Quem já
viu algum filme de Beto Brant sabe que em suas histórias (adaptadas dos livros
do escritor Marçal Aquino) os personagens são tensos, irritadiços, ansiosos....,
parecem querer (sempre) distância do espectador. Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, é um belo
título, sugere um romance melodramático leve. No entanto, traz um drama pesado,
melancólico, à beira do trágico.
A trama
de Eu receberia as piores notícias dos
seus lindos lábios (Brasil, 2011), com direção de Beto Brant e Renato
Ciasca, se passa numa pequena cidade ribeirinha do Pará, onde a vida de
três protagonistas flui em águas enganosamente mansas. O Pastor Ernani (Zé Carlos
Machado) é um evangélico que acredita na redenção através da palavra de seu
Deus. Lavínia (Camila Pitanga), a sua devotada esposa, tem razões para não duvidar
da sua Fé, mas não se satisfaz com o seu amor imparcial. O fotógrafo Cauby (Gustavo Machado), de passagem pela região e apaixonado por ela, quer
lhe dar muito mais que cânticos bíblicos. Ernani
ama Lavínia que ama Ernani e Cauby, de maneiras (e intensidade!) diferentes. Em comum com os
dois homens a mulher tem apenas o presente. O passado com Ernani é uma catarse em andamento. O futuro com Cauby está guardado
numa pequena caixa (de Pandora?).
Quando se
trata de amor a três (na literatura/música/teatro/cinema) todo mundo sabe que alguém
(sempre) acaba sobrando (ou se dando mal) na relação. É que, razão, desejo e
paixão são substantivos que não se conjugam no mesmo tempo. Eu receberia as piores notícias dos seus
lindos lábios tem uma história (se não tão original) ao menos curiosa e muito
sensual, na tradução dos atos de amor cujo êxtase deixa seus protagonistas a um
passo do Céu e ou do Inferno. Já que, na Fé ou em Eros, o orgasmo é o mesmo. No
entanto, ao buscar ser mais do que realmente é (sem nenhum demérito: dramática,
romântica, trágica, lasciva, com todos os clichês do gênero), apelando para uma
cansativa narrativa viciada em fade,
acaba comprometendo a leitura do espectador comum, que não está nem aí para o
subtexto.
O filme
tem algumas sequências magníficas e outras que não se sabe o que fazem ali.
Parecem mais um tapa-buraco, uma pedra no meio do caminho dos amantes que não
têm envolvimento algum com “cenas-denúncias” de devastação da Amazônia. Não há
nem mesmo uma justificativa plausível para a morte de um pacifista e
conciliador que incomodava (?). Barcas
com madeira, garimpo, agronegócios..., podem até funcionar como mensagens
subliminares, mas como trama paralela inexistem. Enquanto a caravana (coadjuvante)
passa não há um cão (protagonista) sequer a ladrar. Já que o Pastor só está interessado em
evangelizar e Lavínia e Cauby em fazer sexo. Cada um na sua
crença e (aparentemente) alheios ao mundo ao redor.
Baseado
no livro homônimo de Marçal Aquino, com roteiro de Beto Brant, Renato
Ciasca e do próprio autor, Eu receberia
as piores notícias dos seus lindos lábios tem excelente elenco, com
destaques para a intepretação espetacular de Camila Pitanga (uma das mais
intensas do cinema nacional recente), que se entrega de corpo e alma à instável
Lavínia, cheia de graça e pecado, e a
performance vigorosa de Zé Carlos Machado, na criação de um Pastor tão carismático quanto perturbador. Mas quem rouba as
pequenas cenas é Gero Camilo, na
pele do colunista Viktor Laurence, cuja
verve, docemente venenosa, pode ser o fiel da balança do Senhor (de todos os
verbos). Há lacunas a serem preenchidas e excessos a serem lapidados (pelo
público). O excesso de fade deixa o
filme tão moroso que, a certa altura, parece não ter fim. Ainda assim, apesar
dos estorvos, a quase ausência de trilha sonora e a bela fotografia compensam a
sessão.
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