Hollywood arrota trocentos filmes policialescos
(com variações mínimas) por ano. A maioria é protagonizada por atores jovens, certa
de arrebanhar o espectador juvenil adrenalinado que não se importa muito com a “história”,
desde que o clichê de sempre (tiroteio, pancadaria, carros e piadas
escatológicas obsoletas) faça jus ao valor do ingresso. Se bem que, quem gosta
de ver mais do mesmo não está nem aí para o custo dos ingressos, principalmente
se o seu pancadator preferido estiver na telona. Todavia, como nem só de público
jovem vive o cinema, vez por outra, Hollywood arrisca no gênero com atores mais
(e mais e mais) velhos. Ora, por que não? Tem gente da terceira e da quarta idade
que (ainda) gosta de ver thriller policial..., ou algo parecido! A questão é
que nem sempre o tiro acerta o alvo e acaba sobrando para a culatra da cadeira
ou para a bengala.
Amigos
Inseparáveis (Stand Up
Guys, EUA, 2012) é um típico drama de ação tardia, cujo título, independente
da sinopse, entrega o final (clichê!). A trama se passa em 24 horas, numa
cidade norte-americana qualquer, e gira em torno do reencontro de três velhos amigos
velhos (septuagenários!), criminosos mais ou menos aposentados, que apostam num
sopro bandido para espalhar as cinzas e reacender a brasa (mora!). A história começa
com Doc (Christopher Walken), um artista plástico que pinta belas cenas do
amanhecer, indo buscar o seu amigo Val
(Al Pacino), que acabou de cumprir uma
pena de 28 anos de prisão.
Não é só por amizade que Doc vai ao encontro de Val.
Ele tem uma “dívida” com o mafioso Claphands
(Mark Margolis), e o amigo que
acabou de ganhar a liberdade é a quitação do seu débito, já que o vingativo
chefão o quer morto. Val sabe disso e
Doc sabe que Val sabe. Porém, enquanto a hora fatídica não chega, os dois
perambulam pela cidade, trocando confidências e usufruindo de “pequenos
prazeres”: comida, sexo, roubo, droga, dança..., até encontrar Hirsch (Alan Arkin), o outro amigo de crimes, e a história ganhar contornos
ainda mais absurdos.
Amigos
Inseparáveis não tem nenhum apelo para o público jovem e,
vale lembrar ao público idoso que, para evitar constrangimentos (?) maiores, as
cenas de sexo são apenas insinuadas. Que dera as intragáveis e ridículas piadas
falológicas (sem graça!) também o fossem. Enfim, como argumento ruim e roteiro pior
(de Noah Haidle) só encontram salvação na direção de um mestre..., o que não é
o caso do vacilante Fisher Stevens, o
filme chocho, na aventura, no humor e na ação geriátricas, capenga, de
sequência em sequência, rumo a um final digno de UTI de lavagem cerebral. Não é
recomendável levar o Tico e o Teco para a sessão! Pode dar tilt.
Walken, Pacino e Arkin, no automático (ou seria
no eletrônico?), apenas garantindo um troquinho, brincando de bandido e
bandido, estão constrangedores. O embaraço de ver Val/Pacino fazendo a
releitura da famosa cena do tango em Perfume
de Mulher (1992) e ou do moribundo Hirsch/Arkin na finalização de um ménage à trois, não tem preço! A
narrativa, que parece ter sido fotografada por uma câmera oculta, editada a
bisturi, por alguém apressado em “desentulhar” o estúdio para os novos desenganados
da ilha, corta a seco qualquer empatia possível entre personagens enfadonhos e
o público sonolento. É eles lá zumbizando na própria estupidez e o espectador teimoso
contando os minutos para ver até onde vai o terrível enquadramento de tanta bizarrice.
Para encurtar, Amigos Inseparáveis é um filme para quem pensa em um dia variar
(não arriscar!) entre o refri e o whisky..., o ice fica por conta de cada um.
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