terça-feira, 4 de maio de 2010

Crítica: A Casa Verde


A Casa Verde
um filme que não amadureceu

A Casa Verde é uma produção dirigida ao espectador infantojuvenil. Um eco-filme, embalado (e embolado) num clima de sustentabilidade, à espera do sinal abrir, em meio a uma encruzilhada cinematográfica: fazer ou não fazer filmes para um público negligenciado por importantes diretores, mas que poderá ser platéia amanha? Se bem que a questão não está apenas no fazer, mas no fazer com qualidade, para que a criança e o jovem peguem gosto pelo cinema brasileiro.

Dirigido por Paulo Nascimento, a narrativa inicia-se com um desenhista (Nicola Siri) de história em quadrinhos sofrendo de um bloqueio criativo, por não conseguir dar atenção à sua namorada e ser pressionado pela sua editora, por causa do atraso na entrega do trabalho. A HQ é sobre um cientista e professor (Lui Strassburger) que inventa um reciclador de lixo. Ao perceber que o novo invento contraria os seus interesses, de cobrar pela coleta de lixo da cidade, Jordão (Zé Victor Castiel), com a ajuda da sua assistente Gigi (Ingra Liberato), sequestra o inventor e exige que a máquina seja destruída. Pra salvá-lo, uma garotinha, Nerd 1 (Alice Nascimento), aluna dele, pede ajuda ao avatar “Eu” (Fernanda Moro), criado por ela, a dois catadores de lixo, Escova (Marcos Verza) e Sabão (Jeffersonn Silveira), e a Leonardo Del Vinte (Leonardo Machado), um alquimista de quinhentos anos. Os personagens tentam convencer o desenhista ajudá-los e como não conseguem, acabam tomando conta da HQ e passam a agir por conta própria.

A Casa Verde é uma aventura que parece ter ficado pela metade em tudo. A proposta de misturar linguagens, texturas e efeitos especiais, tendo como pano de fundo uma história em quadrinho, apesar de não ser original, não é das piores, o problema é a sua realização, já que o roteiro é simplório. O engajamento na linha eco-institucional é rasa. Não se destaca um ator, no festival de caricaturas, em meio a canastrice generalizada. O velho efeito de rotoscopia está abaixo do razoável ou ainda nos primórdios da técnica. Dificilmente alguém vai achar, imaginar, acreditar, pensar que aquilo lembra algo parecido com animação. Quanto à “trilha sonora”..., bem, é melhor nem tocar no assunto. Entre tantos equívocos, o mais incômodo é o seu didatismo infantiloide, no estilo “teatrinho” infantilzinho pra criancinha do ensinozinho fundamentalzinho. O que é uma pena.

É claro que esta é a opinião de um adulto acostumado a consumir arte (de qualidade) acessível a qualquer público, mas que (aqui) não conseguiu se sentir criança pra curtir algum momento do filme. Outra frustração foi não ter a oportunidade de entrevistar as duas únicas crianças presentes na sessão do Clube do Professor, com meia dúzia de “espectadores” pingados. O que não é nenhum segredo. Professor detesta filme brasileiro, principalmente infantojuvenil. Isso eu já pesquisei! Uma ironia, já que a primeira impressão (e a que fica) é a de uma produção paradidática a serviço dos mestres do ensino fundamental, na explanação básica (mesmo) da sustentabilidade. A “discussão” do tema é tão básica que dura poucos minutos. Mal um personagem inventa uma máquina de reciclar lixo e explica o seu funcionamento..., é sequestrado. O resto da história gira em torno da sua libertação.

Sem muita convicção sobre o assunto tratado, o filme de (quase nenhuma) ação e (pouca) aventura é politicamente correta (até demais), mas lhe falta magia, fantasia, humor. A não ser que se considere a presença dos tolos avatar “EU” (codinome de Nona Lisa) e Leonardo Del Vinte (codinome de Leonardo da Vinci) como “coisa” mágica, fantasiosa e engraçada. O que não ocorre a nenhum dos dois, pela falta de “brilho”, de carisma, de veracidade. E já que a idéia é falar de reciclagem, o autor (do filme ou da HQ?) podia começar tirando as enfadonhas crianças (tongas) da frente do computador, na sala lúgubre, e devolvê-las (por um bom tempo) à Natureza. Nada como um banho de ar livre pra recarregar as energias e avivar a criatividade. Quem sabe, assim, quando fossem obrigadas a ficar longe da tela e dos teclados do computador, pudessem se ocupar transformando muita coisa, jogada no lixo, em brinquedos e até em objetos de arte.

Em entrevista realizada durante a Mostra de Cinema Infantil, em Florianópolis, em 08 de julho de 2009, publicada no site do MinC, por Narla, o diretor do filme A Casa Verde, Paulo Nascimento disse: O principal motivo de trabalhar para este público é o prazer pelo resultado, como este aqui na Mostra de Cinema Infantil, você viu o envolvimento das crianças. Ficamos sempre naquela apreensão se eles vão curtir, se a criançada vai entender. Na verdade, é muito mais intensa a relação de quem faz cinema para criança do que para o público adulto normal, e é muito bom ver e sentir esse envolvimento dos pequenos… Como disse um garoto na pré-estreia, aqui em Florianópolis: “eu não tenho perguntas, só quero que vocês continuem fazendo filmes como esse”. Isso é muito mais gratificante. (...) Eu, para adolescente, não me meto a fazer porque aí eu já acho muito perigoso… (risos). Mas para criança também é difícil, porque a gente não sabe qual é o timing… Mas quando dá certo é maravilhoso!

É isso, já que não toca (e não é essa a intenção) os adultos, tomara que realmente toque os pequenos. Afinal, eles são o público alvo. Segundo o diretor Paulo Nascimento, junto com o lançamento de A Casa Verde, nos cinemas, será lançada nas bancas de todo o país, uma revista-pôster, com uma versão reduzida do filme (50 minutos), com acessibilidade para deficientes visuais. E, através do site (?), uma criança vai poder baixar o filme, de cinco em cinco minutos, a partir da estreia no cinema. Ela interage, responde a um questionário sobre o meio-ambiente, e em três meses baixa ele completo.

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