terça-feira, 9 de julho de 2013

Crítica: O Cavaleiro Solitário


Quem tem boas lembranças das velhas HQ e ou seriados do Zorro, na TV, que fique com elas, porque não vai ser fácil reencontrá-las em O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger), a nova “releitura” do herói (caubói), que no Brasil dividia o título com o Zorro (capa espada). Os dois foram criados por autores norte-americanos: o Zorro (espadachim) Don Diego De la Vega, por Johnston McCulley, em 1919; o Zorro (caubói) John Reid, por  George W. Trendle, em 1933. Ambos ganharam versões e reversões desde que saíram de um conto e de um programa de rádio, para os quadrinhos, cinema e tv. Mas só um deles (adivinha qual?) gritava:  "Hi-yo Silver..."

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger, EUA, 2013), dirigido por Gore Verbinski, é a terceira adaptação cinematográfica em longa-metragem. Anteriormente foram rodados Zorro e o Ouro do Cacique (The Lone Ranger), em 1956, e Zorro e A Cidade de Ouro Perdida (The Lone Ranger and the Lost City of Gold), em 1958. Verbinski disse que: “...só teria interesse em dirigir O Cavaleiro Solitário se pudesse pegar a história clássica e virá-la de cabeça para baixo. Acho que se você for fã da minissérie de TV original, você se surpreenderá com o filme, porque todo mundo conhece aquela história, e não é a história que nós vamos contar. Nós vamos contar a história a partir da perspectiva de Tonto, meio que Dom Quixote, contada do ponto de vista de Sancho Pança. Eu diria que na essência, nossa versão é uma história de amigos e um filme de ação e aventura com muita ironia, humor e uma dose de singularidade suficiente para torná-lo diferente”. Então, tá!


Dito e mais ou menos feito. Baseado no megalomaníaco, porém preguiçoso, roteiro de Ted Elliott, Terry Rossio e Justin Haythe, a história realmente tem nada em comum com a que muita gente conhece. Ela é contada (em flashback) a um garoto, fã da série de rádio Lone Ranger, pelo “nobre selvagem” ancião Tonto (Johnny Depp), parceiro de aventuras do palerma John Reid (Armie Hammer), o Cavaleiro Solitário, na caça ao inimigo comum: o sanguinolento Butch Cavendish (William Fichtner). A tentativa equivocada de imitar descaradamente o clássico O Pequeno Grande Homem, de Arthur Penn (1970), além de não agregar nenhum valor à “obra”, ainda descarrila o indeciso trem...

O Cavaleiro Solitário é infantiloide, ao fazer surgir (sabe-se lá de onde!) um cavalo branco mágico (a lá Meu Querido Pônei), o futuro Silver, e é demente, ao investir na selvageria e violência, com cenas (gratuitas) de canibalismo e genocídio. Dividida em três tempos distintos, a violência pode ser classificada como: extrema (início), moderada (meio) e pastelão (final)..., salpicada ou não com alguma “piada”, pieguice e trocentos clichês. Há três só de trem (muito bem realizados, sem dúvida, mas cansativos clichês cantados meia hora antes). Algumas sequências parecem ter imigrado do Mar do Caribe para o Deserto do Arizona. Alguns personagens que pirateavam ouro lá, agora roubam prata cá. Mudou a época, o local, mas o argumento bobo parece o mesmo. A falta de assunto fica mais evidente por conta de suas arrastadas e empoeiradas duas horas e meia.


Ao contrário do título, o personagem protagonista é o esperto Tonto, na pele de um Depp repetidor de tipos estranhos que apenas mudam a maquiagem e o figurino. A recriação do coadjuvante (?) Reid (Hammer, desperdiçado) é de revirar os ossos de Trendle. O bravo personagem “tiro certeiro” ou “bala de prata” agora é um imbecil (e insosso bebê chorão!) do começo ao fim da trama. Coisa alguma é levada a sério nessa trama que ainda se embebeda com a perna de porcelana espingarda, “emprestada” de Planeta Terror (2007), de Robert Rodriguez, e o coelho assassino “desentocado” de Monthy Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), de Terry Gilliam e Terry Jones. Distrações totalmente desnecessárias. 

O Cavaleiro Solitário é, digamos assim, um filme de fantasia (infantiloide-adulta), de aventura (juvenil) e de ação descerebrada, digo, desenfreada, para tontear o Tico e o Teco. As sacadas (se) engraçadinhas são mínimas. A mais insistente, sobre a máscara do Cavaleiro, nem chega a arranhar a divertida e original do Lanterna Verde (2011). A bala perdida do panaca Ranger Reid deve alcançar algum dos alvos pretendidos, já que mira a esmo os incautos espectadores órfãos dos Piratas do Caribe.

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