OS INTOCÁVEIS
por Joba Tridente
Depois do fascinante O Artista (de Michel Hazanavicius, 2011), outro filme francês volta
a surpreender o mercado cinematográfico e seus consumidores: Os Intocáveis, uma comédia, levemente
dramática, sobre as relações de trabalho e de amizade entre um milionário
tetraplégico (branco) e seu pobre assistente (negro).
Os
Intocáveis, dirigido por Eric
Toledano e Olivier Nakache, é
inspirado no livro Le second souffle suivi
du Diable gardien (1998 e 2004), de Philippe Pozzo di Borgo, onde o autor (milionário
e tetraplégico) fala da imprescindível participação do assistente Abdel na superação
das suas tragédias pessoais. O livro, lançado no Brasil com o título O Segundo Suspiro (2012), traz em seu
novo prefácio o comentário do autor sobre o encontro que teve com os dois
cineastas franceses, que o procuraram após assistirem ao documentário À la vie, à la mort (2002), dirigido por
Jean-Pierre Devillers: “O filme, de uma
hora, retratava o improvável encontro entre o rico tetraplégico privilegiado
que sou e o jovem de origem árabe da periferia de Paris, Abdel. Contrariando
todas as expectativas, esses dois homens se ajudariam mutuamente durante anos.”
Não fosse inspirado em fatos reais, com algumas
liberdades pertinentes ao cinema do gênero, Os Intocáveis (Les Intouchables,
França, 2012), para a grande maioria, passaria por uma improvável ficção com
(inconcebíveis?) toques politicamente incorretos. A princípio, para quem já se
acostumou em ver as indefectíveis histórias americanas de superação (física,
social, psicológica) e altruísmo exacerbado, que a todo ano chegam aos cinemas
e são fortes concorrentes ao Oscar, a produção francesa pode parecer lugar
comum, com um clichêzinho aqui e outro acolá. Mas logo se percebe um certo
equívoco, já que, ao enfatizar a história do cadeirante Philippe (François Cluzet)
e seu conturbado e divertido cuidador Driss
(Omar Sy), os diretores (e também
roteiristas) buscam o humor em vez de lágrimas, sem com isso tirar a seriedade
do tema. Talvez daí, por conta dessa
caixinha de surpresas que é a vida real, o charme que tem conquistado milhões
de espectadores.
O filme esboça uma certa ironia (que fica entre
deboche e a caricatura) na narrativa e no retrato socioeconômico dos
protagonistas, numa França em crise, mas aberta ao “investimento” de risco. As
sequências sobre a valorização de uma obra de arte são de pura galhofa. É bom
que se diga que o humor francês é bem mais palatável que o inglês (meu
favorito), mas o espectador deve ficar atento, porque ele é muito rápido (e
perde-se muito na tradução/legenda) e nem sempre muito explícito. Os atores
estão ótimos (destaque para Sy) e parecem se divertir com o “antagonismo” de seus
personagens que, mesmo buscando cumplicidade, não deixam de alfinetar o ponto
de vista sociocultural de um e de outro.
Eric Toledano e Olivier Nakache não adoçam o
amargor da vida do saudável negro da periferia parisiense, marginalizado e sem
muitas perspectivas, e nem tampouco a do imobilizado milionário, prisioneiro de
um passado “feliz”, apenas procuram tornar mais leve (do que é!), aos olhos do
público, o drama que os aflige. O filme tem pequenas falhas nas
(desinteressantes) histórias paralelas, mas nada que comprometa o seu ritmo ou
tire o prazer de assistir a esta deliciosa e boa comédia francesa.
Porque intocáveis? Segundo Philippe Pozzo: “Somos ambos “intocáveis” em diversos
aspectos. Abdel, de ascendência do Norte da África, sentiu-se marginalizado na
França - tal como a classe dos intocáveis na Índia. Não se pode “tocar” nele
sem o risco de levar um soco, e ele corre tão rápido que os tiras - repetindo
sua palavra - conseguiram pegá-lo apenas uma vez em sua longa carreira de delinquente.
(...) Quanto a mim, atrás dos altos muros que cercam minha mansão em Paris -
minha gaiola dourada, como diz Abdel -, abrigado da necessidade graças à minha
fortuna, faço parte dos “extraterrestres”; nada pode me atingir. Minha
paralisia total e a ausência de sensibilidade me impedem de tocar o que quer
que seja; as pessoas evitam até roçar a minha pele, tamanho o medo que lhes
causa minha condição física, e ninguém pode me tocar o ombro sem desencadear
dores lancinantes. “Intocáveis”, portanto.”
Por que o nome do filme é Intocáveis?
ResponderExcluir..., olá, Unknown, creio que já deve ter lido a resposta no último parágrafo. ..., grande abraço. T+
ExcluirNao precisa mais valeu
ResponderExcluir..., ok!
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