quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Crítica: A Ronda

 A RONDA 

(La Ronde)

por Joba Tridente

links: textos em laranja 

Ah, o amor..., substância controversa nos significados e nas insignificâncias. Sentimento humano cuja eternidade pode não passar de parcos minutos, de um piscar de vaga-lume..., ontem, hoje, amanhã. O amor, em sua faceta (de afeição sexual) mais conhecida, há muito é ingrediente de romances literários, teatrais, cinematográficos. A maioria dos trabalhos passa batido. Alguns ficam. Outros eternizam..., como é o caso da obra-prima cinematográfica A Ronda (La Ronde, 1950), de Max Ophüls (1902-1957), que chega ao catálogo do streaming Petra Belas Artes À LA CARTE nesta quinta-feira, 21/10/2021, com mais quatro novos títulos*. 


Baseada na peça teatral La Ronde (1897), de Arthur Schnitzler, a adaptação realizada por Max Ophüls e Jacques Natanson, merecedora do prêmio BAFTA de Melhor Filme e indicada a dois Oscars (Melhor Roteiro e Melhor Direção de Arte) é daqueles filmes que todo cinéfilo gosta de ver e rever sempre que possível..., para se deliciar com a excelência do enredo e descobrir detalhes e metáforas saborosas ainda nos dias de hoje. É que, a cada exibição, o olhar se apura muito além dos 24 quadros e o que antes parecia oculto se desvela. Assim como, a cada volta do carrossel das ilusões amorosas ou dos amores fugazes, se desvela a personalidade de cada um dos dez enamorados personagens levados ao palco da vida pelo adorável mestre de cerimônias (Anton Walbrook, fascinante).  


Em sua requintada tessitura, A Ronda alinhava pequenas crônicas de costumes, envolvendo mulheres e homens querendo muito mais que um simples beijo e um mero abraço do seu objeto de desejo. Feito uma parlenda da sedução, encadeando amados e amantes pelas ruas, jardins, quartos, restaurantes de Viena, em 1900, o discreto mestre de cerimônias nos dá a conhecer os anseios dos protagonistas desta arrebatadora valsa do amor efêmero...: a prostituta (Simone Signoret), o soldado Franz (Serge Reggiani), a camareira Marie (Simone Simon), o jovem Alfred (Daniel Gélin), ​​a esposa Emma (Danielle Darrieux), o marido Charles (Fernand Gravey), a vendedora Anna (Odette Joyeux), o o poeta Robert (Jean-Louis Barrault), a atriz Charlotte (Isa Miranda), o Conde (Gérard Philipe)..., que valsam brindando o amor (ou assim é se lhes parece), sempre tão fugidio: fulana que ama beltrano que ama sicrana que ama... Ah, como o amor é inconstante na arte! 


A Ronda foi todo filmado em estúdio e o diretor de fotografia Christian Matras (1903-1977) mostra porque é um dos grandes mestres por trás das câmeras (que serviram também a Jean Cocteau, Jean Renoir, Luis Buñuel, René Clair, Vittorio De Sica). As lentes de Matras se apropriam divinamente de cada centímetro do espaço e registram com leveza impressionante o movimento de atores nos belos e diversos cenários. Na verdade, diante da câmera de Christian Matras, tudo valseia em cena, além do elenco maravilhoso..., até a sugestão do ato sexual (grande trunfo de Ophüls, dando leveza e mais sensualidade à trama). Também chama a atenção a trilha sonora de Oscar Strauss..., principalmente a graciosa balada que, enquanto evoca a transitoriedade do amor, costura as malícias de carrossel. E por falar em malícia, como se justificando uma divertida sequência sobre censura, o provocativo A Ronda, foi considerado imoral e proibido de exibição pública, nos “conservadores” EUA, até 1954. Haja hipocrisia! 


Enfim, com direção notável, ótimo roteiro, diálogos memoráveis, personagens amorais cativantes (saltando naturalmente de mão em mão), A Ronda transborda doce volúpia e fina ironia num jogo metalinguístico onde a melhor (?) metáfora é a de um relógio de pêndulo no quarto de um casal que “discute” a relação. Tempo e impotência no tic-tac e no ranger da engrenagem do carrossel em que os passageiros sonham as próximas conquistas e giram sem saber quem é quem no traiçoeiro círculo do amor ou do sexo. Uma sátira social divertida, engraçada sem ser hilária e melancólica sem tangenciar o drama..., reflexão pertinente do amor fugaz e do intercurso sexual de ocasião. Imperdível!!!

Curiosidade: O diretor Roger Vadim (1928-2000) também adaptou para o cinema  a peça teatral La Ronde. O filme homônimo foi lançado em 1964 e não caiu no gosto da crítica especializada. 


NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha. 

Joba Tridente: O primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em 35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder, 2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba. 

 

*estreias

Petra Belas Artes À LA CARTE

 

SOBERBA 

(The magnificent ambersons)

EUA, 1942, Drama, 88 min, 12 anos

Direção: Orson Welles

Sinopse: Isabel Amberson, uma jovem herdeira de uma das famílias mais ricas de Indianápolis, recebe uma proposta de casamento do belo e impetuoso Eugene Morgan. No entanto, ela escolhe se casar com o tedioso Wilbur Minafer. Anos se passam e, após a morte do marido de Isabel, Eugene, hoje um rico fabricante de automóveis, tenta se reaproximar dela. No entanto, George, o filho de Isabel e Wilbur, se opõe a essa união.

Elenco: Orson Welles, Agnes Moorehead, Joseph Cotten, Anne Baxter

 

A CULPA
Brasil, 1971, Drama, 84 min
Direção: Domingos de Oliveira

Sinopse: Os irmãos Heitor e Matilde esperam ansiosos para receber a herança do pai. Para agilizar o processo, os dois e o namorado de Matilde, Henrique, assassinam o pai deles. Ao longo dos dias, bilhetes com ameaças dizendo saber o que aconteceu passam a assustá-los. Henrique e Heitor começam a desconfiar um do outro.

Curiosidades: Vencedora do prêmio APCA e do Troféu Candango no Festival de Brasília 1971, a bela direção de fotografia leva a assinatura do talentoso Rogério Noel, que faleceu precocemente, aos 22 anos. Dina Sfat ganhou o Prêmio Air France de Cinema 1972. A trilha musical foi composta por Nelson Ângelo, que mais tarde viria a se tornar parceiro da cantora e compositora Joyce.

Elenco: Dina Sfat, Paulo José, Nelson Xavier, Adolfo Arruda, Sergio Brito e Eugênia Tavares 

 

ESTRADA PARA ISTAMBUL 

(Road to istanbul)

França | Bélgica | Argélia, 2016, Drama, 92 min, livre

Direção: Rachid Bouchareb

Sinopse: A partir do momento que Elizabeth descobre que sua única filha, Elodie de 20 anos, foi embora para se juntar ao Estado Islâmico em algum lugar entre a Síria e o Iraque, sua vida sai dos eixos. Sem entender o motivo, afinal a guerra não lhes diz respeito, ela contacta sua filha, mas não reconhece a jovem mulher por trás das decisões. Sozinha, ela decide ir até a Síria e convencer sua filha a voltar para a Bélgica.

Curiosidades: Filme dirigido pelo francês Rachid Bouchareb, o mesmo de Dias de Glória, que foi indicado ao Oscar 2007 de Melhor Filme Internacional representando a Argélia. Filme escolhido pela Argélia para representar o país no Oscar 2018 de Melhor Filme Internacional. A jovem atriz belga Pauline Burlet, que interpreta a personagem Elodie, estreou no cinema no papel de Edith Piaf aos 10 anos de idade, em Piaf Um Hino Ao Amor (2007).

Elenco: Astrid Whettnall, Pauline Burlet, Patricia Ide e Abel Jafri 

 

UMA MANHÃ SUAVE 

(Some velvet morning)

EUA, 2013, Drama, 84 min, 14 anos

Direção: Neil LaBute

Sinopse: Em uma manhã tranquila, Fred bate à porta do apartamento da bela Velvet. Os dois não se vêem há mais de quatro anos, então a garota fica surpresa ao notar que o convidado chega com uma mala, cheio de expectativas.

Curiosidades: O filme recebeu como título original o nome de uma música escrita por Lee Hazlewood, Some Velvet Morning, gravada por ele em dueto com Nancy Sinatra, para o álbum Moving with Nancy, de 1967. Alice Eve, a jovem protagonista, nasceu em Londres e, ainda criança, mudou-se com os pais para Los Angeles, estreando no cinema em 2004, num pequeno papel em A Bela do Palco, filme estrelado por Claire Danes, ficando conhecida mundialmente em 2013, com a personagem Carol Marcos, de Star Trek - Além da Escuridão. O filme marca o retorno do roteirista e diretor americano Neil LaBute ao tema das relações humanas, um assunto que ele já demonstrou dominar muito bem nos seus dois primeiros filmes, Na Companhia de Homens (1997) e Seus Amigos e Vizinhos (1998).

Elenco: Stanley Tucci, Alice Eve 

 

saiba mais sobre o

 Petra Belas Artes À LA CARTE

e sobre cadastro e assinatura

do serviço de streaming


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...