Coração Louco
Este não é um lugar para os fracos/ Não é um lugar para os que perdem a cabeça/ Nem um lugar para ficar para trás/ Levanta teu coração cansado e faz um último esforço - The Weary Kind (tema de Crazy Heart).
Coração Louco (Crazy Heart, EUA, 2009), drama dirigido por Scott Cooper, não tem um roteiro dos mais originais. Um cinéfilo (mais ou menos atualizado), com certeza, se lembrará do assunto em uns dois ou três filmes recentes, com destaque para O Lutador (The Wrestler), com Mickey Rourke, dirigido por Darren Aronofsky e ou Johnny & June (Walk the Line) com Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, dirigido por James Mangold..., e mais alguns anteriores. Mas isso é o que menos importa. Todos sabem que o norte-americano é especialista em filmes que exploram temas altruístas e de superação, em qualquer área profissional, mas principalmente na música e nos esportes. E, também, adora se repetir ou disseminar a mesma idéia, mundo afora ou EUA adentro.
Fui bendito e maldito, mas todas as minhas mentiras foram ditas sem ensaio - Bad Blake
O filme, com roteiro do próprio Cooper, baseado no livro homônimo de Thomas Cobb, narra a descida ao inferno e a redenção de Bad Blake (Jeff Bridges), um decadente compositor e cantor country que, a cada dia, se afunda na bebida e no cigarro. Blake, de 57 anos e alguns casamentos, “vive” de um passado de alguns sucessos, que poucos se lembram. Com seu humor caótico e mesmo tendo a possibilidades de uma vida artística melhor, prefere continuar “dono” do seu próprio nariz, se aborrecendo com as parcas e bêbadas apresentações (que mal pagam o seu vício) em bares, cervejarias e qualquer outra espelunca que se interesse em contratá-lo. O público da sua “turnê” é minguado e tão velho e saudosista quanto ele, porém conhece seus antigos hits. Dependendo do teor alcoólico, suas apresentações vão do divino ao desastroso. Em plena derrocada, Bad conhece uma jornalista, Jean (Maggie Glyllenhaal), interessada em entrevistá-lo. Uma oportunidade real para rever seus conceitos de vida e de ressurreição no meio artístico.
Apesar do foco na dependência do álcool e do cigarro, este é um drama com uma pegada mais leve. Mesmo sem flertar com a comédia óbvia. Não deixa de ser uma produção enaltecedora dos valores humanos, tipicamente americana e até descartável, mas é, também, terna, envolvente, pelo ator e pela musica que a embala. Bridges, vencedor do Oscar de 2009, está em muito boa forma e, na maturidade, me convenceu mais que na juventude. A sua performance de Bad Blake, um músico em crise profissional e social, com seus altos e baixos, é equilibrada, convincente. Irretocável. Ao evitar clichês e pieguice, apostando num final diferente, mas não surpreendente, Cooper ganha o espectador pela discreta direção.
Um outro destaque é a fotografia de Barry Markowitz, que enche os olhos, com as belas paisagens do oeste americano, essenciais na construção da história de um lobo solitário, que não sabe quando deixou de se preocupar com a matilha que, agora, lhe faz falta. Coração Louco não é um musical, mas tem excelente trilha sonora repleta de country rock, bem ao gosto de T Bone Burnett, (em parceria com o genial músico Stephen Bruton) responsável, entre outros, pela trilha de Johnny & June. A maioria das canções é interpretada pelo próprio Jeff Bridges. Mas é bom que se diga, apesar do grande número de composições apresentadas, apenas o tema do filme é mais ou menos traduzido e legendado. Uma prática muito comum no Brasil, onde os tradutores devem achar que legendar músicas é crime. É pura ignorância ou muita estupidez.
Para se ambientar no mundo de Bad Blake, e de muitos outros músicos, vale ressaltar o que disse, pouco antes de falecer, no final da produção, em 2009, o músico Stephen Bruton, que conhecia muito bem a difícil rotina de turnês: Nada é real, exceto as apresentações. Você não tem qualquer responsabilidade pelo que fez no dia anterior e isso parece uma coisa sensacional durante algum tempo. Mas isso pode facilmente se transformar em um estado em que seu amadurecimento fica suspenso. Em algum momento da vida, você tem que passar através do espelho.
Ao conhecer Bad Blake e seu coração louco, qualquer artista itinerante vai se sentir um pouco ele. Talvez não pela regra do vício, mas porque, até nas exceções, o preço pelo prazer do fazer arte é alto e poucos estão dispostos a pagar.
Este não é um lugar para os fracos/ Não é um lugar para os que perdem a cabeça/ Nem um lugar para ficar para trás/ Levanta teu coração cansado e faz um último esforço - The Weary Kind (tema de Crazy Heart).
Coração Louco (Crazy Heart, EUA, 2009), drama dirigido por Scott Cooper, não tem um roteiro dos mais originais. Um cinéfilo (mais ou menos atualizado), com certeza, se lembrará do assunto em uns dois ou três filmes recentes, com destaque para O Lutador (The Wrestler), com Mickey Rourke, dirigido por Darren Aronofsky e ou Johnny & June (Walk the Line) com Joaquin Phoenix e Reese Witherspoon, dirigido por James Mangold..., e mais alguns anteriores. Mas isso é o que menos importa. Todos sabem que o norte-americano é especialista em filmes que exploram temas altruístas e de superação, em qualquer área profissional, mas principalmente na música e nos esportes. E, também, adora se repetir ou disseminar a mesma idéia, mundo afora ou EUA adentro.
Fui bendito e maldito, mas todas as minhas mentiras foram ditas sem ensaio - Bad Blake
O filme, com roteiro do próprio Cooper, baseado no livro homônimo de Thomas Cobb, narra a descida ao inferno e a redenção de Bad Blake (Jeff Bridges), um decadente compositor e cantor country que, a cada dia, se afunda na bebida e no cigarro. Blake, de 57 anos e alguns casamentos, “vive” de um passado de alguns sucessos, que poucos se lembram. Com seu humor caótico e mesmo tendo a possibilidades de uma vida artística melhor, prefere continuar “dono” do seu próprio nariz, se aborrecendo com as parcas e bêbadas apresentações (que mal pagam o seu vício) em bares, cervejarias e qualquer outra espelunca que se interesse em contratá-lo. O público da sua “turnê” é minguado e tão velho e saudosista quanto ele, porém conhece seus antigos hits. Dependendo do teor alcoólico, suas apresentações vão do divino ao desastroso. Em plena derrocada, Bad conhece uma jornalista, Jean (Maggie Glyllenhaal), interessada em entrevistá-lo. Uma oportunidade real para rever seus conceitos de vida e de ressurreição no meio artístico.
Apesar do foco na dependência do álcool e do cigarro, este é um drama com uma pegada mais leve. Mesmo sem flertar com a comédia óbvia. Não deixa de ser uma produção enaltecedora dos valores humanos, tipicamente americana e até descartável, mas é, também, terna, envolvente, pelo ator e pela musica que a embala. Bridges, vencedor do Oscar de 2009, está em muito boa forma e, na maturidade, me convenceu mais que na juventude. A sua performance de Bad Blake, um músico em crise profissional e social, com seus altos e baixos, é equilibrada, convincente. Irretocável. Ao evitar clichês e pieguice, apostando num final diferente, mas não surpreendente, Cooper ganha o espectador pela discreta direção.
Um outro destaque é a fotografia de Barry Markowitz, que enche os olhos, com as belas paisagens do oeste americano, essenciais na construção da história de um lobo solitário, que não sabe quando deixou de se preocupar com a matilha que, agora, lhe faz falta. Coração Louco não é um musical, mas tem excelente trilha sonora repleta de country rock, bem ao gosto de T Bone Burnett, (em parceria com o genial músico Stephen Bruton) responsável, entre outros, pela trilha de Johnny & June. A maioria das canções é interpretada pelo próprio Jeff Bridges. Mas é bom que se diga, apesar do grande número de composições apresentadas, apenas o tema do filme é mais ou menos traduzido e legendado. Uma prática muito comum no Brasil, onde os tradutores devem achar que legendar músicas é crime. É pura ignorância ou muita estupidez.
Para se ambientar no mundo de Bad Blake, e de muitos outros músicos, vale ressaltar o que disse, pouco antes de falecer, no final da produção, em 2009, o músico Stephen Bruton, que conhecia muito bem a difícil rotina de turnês: Nada é real, exceto as apresentações. Você não tem qualquer responsabilidade pelo que fez no dia anterior e isso parece uma coisa sensacional durante algum tempo. Mas isso pode facilmente se transformar em um estado em que seu amadurecimento fica suspenso. Em algum momento da vida, você tem que passar através do espelho.
Ao conhecer Bad Blake e seu coração louco, qualquer artista itinerante vai se sentir um pouco ele. Talvez não pela regra do vício, mas porque, até nas exceções, o preço pelo prazer do fazer arte é alto e poucos estão dispostos a pagar.
Mais uma excelente crítica sua Joba. Faço coro com você quanto as traduções das letras, depois os produtores não podem ficar reclamando das pessoas procurarem baixar o filme na rede com legendas para poder entender melhor os significados das músicas.
ResponderExcluirEntre os filmes citados você esqueceu do principal: A Força do Carinho (Tender Mercies)de 1983. Filme que valeu o oscar à Robert Duvall e tem uma drama parecida com o Coração Louco. Neste um cantor country alcolátra em fim de carreira conhece no interior do Texas uma viúva com um filho de 10 anos. Mas este filme tem uma toada bem mais hard, vamos dizer assim. A presença de Duvall em Coração Louco é uma clara referência a este filme de Bruce Beresford.
Olá, Antunes.
ResponderExcluirAo citar O Lutador e Johnny e June, quis lembrar apenas os mais recentes. Por isso deixei de fora A Força do Carinho (Tender Mercies, de Bruce Beresford), com Robert Duvall. Mas foi por conta dele,que Cooper procurou Duvall.
A receptividade não poderia ter sido melhor. Tanto que o ator, diretor e produtor sulista, declarou: "O filme homenageia uma grande tradição americana, a música country, um mundo que conheço muito bem e ao qual, felizmente, regresso depois de muitos anos porque a história me faz lembrar A Força do Carinho, embora o enfoque de Horton Foote fosse mais delicado. É maravilhosamente dura e realmente representa a vida difícil de alguém que está lutando com seus demônios. Uma história atemporal, mas Scott Cooper teve uma nova visão e lhe deu um sentido da realidade e uma nova dimensão, desconhecida do público".
Quanto às traduções de canções de trilhas é um equívoco que vem de longe. Tem alguns musicais antigos, musicais mesmo, daqueles praticamente sem fala, que todo mundo se expressa cantando, que também não tem legenda. Há alguns anos eles passavam na Cultura e outros canais menos vistos.
Tudo bem que o inglês-americano (segundo os americanos)é a lingua fala em todo o universo conhecido e imaginado..., mas, por enquanto, no Brasil se fala o português-brasileiro.
Mais uma vez, obrigado pela visita
e pelo toque de Robert Duvall. Às vezes, omitir alguma informação, para a matéria fluir melhor, nem sempre é a melhor solução.
Abraço.
T+
Joba