domingo, 16 de maio de 2010

Crítica: Robin Hood


Robin Hood
como nunca se viu

No mundo tem Robin Hood pra todos os gostos: da literatura ao teatro, do cinema à TV. Cada um aos modos de seu realizador, para o bem ou para o mal da lenda. No cinema se destacam o clássico As Aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood, EUA, 1938), de Michael Curtiz e William Keighley, com Errol Flynn (Robin) e Olivia de Havilland (Marian); o divertido: Robin Hood (Robin Hood, EUA, 1973), animação da Disney, em que Robin e Marian são raposas, dirigida por Wolfgang Reitherman; o romântico: Robin e Marian (Robin and Marian, EUA, 1976), de Richard Lester, com Sean Connery (Robin) e Audrey Hepburn (Marian); o meia-boca: Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões (Robin Hood: Prince of Thieves, EUA, 1991) - Kevin Costner (Robin) e Mary Elizabeth Mastrantonio (Marian), dirigido por Kevin Reynolds; o maluco: A Louca História de Robin Hood (Robin Hood: Men in Tights, EUA, 1993), com Cary Elwes (Robin) e Amy Yasbeck (Marian), na cômica visão de Mel Brooks. Mas, nada se compara à versão épica do mítico herói inglês, com Russel Crowe (Robin) e Cate Blanchett (Lady Marian), de Ridley Scott, que chegou pra ser um novo começo de saga.

As adaptações anteriores têm uma introdução rápida do herói (voltando pra casa) e, então, os rotineiros saques, duelos, Príncipe João, Xerife, Coração de Leão etc. Este Robin Hood, de Ridley Scott, com roteiro de Brian Helgeland, é um longo prólogo que termina onde os outros começam. Por enquanto, Robin é Robin de Lockstride e não voltou pra roubar dos ricos para dar aos pobres. Quer dizer, mais ou menos. Ele até faz jus a fama, ao “recuperar” algumas sementes sequestradas da propriedade de Lady Marion Loxley, em Nottingham, pela Igreja Católica, e pouco antes de chegar ali se apossa de alguns bens. Porém, tudo em boa causa (própria).

Robin é um arqueiro que luta bravamente ao lado de Ricardo Coração de Leão e, após a morte do rei, deserta, com quatro amigos. Na estrada encontra um moribundo que pede pra ele levar a coroa do rei morto, pra Inglaterra, e uma espada ao seu pai, Sir Walter Loxley (Max von Sydow), em Nottingham. Robin entrega a coroa e João Sem Terra (Oscar Isaac) é coroado. Ao devolver a espada ao Sir Walter, é convidado a ocupar o lugar do seu filho, que era casado com Lady Marion. Ele acaba se envolvendo com Marion, guerra civil e invasão francesa. Só depois disso tudo, possivelmente no Robin Hood – 2, é que veremos se o fora-da-lei, que virou lenda, em algum momento entre os séculos XII e XIII ou XIV e XV, continua (ou inicia a sua saga) fora-da-lei. Ah, especula-se que teria vivido por volta do século XII.


O título poderia muito bem receber um complemento: Robin Hood - A Origem, aproveitando a onda de origens (e “origens”) que tomou conta das HQs e filmes de super-heróis. Se bem que, com tanto herói perdendo a identidade, por conta dos intermináveis começos e recomeços, é melhor deixar como está. O lendário Robin, na narrativa de Scott, continua sendo um bom sujeito, mas sem a alegria e a sagacidade habituais em outras telas. É um arqueiro (cheio de ressentimentos) quase taciturno, que lutou e não gostou do viu e fez nas Cruzadas. Um cara que lembra Maximus (Crowe), o herói de Gladiador (Gladiator, EUA, 2000) e está muito próximo de Balian (Orlando Bloom), herói de Cruzada (Kingdom of Heaven - Espanha, EUA, Inglaterra, 2005), com suas preocupações político-religiosas. Assim como Balian, Robin bota lenha (com gosto) na fogueira da tirania católica com suas imperdoáveis atrocidades em nome do seu deus.

Na internet se lê muita bobagem sobre esta nova versão. Cobram (onde já se viu?) veracidade com a lenda (conforme apresentada em outros filmes) e coerência com alguns fatos históricos, que estão sendo revistos por historiadores. Ora, lenda por lenda, dúvida por dúvida, que viva o espetáculo, até que se chegue (ou não) a um consenso! Quem não tem o que dizer se incomoda até com a idade de Russel Crowe, como se os outros Robin Hood fossem muito mais novos. Sean Connery que o diga! Esta (re)leitura de Scott, que jura fidelidade histórica (bem, ele é inglês!), é muito melhor do que sugeria o trailer. Pode não ser muito convincente uma Lady Marion tão independente, dando uma de pré Joana d’Arc (Jeanne d’Arc - 1412-1431), mas, sei lá, desde que o feminismo “venceu” (em Hollywood, ao menos), as mulheres viram heroínas, a tordo e a direito, do passado ao futuro, ainda que o macho-falocratismo reine, enfrentando todo tipo alienígena na Terra ou no Céu.

Robin Hood é excelente, factual ou não. Um entretenimento garantido e com ótimas sequências de lutas, mais aprimoradas que em Gladiador e Cruzada. A quantidade de soldados que Ridley coloca em cena de batalha, ocupando cada milímetro da tela, aproximando o espectador da luta, é cada vez mais impressionante. Ponto para a fotografia de John Mathieson. É um filme pra quem gosta de ação e aventura, que vai ao cinema pra se divertir e não pra assistir aula de história geral. Tem alguma graça (não hilária) e pode até agradar o público feminino, apesar do ar pouco romântico. Gostar do ator e diretor já é meio filme projetado, se não, nem a cena de um Russell Crowe, com a sua cara de mamãe quero colo, exibindo um inacreditável e volumoso torso nu, dá jeito.

Com tantas lendas retornando, o que impedia Robin de voltar? Nada! Só o fato de não ser mais uma refilmagem do mesmo, já vale o ingresso. É provocativo (que o diga os pesquisadores), novo, simpático, crítico, muito bem realizado e com ótimas performances. Pra que mais?

2 comentários:

  1. Caro Joba Tridente,
    Muito boa sua crítica, sem detonar de vez ou puxar o saco do diretor.
    Hoje em dia é cada vez mais comum para os jovens cinéfilos se perderem em detalhes irrelevantes ou efeitos especiais, ao invés de simplesmente aproveitarem os filmes.
    Sorte que comigo não é assim.
    Valeu.

    ResponderExcluir
  2. Olá, Jacques.
    Obrigado pela visita e pelo comentário.
    Gosto de muita coisa (não de tudo) de Ridley Scott. Acho que o bom deste Robin Hood é que as questões políticas e religiosas não foram tratadas como galhofas.
    Que bom que tenha uma formação cinematográfica diferenciada. Isso, sem dúvida, valoriza e facilita a leitura de um filme por novos viés.
    Quanto aos jovens cinéfilos se perderem em detalhes irrelevantes e efeitos especiais, eles não estão sozinhos. Tem muitos adultos e uma penca de diretores de cinema deslumbrados com recursos digitais e 3D. Mas na hora de contar uma boa história...

    Grande abraço.
    Volte sempre.

    T+
    Joba

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...