Nos
últimos anos, o documentário biográfico, gênero que explora a vida de
personalidades, celebridades, artistas e outros “famosos”, se “popularizou” no Brasil.
Diversos diretores, principalmente iniciantes, fizeram, estão fazendo ou vão
fazer o seu Doc-Bio. O “fazer” até que é fácil, o difícil é “ver” alguma das
produções (que passar pela seleção!) além dos festivais. A informação de que um
documentário nacional está em cartaz (num shopping?) talvez faça alguma diferença
(para o espectador) se o biografado for “aquele alguém” muito (mas muito) conhecido.
Caso contrário, ele será (?) projetado para ninguém. Na verdade, nem mesmo a
cinebiografia é garantia de sucesso no Brasil ou no estrangeiro.
Após tangenciar
o gênero (biografia) em Invictus (2009),
num breve retrato de Nelson Mandela (às voltas com o cumprimento dos Direitos Humanos
na África do Sul), Clint Eastwood se aprofundou no estilo para beliscar John
Edgar Hoover (1895 - 1972). Nada mais oposto que Mandela (noite) e Hoover (dia).
Nada mais invictus que ambos, no desejo
de servir a pátria amada (África/EUA). Porém, como na vida tudo é uma questão
do ponto que se avista, atos de heroísmo e ou de crueldade podem variar no peso
e na medida. O valor de cada um depende (mesmo) é do gesto do “beneficiador” e
da satisfação do “beneficiado”.
Baseado
no roteiro de Dustin Lance Black, o filme se desenvolve a partir de uma
hipotética biografia que, em 1970, J. Edgar
(Leonardo DiCaprio) dita a
sucessivos agentes, exaltando tão somente os seus grandes feitos patrióticos à
frente do FBI. A história vai e volta no tempo, ao ritmo de suas lembranças.
Anos 20, 40, 60, 70 vão se desfiando num flashback que aos poucos tece e amarra
a trama que aposta apenas na sua essência. O que se vê é uma dramatização que rela
a intimidade profissional e doméstica de Hoover, buscando mais ilustrar do que
comprovar fatos da vida deste enigmático (e obsessivo) senhor que, do governo
de Calvin Coolidge (1920) a Richard M. Nixon (1970), por 48 anos consecutivos, dirigiu
(com mãos de ferro) o FBI, praticamente, reportando os seus discutíveis atos a si
mesmo.
Como toda
biografia gera dúvidas, muitos questionam a veracidade desta versão sobre o homem do FBI que acreditava
no seu dever cívico de proteger os norte-americanos dos
(ataques) “bolcheviques comunistas”. A narrativa de J. Edgar (J. Edgar, EUA,
2011), é fragmentada e até meio confusa. O foco se divide entre suas “ações
patrióticas”; a relação (e dependência) profissional e social com Clyde Tolson (Armie Hammer) e de segredos com a secretária Helen Gandy (Naomi Watts);
e a submissa convivência com a mãe Anne
Marie Hoover (Judi Dench). Clint
não julga e ou enaltece as polêmicas atividades do lendário e temido “servidor
público” que perseguiu artistas, chantageou autoridades (John F. Kennedy) e
personalidades (Martin Luther King Jr.). Tampouco vai além do convencional ao
abordar a especulação corrente de que ele era homossexual e amante de Tolson.
Justificando
o primeiro parágrafo, a curiosa história de John Edgar, responsável pela modernização
das técnicas de investigação científica criminal, resultou num bom filme, mas que
dividiu a crítica. Parece que mesmo quem não tinha a menor ideia de quem foi ele,
esperava algo mais escandaloso (?), mais gay (?), mais contundente (?). Ou
seja, nem sempre menos (embromação) é mais (informação) para entreter o público
combo. A direção de Clint Eastwood é segura e Leonardo DiCaprio delicia o
espectador com uma atuação tão brilhante, ao “humanizar” J. Edgar, que pouco sobra para os ótimos desempenhos de Judi Dench,
Armie Hammer e Naomi Watts. A excepcional fotografia “envelhecida” de Tom Stern
e o belo figurino de Deborah Hopper (conforme a luminosidade da época) dão um
maravilhoso tom nostálgico. O vacilo (?) fica por conta do exagero na impressionante
maquiagem de envelhecimento que faz Clyde
Talson e Helen Gandy parecem
centenários (aos oitenta anos).
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