sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Crítica: Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros



O roteirista e escritor Seth Grahame-Smith conta que a ideia para escrever Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros surgiu em 2009, durante a turnê para divulgar seu livro Orgulho e Preconceito e Zumbis. Segundo ele: “Aquele ano foi o bicentenário do nascimento de Abraham Lincoln, e muitas livrarias da minha turnê promocional tinham duas exposições: uma oferecia livros sobre a vida do Lincoln; a outra era composta por livros sobre vampiros, inclusive os livros da série Crepúsculo e de Sookie Stackhouse (a série da televisão “True Blood” foi baseada em sua obra). Isso me fez querer juntar os dois assuntos.” O cineasta Tim Burton, que ouviu falar do livro em desenvolvimento, assim justificou o seu interesse de produtor: “Toda a vida de Lincoln reflete a mitologia clássica dos quadrinhos de super-heróis. É uma dualidade: durante o dia, ele é o presidente dos Estados Unidos; à noite, caçador de vampiros.

E é isso mesmo, o Lincoln, de Seth, Burton e Bekmambetov, que chega aos cinemas (não conheço o do livro), fazendo justiça com o seu machado de 1001 utilidades, pode ser visto como um super-herói raivoso, bem ao gosto (massacre) norte-americano. A história de Abraham Lincoln (1809 - 1865) caçando vampiros se passa em Kentucky, Illinois, Louisiana e Washington DC, entre 1820 e 1865. A lenda inicia quando, aos nove anos, Abraham (Lux Haney-Jardine) se envolve numa confusão para salvar escravos negros das chibatadas do malévolo comerciante Jack Barts (Martin Csokas), que ele logo descobre ser o vampiro responsável pela morte de sua mãe. Dez anos depois, Lincoln (Benjamin Walker) só pensa em vingança e encontra no misterioso Henry Sturgess (Dominic Cooper) toda ajuda técnica que precisa para dar cabo aos vampiros que vivem disfarçados (de ferreiros, farmacêuticos, banqueiros) entre os humanos. Abe também sabe como se disfarçar. Durante o dia é um pacato balconista em uma loja de conveniências e de noite é um conveniente exterminador de vampiros.


Ah, entre as duas intensas atividades, o super-herói de ocasião ainda conhece, conquista e se casa com a inocente e romântica Mary Todd (Mary Elizabeth Winstead), estuda Direito (por conta própria) e se mete com a política. E mais, além da “irada” Guerra de Secessão (1861 - 1865) ele vai enfrentar uma sucessão de ataques vampirescos comandados pelo milenar Adam (Rufus Sewell) e sua companheira Vadoma (Erin Wasson). Movido por um profundo instinto justiceiro (ou de vingança!), Lincoln nunca esqueceu o que sua mãe lhe disse: “...enquanto não for todo mundo livre, somos todos escravos”. Um pensamento que também parece ter pautado a sua vida política.

Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros (Abraham Lincoln: Vampire Hunter, EUA, 2012), dirigido por Timur Bekmambetov (Guardiões da Noite, Guardiões do Dia, O Procurado), com roteiro frouxo do próprio autor do romance homônimo, Seth Grahame-Smith, é irregular e fragmentado. Apesar do título absurdo sugerir algo tipo B, tipo trash, tipo paródia, é tipo assim: um filme que prefere apostar na ação e horror e na ação e terror e na ação e sustos e na ação pela ação do começo ao fim com pelo menos duas sequências de tirar o fôlego. Ufa! A princípio parece um filme que, ao negar a paródia, também nega o humor, nadando contra a maré sugerida pelo título maluco. No entanto, mesmo querendo parecer sério (!?) há alguns momentos de humor involuntário, como na fantástica perseguição por cima, por baixo, por entre, por trás e pela frente de uma manada de cavalos desembestada. O assalto ao trem também tem algo de humor (negro). Na verdade a narrativa até ensaia algumas situações de humor, o problema é que elas só fazem efeito muito depois da sessão. Isto é, desde que você consiga se lembrar das pequenas cenas “engraçadinhas”. Well, se já é difícil levar a sério um livro com um título tão extravagante (tem quem leva!), que dirá um filme que exagera na bizarrice, que falseia fatos reais para dar veracidade à ficção.


Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros é uma superprodução pensada para o lazer do público adolescente que não está nem aí para a (in)coerência histórica estadunidense e que, à espera de curtir vampiros mais radicais e menos românticos, vai ao cinema pela adrenalina e não pela eventual alegoria e ou metáfora (vampiros brancos: sulistas, confederados e sugadores de sangue de escravos negros). Também porque, do jeito que a questão (socioeconômica e racial) é colocada na trama, pairam dúvidas se é intencional ou um equívoco, um descuido narrativo que passou pela ilha de edição, onde ficaram partes importantes do drama. Enfim, se produtores, roteirista e diretor não se preocuparam em aprofundar o tema, por que desviar a atenção das cabeças rolando e voando para o colo do espectador que está na sala só para levar muito susto e ver o sangue jorrar? O adolescente que gosta de filme de ação pela ação com pitadas de horror gótico, é bem capaz de se divertir sem precisar incomodar o seu Tico e Teco.

O cinema do russo Bekmambetov é repleto de efeitos especiais mirabolantes que beiram o surreal. No começo é um deleite para os olhos, mas logo o cisco começa a incomodar. Ele é ousado ao apostar todas as fichas na pirotecnia dos impressionantes efeitos especiais, todavia, tudo o que é over (matança de vampiros, por exemplo) acaba cansando o olhar (do público mais velho?) pela repetição. É claro que nem sempre tudo funciona às mil maravilhas e no meio do excesso acaba se perdendo a essência do conteúdo. Aí, sem um bom roteiro, quem acaba dando as caras são os defeitos: a maquiagem é medonha, o único a envelhecer (na história) é o Abraham Lincoln. Quanto aos slides, fotografia (?) de vampiro, projetores..., é melhor ver (para não se aborrecer) como “liberdade poética”. Na excelência do elenco o destaque vai para Cooper e o seu sedutor e mortal Henry.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...