Bel Ami, o
clássico romance de Guy de Maupassant (1850 - 1893), escrito em 1885, e
inacreditavelmente contemporâneo, fala de uma época onde a arte de seduzir, de
intrigar e de manipular dados (e fatos!) é a mais eficaz arma para a ascensão
social e política. Em sua recente versão para o cinema a história mantém a sua acidez
crítica à sociedade, à política, à imprensa. Todavia, pela velocidade da
narrativa e a pressa em finalizar o layout e a boneca, a adaptação aparenta mais
um resumão da obra homônima do que mesa posta para degustação da fina ironia dos
entretítulos e ou das entrelinhas.
Bel Ami
- O Sedutor (Bel Ami,
UK, França, Itália, 2012), dirigido pelos estreantes Declan Donnellan e Nick
Ormerod, vindos do teatro, se passa em 1890, na França, onde o ambicioso
jovem Georges Duroy (Robert Pattinson), vivendo à mingua,
acaba esbarrando na sorte grande ao encontrar Charles Forrestier (Philip
Glenister), um companheiro de combate na Argélia, que o apresenta ao lucrativo
quarto poder, também conhecido como imprensa. Para um aspirante a alpinista
social, sair do submundo miserável direto para os salões mais requintados de
Paris, trocar a companhia de prostitutas e vagabundos por “gente” influente e da
mais alta sociedade, é uma oportunidade que não tem preço. Na verdade até tem,
mas esse ele paga de bom grato.
Os filmes de época geralmente fascinam o
espectador pelo cuidado da produção na reconstituição detalhada de um tempo
possível apenas na sua imaginação de leitor. No entanto, nem sempre o mesmo
apuro técnico (cenografia, figurino e trilha sonora) é percebido na construção
e condução satisfatória de um roteiro baseado em romance histórico. Em Bel Ami - O Sedutor, a narrativa apenas
tangencia em pontos capitais da obra homônima de Maupassant. Aí, sem a
profundidade necessária, fica difícil acreditar na ascensão do curioso
personagem que é retratado como um completo imbecil. Não que ele fosse um poço
de sabedoria, mas deve ter lá alguma qualidade além do talento (?) natural de “galinho”,
pronto a satisfazer os inconfessáveis desejos sexuais das “galinhas” que
cacarejam ao seu redor.
Além de
alguns segredinhos colhidos nas suas “rapidinhas”, com o trio de mulheres: Madeleine Forrestier (Uma Thurman), a influente e maquiavélica
autora das suas matérias jornalísticas; a alegre e oportunista Clotilde de Marelle (Christina Ricci) e a recatada Madame Rousset (Kristin Scott Thomas), mulher de Rousset (Colm Meaney), o editor do La Vie Française..., há pouca coisa para
se ver e saber sobre a sua ascensão no jornal e em como, sendo um jornalista tão
medíocre, causou tanto “estrago” no governo. Uma vez que o foco está mais
interessado na estampa de Delroy, o
tal Bel Ami (Belo Amigo) das
mal-amadas, do que no conteúdo sarcástico da trama, o filme acaba por lembrar as
famosas adaptações da obra Les Liaisons Dangereuses
(As Ligações Perigosas, 1782), de Choderlos de Laclos, que também trata de
sedutores charmosos e diabólicos.
Bel Ami tem uma
narrativa lenta (parece ter muito mais que 100 minutos) e truncada (por conta
do saltitar de sequências), na suposição errônea de que o público já conhece a
obra e não deve se importar com a falta de detalhes (importantes!) que dão
consistência ao livro. O que se percebe em cena é uma abreviada interpretação
(teatral) do texto original. É claro que toda obra literária sofre (necessariamente?)
alguma mudança na adaptação (de linguagem) teatral e ou cinematográfica. O
tempo e o tratamento de imagem do teatro são diferentes do cinema. Por isso,
raramente o que funciona em uma mídia funcionará na outra. Bel Ami - O Sedutor, em sua síntese, é até razoável, mas resultaria
melhor em um palco.
O adjetivo de Sedutor, ao título brasileiro, é uma “sutileza” tão misteriosa (?)
quanto a barba de um dia (todo dia) de Pattinson, que ainda não perdeu o
cacoete de tremer a boca e apertar os olhos (para ficar mais sedutor?). O ator continua
se esforçando, mas ainda não encontrou um diretor que realmente acredite nele e
exija que faça das tripas coração. Por enquanto ainda é um chamariz (Sedutor?).
fotos:
divulgação
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