sexta-feira, 29 de março de 2013

Crítica: Jack - O Caçador de Gigantes



Conforme a temporada de arrecadação, os produtores hollywoodianos aproveitam para fazer onda ou saltitar marolas em busca de milhões de dólares. No momento o vento sopra mais ou menos a favor, estufando as velas de novíssimas versões de velhíssimos contos populares clássicos. Ao primeiro sinal de calmaria..., eles tratam de mudar de barco! A horta da vez, que recebeu uma boa chuva e muito adubo, é a do Jack e o Pé de Feijão que, de ladrão e assassino de um gigante, passou a ser o caçador de toda uma sociedade deles. O problema é que, como Jack é um bom rapaz e o Pé de Feijão cresceu além da conta, o caldo talvez não fique ao agrado de todos.

O conto Jack e o Pé de Feijão (The History of Jack and the Bean-Stalk) vem da tradição oral inglesa e, até onde se sabe, o seu primeiro registro em livro é de 1807, creditado a Benjamin Tabart, que justifica os roubos e o assassinato do ladrão Jack. Mas a versão (Jack and the beanstalk) mais popular é a de Joseph Jacobs, de 1890, em que fica tudo por isso mesmo: o garoto rouba, mata e ainda se casa com uma princesa. Por se tratar de tradição oral é claro que, no boca a boca, as versões ganham e ou perdem elementos para a satisfação do público alvo. No Brasil, mesmo, o João e o Pé de Feijão é encontrado em outras versões além das duas citadas. (Se quiser conhecer as versões “originais” de Talbart e de Jacobs, e também a análise delas, é só clicar nos títulos-links.)


Jack - O Caçador de Gigantes (Jack the Giant Slayer, EUA, 2013), dirigido por Bryan Singer, é um filme fantasia levemente inspirado em Jack e o Pé de Feijão (ou João, no Brasil). Nesta versão cinematográfica, o caipira Jack (Nicholas Hoult) é criado pelo pai viúvo (Tim Foley) e depois pelo tio (Christopher Fairbank) e, em vez da vaca (sem leite), vai vender um cavalo e uma carroça. Distraído, acaba se metendo em uma confusão e perde o cavalo por alguns grãos de feijão (até que rimou!). Em meio a um temporal, acolhe a rebelde e independente (mais uma!) princesa Isabelle (Eleanor Tomlinson), e, para a surpresa de ambos, um feijão brota sob o assoalho, levando a casa e garota para as alturas. Ao saber do sumiço da filha, o rei Brahnwell (Ian McShane) providencia um grupo de resgate, sob o comando de Elmont (Ewan McGregor), o chefe da guarda, e inclui o nada confiável noivo da princesa, Roderick (Stanley Tucci), e o sonso Jack. Trepando no gigantesco pé de feijão eles vão dar na terra celestial dos gigantes (até então apenas uma lenda) e desencadear uma guerra descomunal. Os humanos querem a princesa. Os gigantes querem petisco de gente. Isso é tudo pessoal!

Variação de gênero à parte, o filme dirigido ao público infantojuvenil (dos 7 ao 12 anos?) não é dos mais agitados. A sensação de aventura (com uma pitadinha de romance) está por toda parte, mas a ação (pra valer!) só dá as caras no final, quando explode a grande batalha de ferro e fogo. O roteiro morno de Darren Lemke, Christopher McQuarrie e Studney Dan, é bem linear e traz resquícios de A Princesa Prometida (1987), de Rob Reiner, e de O Senhor dos Anéis (2001), de Peter Jackson, desde o simpático prólogo, onde o pai de Jack e a mãe de Isabelle, coincidentemente, estão lhes contando a mesma história para dormirem. O conto fala de gigantes que vivem acima das nuvens, da guerra que travaram com os humanos e de como foram dominados e mantidos a distancia com o poder de uma coroa e a coragem de um rei.


Jack - O Caçador de Gigantes, enfraquecido pela indecisão de público alvo, carece de humor (a única piada - do enroladinho de carne - está no trailer) e de um roteiro mais esperto. É tudo brando demais (para não chocar a garotada?), casto demais, infantilizado demais. Não há química alguma entre os bons atores e entre os fracos personagens. Não há emoção! A apatia reinante não provoca, não faz o espectador querer tomar partido (a favor dos humanos ou contra os gigantes). O destino de cada personagem é indiferente. Eu vi apenas uma piada (dos assados) e uma sacada genial (com o último grão de feijão), talvez a criançada consiga ver algo mais.

Depois de Avatar (2009), de James Cameron, qualquer cidade vertiginosa, mesmo fazendo parte do contexto, como na história de Jack, já não causa mais tanto impacto. Não há como não comparar as tecnologias. Os efeitos CGI são bem chinfrins e mostram menos do que devia. Há apenas uma cena de travessia (entre os caules), as outras ficam por conta da imaginação do espectador. A artificialidade (e pobreza técnica!) da cenografia (na terra e ou no céu) é constrangedora. Também os gigantes (personagens mais interessantes da trama, ainda que mal resolvidos) parecem desenhados para animar plataforma de videogame. O pé de feijão você jura que é feito de massinha. Já que tudo é tão falso, podiam ter optado logo pelo desenho animado. Com certeza o resultado seria muito melhor. Ah, quem não viu os trailers pode até ter alguma surpresa. E não esqueça: Jack - O Caçador de Gigantes tem nada a ver com João e o Pé de Feijão.

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