O documentário é um gênero no fio da navalha. Um
vacilo e o filme já era. Aparentemente mais econômico que a ficção, nem sempre
a produção resulta em um cinema melhor e ou ao gosto do público, geralmente o
adulto mais velho, já que o assunto em foco raramente é de interesse do jovem espectador.
E se o é, geralmente esbarra na linguagem pouco (ou nada) criativa e com todos
os vícios de uma matéria televisiva. Na maioria das vezes fica claro que o
“objeto em discussão” é muito maior que a narrativa.
Francisco
Brennand, dirigido por Mariana
Brennand Fortes, é um doc que sofre da abominável síndrome do “jornalismo
cultural” de TV. Ou seja, o que interessa é o artista e não a sua obra. Na
televisão, quando milagrosamente um artista plástico (por exemplo) consegue um
ou (no máximo) dois minutos para divulgar o seu trabalho, ele terá por 50 ou
110 segundos uma câmera na sua cara e o restante numa geral sobre a sua arte.
Como se alguém fosse (eu não vou!) a uma exposição (por exemplo) para ver o
artista e não a obra.
Brennand é um ceramista excepcional. A
estonteante beleza das suas esculturas míticas e da sua casa-oficina-galeria, nos
arredores de Recife, é um convite ao mundo das experimentações e das sensações
que brotam verbo na argila, instantâneas na câmera ou evocativas nas telas e no
papel gravado ou grafado. É impossível alguém ficar indiferente à exuberância
de suas esculturas ou do seu museu a céu aberto. O grotesco e o lúdico desvelam
um mundo imaginário que só encontra eco na literatura de Ariano Suassuna.
Conduzido por curiosas passagens literárias dos
diários de Brennand, narradas por Hermila Guedes (que mal abre a boca e a sua
voz é praticamente sobreposta pela música intrusa de Lucas Marcier), o roteiro
(padrão) passeia pelo espaço interno e externo da sua arte e pousa sobre algumas
obras, conforme o discurso oportuno do autor. Por entre quadros, cerâmicas,
serigrafias, fotos..., desvela, também, sutilezas
de sua intimidade. Nada de segredos de alcova..., apenas pecadilhos sem
importância, mas com alguma plasticidade, como requer o ofício. A
bonita fotografia, com direção de Walter Carvalho, às vezes se perde no memorável
labirinto fantástico do mestre, e deixa informe boas memórias sobre o
seu fazer artístico. Entre o verbo e o objeto, privilegiou-se o artista.
Francisco
Brennand é um doc irregular. Em seu formato antiquado beira a sonolência
televisiva. A repetição de foco compromete o ritmo e passa
a impressão de pouco material (interessante) filmado. Todavia, o que chama a
atenção é que, para um artista de 85 anos, vivendo recluso há
quatro décadas, Brennand (contraditoriamente?) aparece e fala até demais.
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