Ali pelos anos 70, frequentando um cineclube,
em Brasília, assisti ao magnífico Alexander
Nevski (1938), de Sergei Eisenstein
(1898 - 1948), um dos mais belos filmes que já vi. Inesquecível! No final Alexander tem a sua fala mais memorável: “Vão e digam a todos, em terras estranhas, que a Rússia está viva. Que
venham nos visitar. Mas, quem vier com ferro, com ferro será ferido. Assim é, e
assim sempre será na terra russa.” Por que estou me lembrando deste clássico
agora? Pelo patriotismo genuíno, quando da invasão dos Cavaleiros Teutônicos,
em Alexander Nevski e o patriotismo
de ocasião, quando da invasão dos ETs Fractais, em A Hora da Escuridão.
Hãããnnn? Explico: A Hora da Escuridão (The Darkest
Hour, EUA, 2011) de Chris Gorak,
narra as aventuras desastrosas de quatro jovens americanos e um sueco pelas
ruas de Moscou, durante recente ocupação (também) alienígena da bela capital
russa (que mais parece terra de ninguém). Hãããnnn? É o seguinte, Sean (Emile Hirsch) e Ben (Max Minghella) são dois
web-empreendedores que vão à Moscou vender a ideia de uma Rede Social (que
indica os melhores points em todo o
mundo) e lá eles descobrem que um empresário sueco, Skylar (Joel Kinnaman), está
negociando o mesmo projeto (engraçado, acho que já vi esse filme!). Estranhos
numa terra estranha, os jovens resolvem afogar as mágoas no point dos points russos: Zvezda Nightclub, onde conhecem as turistas
americanas Natalie (Olivia Thirlby) e Anne (Rachael Taylor), que
iam para o Nepal, mas por um erro de escala desembarcaram em Moscou, e ainda dão
de cara com Skylar, comemorando o
sucesso do seu empreendimento.
Para encurtar, no melhor da festa um blecaute
leva os frequentadores para fora do bar onde, maravilhados e estarrecidos (isso
é possível?), eles assistem a uma chuva de algo parecido com fractais (tipo águas-vivas
luminosas) que vaporizam todo ser vivo que tocam. Acredite, esses seres
estranhos querem transformar todo mundo em cinza purpurinada. Até parece que
generalizaram a fala creditada a Américo Issa (se não me engano), o cenógrafo
do genial Dzi-Croquettes: “Bicha não morre, vira purpurina!”. Bom, entre
milhões de pessoas os cinco protagonistas aparentemente são os únicos
sobreviventes. Os americanos, feito bebês chorões, só querem saber de voltar
para casa, para o colo da mamãe. O sueco não tem certeza de nada. Meio ao caos,
nessa jornada do salve-se quem puder, eles acabam descobrindo que não estão
sozinhos (oh!). É um “cientista” maluco aqui e uma versão russa de o Incrível Exército de Brancaleone
(1966), de Mario Monicelli (1915 - 2010), acolá. Aí, o que era americanófilo
vira russófilo e desanda de vez a patriotice sobre a importância da família e a
união de forças na defesa da sua casa/terra (americana e russa). Então só resta
ao cinéfilo se deixar levar por um tornado de emoções baratas e se render à enaltecedora
fala de Dorothy, ao final de O Mágico de Oz (1939), de Victor
Fleming (1889 - 1949): “There is no place like our home” - “Não há lugar como
nosso lar”.
Baseado no roteiro de Jon Spaihts, o filme de
ação e aventura, com algum suspense, até que tem alguns achados que são logo
perdidos, já que o roteirista e o diretor não sabem o que fazer com eles. Por
exemplo, criar ETs “invisíveis” é uma
ideia bacana, pena que, antes de apagar, mostram a sua cara (adivinhe!) de Alien. Outra sacada legalzinha é a das
lâmpadas. Tem mais uns dois lances, mas é melhor que o espectador descubra (se
puder) por conta própria. E já que a criatividade não é o forte do argumento, lá
vai ele para o lugar comum dos invasores: atropelar tudo que encontrar pela
frente para roubar algo que poderia se pego (in natura) longe da vista de todos os humanos. Lógica que é bom,
nada! Por falar nisso, a Terra está parecendo a Casa da Mãe Joana. É um tal de ETs dizimando gente para explorar a água
(Invasão do Mundo: Batalha de LosAngeles), o ouro (Cowboys & Aliens), o minério (Guerra dos
Mundos), o vegetal (ET)..., que
não acaba mais. Caramba, tudo aqui, tudo aqui. Quer dizer, tudo nos EUA, tudo
nos EUA. Ah, e agora também na Rússia! E só para situar, o ataque destes novos ETs, com seus tentáculos acesos, lembra
um bocado o ataque daqueles velhos ETs
do Spielberg que explodiam (ou será que vaporizavam?) os humanos em Guerra dos Mundos (2005). Será que
desenvolveram ou negociaram a mesma tecnologia letal? Pode ser mera
coincidência!
A Hora
da Escuridão tem lindos enquadramentos de Moscou, mas (e daí?) a sua
história (para) adolescente não empolga, não convence. Os “diálogos” óbvios são
tão pavorosos quanto o roteiro frouxo. Algumas sequências (de tão ridículas) se
tornam risíveis. Será que ao buscar a Embaixada Americana os jovens realmente acreditam
que, por ser americana, ela não será atingida? Enfim, se fosse menos
pretensioso A Hora da Escuridão até seria
um bom trash. Infelizmente, na sua
cara pirotecnia, não tem material suficiente para o lado mais “B” da ficção
científica. Substituir o tradicional negro (cota) por um sueco e o latino
(cota) ou asiático (cota) por uma loira burra, não fez nenhuma diferença étnica
no descarte final, já que o elenco não têm química e não há performance alguma
a destacar. Os efeitos especiais retrô dos ETs,
aos modos das abstrações digitais dos anos 80, são fogo-fátuo. Pensando melhor,
acho que tem algo memorável sim, o gato DJ
Lance Rock e a sua teia luminosa. Pena que o seu tempo em cena seja tão
curto (no circuito). Ah, enquanto isso,
o tenso e divertido filme inglês de ficção científica Attack the Block, do estreante diretor Joe Cornish, saiu
diretamente em DVD. Vai entender.
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