Não sei se o texto que lê é exatamente uma
crítica ao O Som ao Redor,
simplesmente porque não tenho certeza de ter visto o aclamado e premiado filme
brasileiro dirigido por Kleber Mendonça
Filho. A primeira vez que li sobre ele foi no Almanakito, num apaixonado comentário da jornalista e escritora
Maria do Rosário Caetano, logo após a sua premiação em Gramado. Enquanto o
filme acumulava prêmios mundo afora, eu aguardava a sua estreia em Curitiba.
Conhecia por alto a sinopse: A vida numa
rua de classe-média na zona sul do Recife toma um rumo inesperado após a
chegada de uma milícia que oferece a paz de espírito da segurança particular. A
presença desses homens traz tranquilidade para alguns, e tensão para outros,
numa comunidade que parece temer muita coisa. Enquanto isso, Bia, casada e mãe
de duas crianças, precisa achar uma maneira de lidar com os latidos constantes
do cão de seu vizinho. Uma crônica brasileira, uma reflexão sobre história,
violência e barulho.
Eu me recuso a ir além das sinopses até mesmo para
as Cabines de Imprensa. É um risco que gosto de correr. Talvez por isso,
passado tanto tempo, até o seu lançamento comercial, eu tivesse trocado a
chegada de uma milícia (da sinopse) por a
chegada de uma equipe de televisão. Não sei de onde tirei essa mudança
maluca. Enfim, era o máximo que sabia ou pensava saber até assistir a O Som ao Redor, na Sessão do Professor, num sábado de manhã, no Espaço Itaú de Cinema,
em Curitiba. O público, que não era grande, estava menor ao final da sessão.
Mal começou a projeção e O Som ao Redor já causou burburinho. A cópia estava praticamente inaudível
e com legenda em inglês, tumultuando a atenção de todo mundo. Quanto mais me
esforçava para entender a língua pátria, menos entendia. Era engraçado o
movimento dos professores avançando os corpos para tentar compreender o que os
personagens/atores diziam ou sussurravam na tela. Leitura labial não estava fora de cogitação. Comecei a conjecturar sobre a
possibilidade do título se referir ao som
ao redor da fala humana. Logo concluí que, se essa fosse a intenção do
diretor, não precisaria de legenda em inglês para gringo entender o português
brasileiro. Decidi pelo meio a meio, mas sem muito esforço: quando não entendia
o diálogo, acompanhava a legenda. Ou deixava ambos de lado e deduzia a
narrativa.
Resolvida essa questão “primordial”, começou a
minha decepção. Independente das falas em português e ou das legendas em inglês,
me vi antecipando todas as sequências. Ao perceber que uma cena cantava a
seguinte me dei conta de que O Som ao
Redor era previsível do começo ao fim. A impressão era a de estar
assistindo a uma aula básica de técnicas cinematográficas em um cursinho de cinema: impacto, emoção,
suspense, enquadramento, edição, trilha, clichês etc... Clichê e previsibilidade: a bola que quica aqui, quica ali, quica acolá; o banho de sangue, hoje, vem de ontem e respingará no amanhã; aquele que nada à noite, no mar, não teme o perigo que o (a)guarda na esquina. Elimine o óbvio: a bola que retorna; banho de sangue; parente (mal-encarado) do Paraná, só pra ficar nos mais descarados..., e o que sobra? Redundância! A esperada surpresa
saiu pela culatra.
O Som ao Redor não tem sequer uma história que desperte curiosidade, um personagem cativante ou (ao menos!) interessante. Assiste-se com certo enfado, alheio ao destino das pessoas comuns que povoam a telona com suas pequenas e crônicas (?) rotinas. Um filme que deve se sair melhor em festivais do que em sala comerciais, já acostumadas às intragáveis novas pornochanchadas produzidas por "aquele" canal de TV. Uma produção aquém dos criativos curtas do crítico de cinema e diretor dos excelentes Recife Frio (2009), Eletrodomésticas (2005) e Vinil Verde (2004).
Na tentativa de entender as falhas técnicas e de
narrativa, que me saltaram aos olhos, resolvi ler as críticas e comentários já
publicadas sobre O Som ao Redor,
para ver se encontrava algum respaldo. Nada! Encontrei apenas críticas elogiosas...,
e comentários nem tanto, alguns até sugerindo que o filme tivesse legenda em
português. Imagino qual seria a reação desses espectadores se vissem a cópia com
legenda em inglês. Em conversas com colegas, que o viram em festivais e no
cinema, ou não perceberam o problema de som e ou perceberam, mas acreditaram ser
intencional. Quanto à previsibilidade da trama, nenhuma palavra. Em conversas informais descobri que muitos espectadores só "gostaram" porque a crítica gostou. Por isso é que não tenho certeza de ter visto o
premiadíssimo filme ou uma cópia genérica de O Som ao Redor.
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