Às vezes aparecem “do nada” filmes de suspense que
surpreendem as bilheterias americanas e acabam despertando interesse no resto
mundo. Aconteceu com o ótimo primeiro Atividade Paranormal, em 2009, e parece
se repetir com Mama, produzido por
Guilhermo Del Toro.
Mama (Mama, Espanha, Canadá, 2013), dirigido
por Andy
Muschietti, baseado em seu curta homônimo de
2008, é um thriller que começa com uma crise econômica e termina com uma crise
de ciúmes. No prólogo o insano financista Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) se envolve em uma
tragédia e desaparece com as duas filhas, de três e um ano. Na sequência, cinco
anos depois, as duas meninas, Vitória (Megan Charpentier), com
oito anos, e Lilly (Isabelle Nélisse), com
seis, são encontradas
vivendo sozinhas em uma cabana e ficam sob a guarda de Jeffrey (Nikolaj
Coster-Waldau), irmão gêmeo de Lucas,
e de Annabel (Jessica Chastain), sua namorada. Psicologicamente abaladas, as crianças recebem
atendimento do psiquiatra Dr. Dreyfuss
(Daniel Kash), desconfiado de que, além
das garotas, o resgate trouxe, para o seio da família, Mama (em CGI - movimentos de corpo de Javier Botet), uma perturbada e ciumenta entidade fantasmagórica responsável
pela sobrevivência das crianças na floresta. Mama, que fará de tudo para proteger as “suas” crias, é o grande desafio
a ser vencido pelos tios e médico que lutam pela sanidade de Vitória e Lilly.
Mama, para
não fugir à regra, tem um argumento absurdo (anda que curioso!). O roteiro é
irregular (confuso!) e expõe furos que talvez passem batidos pelo espectador
comum. Algumas boas sequências, como as da ressocialização de Vitória e Lilly (através da fala e do desenho) e dos gestos de maternidade (cuidado,
amor e posse), chamam a atenção. Infelizmente não o suficiente para o diretor confiar
na força lúdica da melancólica história. O apelo (mesmo!) é para o terror
orquestrado com a irritante trilha sonora de sustos. Quando menos (?) se espera
lá vem um “kabum!” de estourar os tímpanos. Para a garotada que vai ao cinema
atrás de susto barato, é a glória.
Essa tendência de
subestimar a inteligência do espectador, forçando um desnecessário clima de pavor
(gritos e barulhos), também presente no bom O
Orfanato (2007), enfraquece a história que pede as arrepiantes sutilezas de
um terror de insinuação, como visto e sentido em Atividade Paranormal. O horror, a violência..., é muito mais apavorante
quando insinuado do que explicitado. Basta ver a perspicácia do prólogo, que
coloca o espectador a par da incômoda situação dos personagens sem sequer mostrar
a tragédia que desencadeia toda a ação da trama.
Mama traz
um bom elenco (destaque para Megan e Isabelle) numa história que ganharia muito
mais com as sutilezas e a opção clara pelo cinema fantástico. Ele não está
totalmente imune aos clichês (hollywoodianos) do gênero, mas surpreende com o
anticlímax do epílogo. Se os norte-americanos refilmarem, duvido que mantenham
o final! Se bem que, como disse Del Toro: “Um fantasma é como a essência de uma pessoa. Se você deixar uma personalidade inteira secar ao sol, então o que fica é o cadáver de uma emoção.”
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