quarta-feira, 3 de abril de 2013

Crítica: Mama



Às vezes aparecem “do nada” filmes de suspense que surpreendem as bilheterias americanas e acabam despertando interesse no resto mundo. Aconteceu com o ótimo primeiro Atividade Paranormal, em 2009, e parece se repetir com Mama, produzido por Guilhermo Del Toro.

Mama (Mama, Espanha, Canadá, 2013), dirigido por Andy Muschietti, baseado em seu curta homônimo de 2008, é um thriller que começa com uma crise econômica e termina com uma crise de ciúmes. No prólogo o insano financista Lucas (Nikolaj Coster-Waldau) se envolve em uma tragédia e desaparece com as duas filhas, de três e um ano. Na sequência, cinco anos depois, as duas meninas, Vitória (Megan Charpentier), com oito anos, e Lilly (Isabelle Nélisse), com seis, são encontradas vivendo sozinhas em uma cabana e ficam sob a guarda de Jeffrey (Nikolaj Coster-Waldau), irmão gêmeo de Lucas, e de Annabel (Jessica Chastain), sua namorada. Psicologicamente abaladas, as crianças recebem atendimento do psiquiatra Dr. Dreyfuss (Daniel Kash), desconfiado de que, além das garotas, o resgate trouxe, para o seio da família, Mama (em CGI - movimentos de corpo de Javier Botet), uma perturbada e ciumenta entidade fantasmagórica responsável pela sobrevivência das crianças na floresta. Mama, que fará de tudo para proteger as “suas” crias, é o grande desafio a ser vencido pelos tios e médico que lutam pela sanidade de Vitória e Lilly.


Mama, para não fugir à regra, tem um argumento absurdo (anda que curioso!). O roteiro é irregular (confuso!) e expõe furos que talvez passem batidos pelo espectador comum. Algumas boas sequências, como as da ressocialização de Vitória e Lilly (através da fala e do desenho) e dos gestos de maternidade (cuidado, amor e posse), chamam a atenção. Infelizmente não o suficiente para o diretor confiar na força lúdica da melancólica história. O apelo (mesmo!) é para o terror orquestrado com a irritante trilha sonora de sustos. Quando menos (?) se espera lá vem um “kabum!” de estourar os tímpanos. Para a garotada que vai ao cinema atrás de susto barato, é a glória.

Essa tendência de subestimar a inteligência do espectador, forçando um desnecessário clima de pavor (gritos e barulhos), também presente no bom O Orfanato (2007), enfraquece a história que pede as arrepiantes sutilezas de um terror de insinuação, como visto e sentido em Atividade Paranormal. O horror, a violência..., é muito mais apavorante quando insinuado do que explicitado. Basta ver a perspicácia do prólogo, que coloca o espectador a par da incômoda situação dos personagens sem sequer mostrar a tragédia que desencadeia toda a ação da trama.

Mama traz um bom elenco (destaque para Megan e Isabelle) numa história que ganharia muito mais com as sutilezas e a opção clara pelo cinema fantástico. Ele não está totalmente imune aos clichês (hollywoodianos) do gênero, mas surpreende com o anticlímax do epílogo. Se os norte-americanos refilmarem, duvido que mantenham o final! Se bem que, como disse Del Toro: “Um fantasma é como a essência de uma pessoa. Se você deixar uma personalidade inteira secar ao sol, então o que fica é o cadáver de uma emoção.” 

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