleto grupo de passageiros em confronto com a tripulação gay da companhia aérea Península, cujo avião perdeu o trem de pouso e voa em círculos, buscando um aeroporto em condições de pouso. Ufa!


Num voo onde tudo pode acontecer (e acontece!), a narrativa tangencia o romantismo desenfreado, o ecletismo religioso e a intimidade (profissional e sexual) de cada um dos bizarros “prisioneiros sem destino” desta aeronave “das loucas”. Até aí tudo bem. Nada mais Almodóvar, mestre em comungar absurdas coincidências e diferenças de seus tragicômicos personagens. Todavia, no painel de controle, alguns botões não funcionam a contento e a redundância sexual acaba perdendo a graça depois da primeira ou segunda enfiada, digo, piada grosseira. A excessiva exploração do desvario sexual (principalmente) da tripulação, por vezes, faz o roteiro parecer tão emperrado quanto o trem de pouso. Assim como as pecaminosas historietas dos passageiros que vão se enroscando no manche. Península, Ibéria..., sei não. Será que a paella está no ponto?

 Se o humor de Os Amantes Passageiros varia entre o hilário (o número musical ao som de I'm So Excited, das Pointer Sisters, é ótimo) e o enfadonho, a culpa não é do excelente elenco, encabeçado por Javier Cámara, que mantém a Península no ar. Mas, se o drama-trágico se perde na turbulência de um argumento pouco inspirado (ou seria confuso?), gerando um desconforto, sem direito ao saquinho plástico de emergência, a responsabilidade é do piloto Almodóvar. Embarcar nessa viagem fica por conta do fã-espectador.

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