Um filme
com o título Viagem 2 pressupõe-se
um anterior, digamos, Viagem 1, ou
apenas Viagem, certo? Bom, mais ou
menos. Ou melhor, em se tratando de franquia e condicionamento do público, até
que deveria ser assim, mas não é. Também porque antes do Viagem 2 existe apenas o Viagem
ao Centro da Terra (Journey to the
Center of the Earth), de 2008 e que, de comum, tem a “inspiração” nas obras
de Júlio Verne e o ator juvenil Josh Hutcherson. Que viagem, não é?! Ah, e
antes que você pergunte, o livro A Ilha
Misteriosa também não é a segunda história da série Viagens Extraordinárias de Júlio Verne.
Viagem 2: A Ilha Misteriosa (Journey
2: The Mysterious Island, EUA, 2012), dirigido por Brad Peyton, é mais uma produção levemente inspirada em um ou outro
detalhe de A Ilha Misteriosa, de Júlio Verne (1828 - 1905), publicado em
1874, e que já foi alvo de diversas adaptações e versões. No cinema: 1929: A Ilha Misteriosa (EUA), de Lucien
Hubbard; 1951: A Ilha Misteriosa
(seriado - EUA), de Spencer Gordon Bennett; 1961: A Ilha Misteriosa (EUA/RU), de Cy Endfield; 1982: A Ilha Misteriosa (Hong Kong), Chang
Cheh; 1990: anime Nadia, O Segredo da
Água Azul (Japão). Na TV: 1963: A
Ilha Misteriosa (França), de Pierre Badel; 1973: A Ilha Misteriosa (França/Espanha), de Juan Antonio Bardem; 2005: A Ilha Misteriosa (EUA), de Russell
Mulcahy. Em HQ: 1970/71: Misteriosa
Manhã, Tarde e Noite (França), por Jean-Claude Floresta; 1973: A Ilha Misteriosa (Itália), Franco
Caprioli; 2010: A Ilha dos Mil Mistérios
(França), por Alban Guillemois.
Nesta
mais recente versão de A Ilha Misteriosa
(Júlio Verne), com citações de As Viagens
de Gulliver (Jonathan Swift) e Ilha do Tesouro (Robert Louis Stevenson), o jovem Sean (Josh Hutcherson), que era molecote em Viagem ao Centro da Terra, agora é o típico nerd (pelo que diz
sobre si mesmo), um rebelde sem causa que não gosta do padrasto Hank (Dwayne Johnson). No entanto, com a ajuda dele consegue decifrar uma
mensagem codificada, que acredita ser um SOS enviado pelo seu excêntrico avô Alexander (Michael Caine). O problema é que, pelas coordenadas, a tal mensagem
teria vindo de lugar nenhum. Mesmo assim, ele e Hank rumam ao Pacífico Sul, onde contratam um piloto de helicóptero,
o malandrão Gabato (Luis Guzmán), e a sua temperamental
filha Kailani (Vanessa Hudgens), para levá-los ao local descrito por Verne no
livro A Ilha Misteriosa. O grupo
acaba acidentalmente descobrindo que o tal inexistente lugar existe, e abriga fauna
e flora exóticas.
Viagem 2 é clichê (garoto birrento que não se dá
com padrasto camarada, que é fortão, com algum cérebro, e sensível o suficiente
para cantar What a Wonderful World)
atrás de efeitos especiais atrás de clichê (garoto riquinho e ansioso quer
conquistar garota pobre e independente, cujo pai “herói” é um bobalhão) etc. O desastroso
“roteiro” parece um queijo suíço capenga, mas geralmente o público alvo (garotada
dos sete aos quinze?) nem nota e ou se preocupa com isso. Afinal, é um filme de
aventura e ação (tipo: corre um pouquinho e descansa um pouquinho) para o
espectador nada exigente, que se deleita com alguns efeitos bacaninhas, bichinhos
fofinhos ou feiosinhos e flores esquisitinhas, enquanto espera pelo óbvio final
(?) feliz, se empanturrando de pipoca e refri..
Não custa
(re)lembrar ao espectador que não se ligou na sinopse e que espera ver (a
qualquer momento) referências à velha história (original) sobre abolicionistas
americanos em fuga..., que o enredo é outro. Aqui, os personagens são contemporâneos
e se estão fugindo é de suas vidas tediosas. O título da obra de Verne é apenas
um chamariz para mais um argumento desperdiçado. O que se vê, entre uma queda e
outra e entre uma mensagem edificante e outra, é apenas uma ilha fantasiosa com
algum “mistério” sem muita convicção e cinco “sobreviventes” quase enfadonhos (na
falta de antagonistas diretos), forçando na simpatia.
Viagem 2: A Ilha Misteriosa é o típico filme-família, linear e cheio
de boas intenções altruístas, ao gosto do público-família. Às vezes ridículo,
na exploração de gags (velhas) sem graça, e às vezes insensato, ao desperdiçar as
poucas boas ideias. É também (inconscientemente?) saudosista ao lembrar aos
cinéfilos que o Michael Caine, “amigo” das abelhas assassinas, lá em 1978, quando
encarnou o entomologista Brad Crane, na luta contra O Enxame (The Swarm - considerado um dos piores filmes de todos os
tempos), de Irwin Allen, pode se sentir (de certa forma) “recompensado” (pelas
abelhas) nesta Ilha Misteriosa onde insetos
gigantescos são dóceis montarias.
Brad
Peyton não conseguiu a melhor atuação do elenco, que merecia uma trama melhor, ficando
ali no razoável caras e bocas, em meio a pirotecnia visual. Tecnicamente, quem
gostou do 3D de Viagem ao Centro da Terra,
possivelmente não terá do que reclamar do 3D deste, também em versão IMAX. Agora
é esperar para ver como sairá a sequência da franquia no anunciado (?) Viagem 3: Da Terra à Lua (de 1865).
É razoável
ResponderExcluir..., conforme a expectativa, passa bem o tempo. ..., ou deixa pra lá!
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