Geralmente
filmes-família são produções melodramáticas cujo público alvo favorito (mas não
exclusivo!) é o feminino, tamanha a choramingas, mensagens altruístas e de
autoajuda etc. No entanto, tem sempre um ou outro diretor que consegue realizar
filmes-família fugindo dos clichês e passando ao largo da tradição, família,
patrimônio. Um desses caras é Alexander
Payne, do divertido Sideways - Entre
Umas e Outras (2004), que é chegado num humor (negro ou nonsense)
inesperado e ou desesperado, em produções que agradam também o público
masculino.
Os Descendentes (The
Descendants, EUA, 2011), seu mais recente trabalho, é um drama que (por
conta do humor juvenil) se desenvolve com a leveza de uma romântica crônica de
costumes. Matt King (George Clooney) é um advogado bem
sucedido que reside confortavelmente, mas sem ostentação, no Havaí.
Excessivamente dedicado ao trabalho, ele só se dá conta de que vive alheio à
família quando um grave acidente com a sua mulher, Elizabeth (Patricia Hastie),
o obriga a cumprir integralmente o papel de pai de duas garotas, Alexandra (Shailene Woodley), de 17 anos, e Scottie (Amara Miller),
de 10. Como se não bastasse a dificuldade em lidar com as filhas, Matt tem ainda que contornar a ansiedade
da parentada que insiste na venda um belo e valioso pedaço de terra (sob sua
guarda), que vai render uma boa grana para todos.
Baseado no romance de Kaui Hart Hemmings, o filme tem um argumento simples (até
banal), mas o roteiro bacana (de Alexander Payne e Nat Faxon), com bons
diálogos, e ótima direção, lhe dá um charme todo especial. O seu diferencial é
que o foco da narrativa não está no velho clichê da mulher em crise tentando
reverter o seu casamento (a favor da sagrada família etc), também porque a
mulher (se for o caso) está em coma e indefesa. Ele agora intensifica o
curto-circuito na cabeça de um homem/marido (ausente) que busca respostas para
os acontecimentos que abalaram o seu casamento e a relação afetiva com as
filhas.
Os Descentes é um filme bonito e envolvente o
suficiente para provocar lágrimas e sorrisos. Payne é mordaz na leitura crítica
do homem que, ausente de si mesmo, se refugia no trabalho, acumulando bens que
não usufruirá, e daquele que usufrui o bem alheio, por capricho (ou herança). Mas
também é singelo ao tratar das pequenas coisas que realmente importam na vida. Há
um humor (negro) beirando o nonsense, na conduta impulsiva de Matt (enquanto marido) e ou prudente
(enquanto advogado), e ironia, na paisagem paradisíaca que emoldura e na canção
bucólica que embala o seu maior dilema.
Clooney
encarna a Matt King com prazerosa
naturalidade, dividindo excelentes cenas com o competentíssimo elenco jovem. Entre
tantas boas sequências, vale destacar a hilária conversa de “aconselhamento”
entre Matt (insone e angustiado) e o
sonolento Sid (Nick Krause), um adolescente (meio sem noção) amigo de Alexandra. Quanto ao título, o
espectador verá que ele se justifica do começo ao fim.
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