sábado, 28 de janeiro de 2012

Crítica: Os Descendentes



Geralmente filmes-família são produções melodramáticas cujo público alvo favorito (mas não exclusivo!) é o feminino, tamanha a choramingas, mensagens altruístas e de autoajuda etc. No entanto, tem sempre um ou outro diretor que consegue realizar filmes-família fugindo dos clichês e passando ao largo da tradição, família, patrimônio. Um desses caras é Alexander Payne, do divertido Sideways - Entre Umas e Outras (2004), que é chegado num humor (negro ou nonsense) inesperado e ou desesperado, em produções que agradam também o público masculino.

Os Descendentes (The Descendants, EUA, 2011), seu mais recente trabalho, é um drama que (por conta do humor juvenil) se desenvolve com a leveza de uma romântica crônica de costumes. Matt King (George Clooney) é um advogado bem sucedido que reside confortavelmente, mas sem ostentação, no Havaí. Excessivamente dedicado ao trabalho, ele só se dá conta de que vive alheio à família quando um grave acidente com a sua mulher, Elizabeth (Patricia Hastie), o obriga a cumprir integralmente o papel de pai de duas garotas, Alexandra (Shailene Woodley), de 17 anos, e Scottie (Amara Miller), de 10. Como se não bastasse a dificuldade em lidar com as filhas, Matt tem ainda que contornar a ansiedade da parentada que insiste na venda um belo e valioso pedaço de terra (sob sua guarda), que vai render uma boa grana para todos.


Baseado no romance de Kaui Hart Hemmings, o filme tem um argumento simples (até banal), mas o roteiro bacana (de Alexander Payne e Nat Faxon), com bons diálogos, e ótima direção, lhe dá um charme todo especial. O seu diferencial é que o foco da narrativa não está no velho clichê da mulher em crise tentando reverter o seu casamento (a favor da sagrada família etc), também porque a mulher (se for o caso) está em coma e indefesa. Ele agora intensifica o curto-circuito na cabeça de um homem/marido (ausente) que busca respostas para os acontecimentos que abalaram o seu casamento e a relação afetiva com as filhas.


Os Descentes é um filme bonito e envolvente o suficiente para provocar lágrimas e sorrisos. Payne é mordaz na leitura crítica do homem que, ausente de si mesmo, se refugia no trabalho, acumulando bens que não usufruirá, e daquele que usufrui o bem alheio, por capricho (ou herança). Mas também é singelo ao tratar das pequenas coisas que realmente importam na vida. Há um humor (negro) beirando o nonsense, na conduta impulsiva de Matt (enquanto marido) e ou prudente (enquanto advogado), e ironia, na paisagem paradisíaca que emoldura e na canção bucólica que embala o seu maior dilema.

Clooney encarna a Matt King com prazerosa naturalidade, dividindo excelentes cenas com o competentíssimo elenco jovem. Entre tantas boas sequências, vale destacar a hilária conversa de “aconselhamento” entre Matt (insone e angustiado) e o sonolento Sid (Nick Krause), um adolescente (meio sem noção) amigo de Alexandra. Quanto ao título, o espectador verá que ele se justifica do começo ao fim.

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