quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Crítica: J. Edgar



Nos últimos anos, o documentário biográfico, gênero que explora a vida de personalidades, celebridades, artistas e outros “famosos”, se “popularizou” no Brasil. Diversos diretores, principalmente iniciantes, fizeram, estão fazendo ou vão fazer o seu Doc-Bio. O “fazer” até que é fácil, o difícil é “ver” alguma das produções (que passar pela seleção!) além dos festivais. A informação de que um documentário nacional está em cartaz (num shopping?) talvez faça alguma diferença (para o espectador) se o biografado for “aquele alguém” muito (mas muito) conhecido. Caso contrário, ele será (?) projetado para ninguém. Na verdade, nem mesmo a cinebiografia é garantia de sucesso no Brasil ou no estrangeiro.  

Após tangenciar o gênero (biografia) em Invictus (2009), num breve retrato de Nelson Mandela (às voltas com o cumprimento dos Direitos Humanos na África do Sul), Clint Eastwood se aprofundou no estilo para beliscar John Edgar Hoover (1895 - 1972). Nada mais oposto que Mandela (noite) e Hoover (dia). Nada mais invictus que ambos, no desejo de servir a pátria amada (África/EUA). Porém, como na vida tudo é uma questão do ponto que se avista, atos de heroísmo e ou de crueldade podem variar no peso e na medida. O valor de cada um depende (mesmo) é do gesto do “beneficiador” e da satisfação do “beneficiado”.


Baseado no roteiro de Dustin Lance Black, o filme se desenvolve a partir de uma hipotética biografia que, em 1970, J. Edgar (Leonardo DiCaprio) dita a sucessivos agentes, exaltando tão somente os seus grandes feitos patrióticos à frente do FBI. A história vai e volta no tempo, ao ritmo de suas lembranças. Anos 20, 40, 60, 70 vão se desfiando num flashback que aos poucos tece e amarra a trama que aposta apenas na sua essência. O que se vê é uma dramatização que rela a intimidade profissional e doméstica de Hoover, buscando mais ilustrar do que comprovar fatos da vida deste enigmático (e obsessivo) senhor que, do governo de Calvin Coolidge (1920) a Richard M. Nixon (1970), por 48 anos consecutivos, dirigiu (com mãos de ferro) o FBI, praticamente, reportando os seus discutíveis atos a si mesmo.

Como toda biografia gera dúvidas, muitos questionam a veracidade desta versão sobre o homem do FBI que acreditava no seu dever cívico de proteger os norte-americanos dos (ataques) “bolcheviques comunistas”. A narrativa de J. Edgar (J. Edgar, EUA, 2011), é fragmentada e até meio confusa. O foco se divide entre suas “ações patrióticas”; a relação (e dependência) profissional e social com Clyde Tolson (Armie Hammer) e de segredos com a secretária Helen Gandy (Naomi Watts); e a submissa convivência com a mãe Anne Marie Hoover (Judi Dench). Clint não julga e ou enaltece as polêmicas atividades do lendário e temido “servidor público” que perseguiu artistas, chantageou autoridades (John F. Kennedy) e personalidades (Martin Luther King Jr.). Tampouco vai além do convencional ao abordar a especulação corrente de que ele era homossexual e amante de Tolson.


Justificando o primeiro parágrafo, a curiosa história de John Edgar, responsável pela modernização das técnicas de investigação científica criminal, resultou num bom filme, mas que dividiu a crítica. Parece que mesmo quem não tinha a menor ideia de quem foi ele, esperava algo mais escandaloso (?), mais gay (?), mais contundente (?). Ou seja, nem sempre menos (embromação) é mais (informação) para entreter o público combo. A direção de Clint Eastwood é segura e Leonardo DiCaprio delicia o espectador com uma atuação tão brilhante, ao “humanizar” J. Edgar, que pouco sobra para os ótimos desempenhos de Judi Dench, Armie Hammer e Naomi Watts. A excepcional fotografia “envelhecida” de Tom Stern e o belo figurino de Deborah Hopper (conforme a luminosidade da época) dão um maravilhoso tom nostálgico. O vacilo (?) fica por conta do exagero na impressionante maquiagem de envelhecimento que faz Clyde Talson e Helen Gandy parecem centenários (aos oitenta anos).

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