O roteirista e escritor
Seth Grahame-Smith conta que a ideia para escrever Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros surgiu em 2009, durante a
turnê para divulgar seu livro Orgulho e
Preconceito e Zumbis. Segundo ele: “Aquele
ano foi o bicentenário do nascimento de Abraham Lincoln, e muitas livrarias da
minha turnê promocional tinham duas exposições: uma oferecia livros sobre a
vida do Lincoln; a outra era composta por livros sobre vampiros, inclusive os
livros da série Crepúsculo e de Sookie Stackhouse (a série da televisão “True
Blood” foi baseada em sua obra). Isso me
fez querer juntar os dois assuntos.” O cineasta Tim Burton, que ouviu falar
do livro em desenvolvimento, assim justificou o seu interesse de produtor: “Toda a vida de Lincoln reflete a mitologia
clássica dos quadrinhos de super-heróis. É uma dualidade: durante o dia, ele é
o presidente dos Estados Unidos; à noite, caçador de vampiros.”
E é isso mesmo,
o Lincoln, de Seth, Burton e
Bekmambetov, que chega aos cinemas (não conheço o do livro), fazendo justiça com
o seu machado de 1001 utilidades, pode ser visto como um super-herói raivoso, bem
ao gosto (massacre) norte-americano. A história de Abraham Lincoln (1809 -
1865) caçando vampiros se passa em Kentucky, Illinois, Louisiana e Washington DC,
entre 1820 e 1865. A lenda inicia quando, aos nove anos, Abraham (Lux Haney-Jardine)
se envolve numa confusão para salvar escravos negros das chibatadas do malévolo
comerciante Jack Barts (Martin Csokas), que ele logo descobre
ser o vampiro responsável pela morte de sua mãe. Dez anos depois, Lincoln (Benjamin Walker) só pensa em vingança e encontra no misterioso Henry Sturgess (Dominic Cooper) toda ajuda técnica que precisa para dar cabo aos
vampiros que vivem disfarçados (de ferreiros, farmacêuticos, banqueiros) entre
os humanos. Abe também sabe como se disfarçar.
Durante o dia é um pacato balconista em uma loja de conveniências e de noite é um
conveniente exterminador de vampiros.
Ah, entre as
duas intensas atividades, o super-herói de ocasião ainda conhece, conquista e
se casa com a inocente e romântica Mary
Todd (Mary Elizabeth Winstead), estuda
Direito (por conta própria) e se mete com a política. E mais, além da “irada”
Guerra de Secessão (1861 - 1865) ele vai enfrentar uma sucessão de ataques
vampirescos comandados pelo milenar Adam
(Rufus Sewell) e sua companheira Vadoma (Erin Wasson). Movido por um profundo instinto justiceiro (ou de
vingança!), Lincoln nunca esqueceu o
que sua mãe lhe disse: “...enquanto não
for todo mundo livre, somos todos escravos”. Um pensamento que também
parece ter pautado a sua vida política.
Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros (Abraham
Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012), dirigido por Timur Bekmambetov (Guardiões
da Noite, Guardiões do Dia, O Procurado), com roteiro frouxo do
próprio autor do romance homônimo, Seth
Grahame-Smith, é irregular e fragmentado. Apesar do título absurdo sugerir
algo tipo B, tipo trash, tipo paródia, é tipo assim: um filme que prefere apostar
na ação e horror e na ação e terror e na ação e sustos e na ação pela ação do
começo ao fim com pelo menos duas sequências de tirar o fôlego. Ufa! A princípio
parece um filme que, ao negar a paródia, também nega o humor, nadando contra a
maré sugerida pelo título maluco. No entanto, mesmo querendo parecer sério (!?)
há alguns momentos de humor involuntário, como na fantástica perseguição por
cima, por baixo, por entre, por trás e pela frente de uma manada de cavalos desembestada.
O assalto ao trem também tem algo de humor (negro). Na verdade a narrativa até ensaia
algumas situações de humor, o problema é que elas só fazem efeito muito depois
da sessão. Isto é, desde que você consiga se lembrar das pequenas cenas “engraçadinhas”.
Well, se já é difícil levar a sério
um livro com um título tão extravagante (tem quem leva!), que dirá um filme que
exagera na bizarrice, que falseia fatos reais para dar veracidade à ficção.
Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros é uma superprodução pensada para o lazer do
público adolescente que não está nem aí para a (in)coerência histórica
estadunidense e que, à espera de curtir vampiros mais radicais e menos
românticos, vai ao cinema pela adrenalina e não pela eventual alegoria e ou metáfora
(vampiros brancos: sulistas, confederados e sugadores de sangue de escravos
negros). Também porque, do jeito que a questão (socioeconômica e racial) é
colocada na trama, pairam dúvidas se é intencional ou um equívoco, um descuido
narrativo que passou pela ilha de edição, onde ficaram partes importantes do
drama. Enfim, se produtores, roteirista e diretor não se preocuparam em
aprofundar o tema, por que desviar a atenção das cabeças rolando e voando para o
colo do espectador que está na sala só para levar muito susto e ver o sangue
jorrar? O adolescente que gosta de filme de ação pela ação com pitadas de
horror gótico, é bem capaz de se divertir sem precisar incomodar o seu Tico e
Teco.
O cinema do
russo Bekmambetov é repleto de efeitos especiais mirabolantes que beiram o
surreal. No começo é um deleite para os olhos, mas logo o cisco começa a
incomodar. Ele é ousado ao apostar todas as fichas na pirotecnia dos impressionantes
efeitos especiais, todavia, tudo o que é over
(matança de vampiros, por exemplo) acaba cansando o olhar (do público mais
velho?) pela repetição. É claro que nem sempre tudo funciona às mil maravilhas
e no meio do excesso acaba se perdendo a essência do conteúdo. Aí, sem um bom
roteiro, quem acaba dando as caras são os defeitos: a maquiagem é medonha, o
único a envelhecer (na história) é o Abraham
Lincoln. Quanto aos slides, fotografia (?) de vampiro, projetores..., é
melhor ver (para não se aborrecer) como “liberdade poética”. Na excelência do
elenco o destaque vai para Cooper e o seu sedutor e mortal Henry.
Nenhum comentário:
Postar um comentário