por Joba Tridente
Sabe aquela sensação de incredulidade, de masoquismo (mesmo!): “eu não acredito que estou vendo isto”..., mas resistindo até mesmo quando o Tico e o Teco já te abandonaram, só pra ver aonde isto vai dar? Pois bem, foi essa a sensação ao assistir Achados Não Perdidos, filme de Fabi Penna, exibido online no 25º Florianópolis Audiovisual Mercosul - FAM.
Estava curioso, principalmente porque foi anunciado, no Festival, como sendo a obra prima (assim mesmo sem hífen) da diretora..., mas faria mais sentido se o elogio estivesse entre aspas e com hífen: “obra-prima”, já que o enunciado parece uma provocação irônica. Porque, o que se vê na tela, está a quilômetros do que poderia ser considerada uma obra-prima cinematográfica brasileira e, quiçá, no mundo. Sinceramente, não me lembro qual foi a última vez que assisti a um filme brasileiro tão constrangedor..., a um drama(lhão) tão exagerado que salta aos olhos e alfineta a mente a vocação dele para a comédia (totalmente) desperdiçada. É uma questão do ponto que se avista na direção pesada. Ou de pegada sem jogo de cintura..., de malandragem mesmo!
Achados Não Procurados tem argumento razoável para uma divertida peça de teatro e, certamente, seria um sucesso se bem dirigida e encenada por atores afinados com timing de comédia. Mas, no cinema..., com roteiro sisudo para um assunto tão banal (traição amorosa), interpretações (caricatas) fora de sintonia, trilha sonora claudicante, diálogos que é melhor nem comentar (por enquanto)..., só considerando pelo viés do humor involuntário, para rir da coleção de bobagens dramáticas e das pretensões sociopolíticas (para parecer antenado).
Atenção: A partir de agora, senta que lá vem (+ ou -) spoiler. Se pretende assistir ao filme, pare de ler agora..., e ou não me culpe (por não rir) depois. Se bem que a sinopse já conta, quase, tudo: “Um cidadão exemplar deixa como legado, além de seus vastos predicados, algo totalmente inesperado: fotos e documentos comprometedores de sua vida amorosa clandestina e conchavos políticos.”
Totalmente fora de prumo ou de rumo Achados Não Procurados é um filme indeciso no gênero. Se era pra ser cômico, o elenco não foi informado. Se era pra ser dramático, o elenco vacilou. Mais perdida que bala em tiroteio na favela, a direção parece ter deixado a história correr para decidir (?) o gênero depois. Quanto ao espectador..., depende com que pé acordar no dia da sessão: se esquerdo, chuta o balde - se direito, faz escalda-pés. Se ainda não acordou, leia trechos aleatórios e uma boa sessão:
2. A descoberta 1: No escritório, muito bem arrumado, Laurinha encontra na estante, “escondida” atrás de uns livros, uma pasta grande, sem nenhuma proteção (nem mesmo de elástico), com os dizeres: Confidencial/Não Abra, repleta de cartas das amantes do pai. Ãhnn?!? Eu vi bem? Será que a empregada que limpa o escritório é analfabeta e ou nunca teve a curiosidade de “abrir” a pasta Confidencial/Não Abra? Eu, hein! Daí vem o inusitado (para não dizer: ridículo) “diálogo” entre os irmãos: A desesperada Laurinha: “Para de rir Paulo Afonso. Tá fazendo pouco caso disso. Tem um monte de cartas aí, que eu não tô sabendo como lidar com isso. O que é que a gente vai fazer? Você já pensou se cai nas mãos da mamãe ou de um jornalista sensacionalista qualquer?” (Como assim cair nas mãos da mãe - que está viajando - e ou de um jornalista sensacionalista? Só se eles entregarem as tais cartas.). “Acho que a gente tem que pegar esta pasta, com essas cartas, e queimar.” O “ponderado” Paulo: “Nós vamos queimar, sim. Mas, calma Laurinha! Também não é o fim do mundo. Deixa eu pensar, aqui, Eu vou pegar e levar essas cartas pra minha casa e queimar na churrasqueira. É isso que eu vou fazer.” A “sensata” Laurinha: “Ótimo. Ótimo. Então a gente tem que terminar esse trabalho, fingindo que isto aí, não aconteceu.” Oh! O diálogo ridículo é engraçado, é cômico. A situação tem tudo para ser hilária. A questão é que os atores não sabem disso. A direção não sabe disso. O roteiro não enfatiza que é para ser comédia e não para parecer drama. Falta o gancho!
4. O escândalo: Nem é preciso dizer quem será o responsável pelo “inocente” vazamento das fotos comprometedoras em um site pornô. Mas..., mas..., mas como é que o idiotazinho da mamãe iria saber que todo mundo em Florianópolis vive conectado naquele site pornô (justo naquele?!) e que o “escândalo” ganharia manchetes em jornais (Editor: “Nós vamos publicar, sim. Mas dentro dos limites da moral e do bom senso. Ok?! E que Deus nos proteja. Sabe-se lá o que pode vir ainda depois desta investigação.”) e telejornais? Bem, uma vez que o “escândalo” envolve o cidadão mais ilustre e senhoras da alta sociedade florianopolitana, a polícia entra no caso e encontra, no mesmo escritório do morto, outra “bomba”: um diário secreto onde o garanhão alfa anotava todas as suas safadezas. Não acredito! Sério? Pode acreditar!
5. Roubando o sono: Por que alguém, tendo um cofre, “esconderia” ao alcance de qualquer bisbilhoteiro uma convidativa pasta (sem qualquer proteção) com dizeres: Confidencial/Não Abra e um diário secreto? Por que os irmãos tongos, que, segundo o roteiro, são “engenheiros”, fazem nada na vida? Por que um diário tão pequeno pra tão grande safadeza? Por que uma "trilha sonora" tão alienada? Por que...
Ah, cansei dessa minha catarse! Se quiser saber mesmo como termina essa história estapafúrdia, que subestima a inteligência do espectador, assista. Uma dica: Para não perder o fio da meada, fique de olho nos entre cenas: ruas (primeiro ato), câmeras fotográficas (segundo ato) e antenas (terceiro ato). Não vá se perder, hein! Como faz falta um enredo bem estruturado, bem formatado nos mínimos detalhes (principalmente naqueles que o espectador não vê, mas intui). E como faz mais falta ainda uma boa galhofa!
O catarinense Achados Não Procurados, ganhou Prêmio do Júri Popular do 25º Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM), isso quer dizer que estou quadradamente enganado e ou que o público está nem aí para coerência.
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NOTA: As considerações acima são pessoais e, portanto, podem não refletir a opinião geral dos espectadores e cinéfilos de carteirinha.
Joba
Tridente: O
primeiro filme vi (no cinema) aos 5 anos de idade. Os primeiros
videodocumentários fiz em 1990. O primeiro curta-metragem (Cortejo), em
35mm, realizei em 2008. Voltei a fazer crítica em 2009. Já fui protagonista e
coadjuvante de curtas. Mas nada se compara à "traumatizante" e
divertida experiência de cientista-figurante (de última hora) no “centro
tecnológico” do norte-americano Power Play (Jogo de Poder,
2003), de Joseph Zito, rodado aqui em Curitiba.
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