quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Crítica: À Beira do Caminho


Em tempos de pornochanchadas e ou “comédias” chulas, que têm levado milhões de espectadores (ávidos por baixaria) ao cinema, é mais do que bem-vinda a estreia do drama À Beira do Caminho, de Breno Silveira (Os 2 Filhos de Francisco). O filme, que foi o grande vencedor do 16º Cine PE (melhor filme, ator (João Miguel), ator coadjuvante (Vinicius Nascimento), roteiro, júri popular e Troféu Gilberto Freyre), é a cara do Brasil de gente comum com problemas comuns, e não subestima a inteligência de ninguém.  

Baseado no roteiro (quase linear) de Patrícia Andrade, com a colaboração de Domingos Oliveira, À Beira do Caminho (Brasil, 2012), assim como as músicas que o inspiraram, traz uma história simples e de fácil apelo popular. A narrativa densa, porém terna (sem ser piegas!), conta a história de João (João Miguel, cada dia mais soberbo em suas interpretações), um amargurado caminhoneiro que tenta expurgar seu passado, viajando solitariamente por todo o país. Um homem “sem” família, buscando se esquecer em um canto qualquer, longe de tudo e de todos, que acaba encontrando no cativante menino Duda (Vinicius Nascimento), um carona involuntário e vítima de uma triste sina, argumentos para solucionar um quebra-cabeça vital para a sua paz de espírito.


Apesar de inspirado em músicas do repertório do cantor Roberto Carlos, como Distância, Amigo e O Portão (compostas por ele e Erasmo Carlos), Outra Vez (Isolda), Nossa Canção (Luiz Airão), Esqueça (versão de Roberto Côrte Real para a singela Forget Him, de Mark Anthony), entre outras, é bom que se diga, não é um movie clip, mas um road movie. As músicas interpretadas por diversos cantores, assim com as frases de caminhão, apenas pontuam sequência, como se fossem prólogos ou epílogos de capítulos. Ou seja, as baladas compostas e ou na voz do romântico cantor e compositor poderiam, tranquilamente, ser de outros autores, mas a sorte conspirou a favor e elas caíram com uma luva. Haja emoção (e lenço) para tantas canções!

À Beira do Caminho, que pode ser visto como um híbrido entre o bom Central do Brasil (Walter Salles, 1998) e o antológico Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo (Marcelo Gomes e Karim Aïnouz, 2008), tem elementos suficientes para escorregar na breguice e tropeçar no dramalhão, mas Breno sabe como evitar as pontes mata-burro e público. A sua segurança, aliada a um roteiro enxuto e marcantes interpretações, lhe dá uma substanciosa veracidade num arco dramático que desenha um caminho sólido entre o chão de terra e o asfalto, a poeira e a verdejante mata, a cidade e o posto de gasolina, a estrada e o rio. Um arco que não teme escancarar todas as dores de um amor perdido ou à espera de reconciliação..., porque sabe por onde roda.


Assim como os caminhoneiros, na fala de Duda, devem sempre olhar pra frente, Silveira não perde tempo em desvios, com histórias paralelas, e o dramático À Beira do Caminho, com raríssimos momentos de humor, acaba economizando no frete para esbanjar em qualidade. A presença de Dira Paes (uma das mais brilhantes atrizes brasileiras), na pele de Rosa, antiga paixão de João, é intensa e divina. A perfeita química entre os atores (Dira e Miguel) resulta numa belíssima cena noturna. E se a expressividade de Vinicius é capaz de derreter qualquer coração de pedra, a excelente fotografia de Lula Carvalho tem a ousadia de colocar o público na contracena.

À Beira do Caminho é, sem dúvida, um filme contagiante que deve ser visto sem preconceitos ao tema e ou às bonitas músicas consagradas por Roberto Carlos. A análise depois é muito mais fácil e saudável..., vai ser difícil até lembrar se o roteiro tem alguns furos nos pneus.

Fotos divulgação: Tatiana Ferro e Gabriela Barreto

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