quinta-feira, 7 de abril de 2016

Crítica: Rua Cloverfield 10


Se você gostou do ótimo Cloverfield, aquele found-footage sci-fi de terror dirigido por Matt Reeves, lá nos idos de 2008. Se você, ciente de que certos filmes originais de suspense devem ser deixados quietos, sentiu um bafo alienígena melequento atrás da orelha ao saber que o produtor J.J Lost Abrams estava produzindo uma continuação. Bem, dependendo da intensidade do bafo ou da melequeira, sugiro que aguarde até o final da sessão de cinema. É que Rua Cloverfield 10, do estreante Dan Trachtenberg, com pré ou pós acontecimentos alienígenas, pode lhe parecer um tremendo presente de grego. Ou uma pegadinha de mau gosto..., já que, além do Abrams (que trabalhou na surdina, enquanto realizava o remake bobo de Star Wars IV), a única coisa em comum com o filme anterior é o “empréstimo” do título numa “nova” (re)composição. Eles sequer se parecem no suspense, no ET e ou no terror-sci-fi.

Rua Cloverfiel 10 (10 Cloverfield Lane, 2016), com roteiro de Josh Campbell, Matthew Stuecken e Damien Chazelle, está mais para drama, com pinceladas de thriller psicológico pós-apocalítico e seus questionamentos de sobrevivência, do que para divertida aventura de ficção científica com seus monstrengos invasores rastejando na penumbra. A nova história praticamente se passa no interior de um bunker, onde, após um acidente, Michelle (Mary Elizabeth Winstead) acorda. Ali vivem o corpulento proprietário Howard (John Goodman), que lhe diz que ela está ali para a sua segurança e porque o mundo que conheceu (lá fora) não existe mais, e seu hóspede Emmett (John Gallagher Jr.), que garante ter visto o bombardeamento nuclear que acabou com tudo.


E onde entram os aliens nessa cela bem lacrada? Ah, você vai ter que esperar pacientemente pelo epílogo meio trash-gore, acompanhando a saga dos três estranhos confinados num pequeno espaço e sujeitos às mesmas regras de sociabilidade criadas por Howard. Cada um com seu trauma de estimação, carregado feito pecado original judaico-cristão e quê, sinceramente, nem todo expectador (os) perceberá na metáfora do subtexto ou no mea-culpa parede com parede.

Enfim, como nas narrativas do gênero (prisão psicológica) nem tudo é o que parece ser, os três vão ter de confiar um no outro, respirando o mesmo ar de desconfiança, até que o ar externo se torne novamente respirável (em uns dois anos) e os liberte da forçada união. Enquanto isso, cada gesto ou fala impensada pode colocar em risco o tênue equilíbrio no fio da navalha. O público que trate de prestar atenção no jogo de quebra-cabeça e ou cartas-adivinhas. As respostas podem estar nos jogos..., mas o melhor está lá fora esperando (haja paciência!) pelo epílogo, com sua simplificação bélica, no melhor estilo trash da The Asylum e do canal SyFy e das heroínas Sarah Connor (de O Exterminador do Futuro, 1984) e Ripley (de Alien, 1979).


Rua Cloverfiel 10, com suas (curiosas) reviravoltas (previsíveis) de confinamento (já visto) é um drama de duas caras. Por dois terços e um pouquinho é um thriller psicológico relativamente tenso (para o espectador mais sensível e chegado em psicopatias) e pelo tempo restante é um sci-fi de ação e aventura mornas (para quem espera uma continuação impactante e digna do filme original). Acreditando que o público seja fã do Cloverfield (2008), dependendo da expectativa pode ser uma experiência duplamente frustrante..., já que não inova no drama (esticado) de sobrevivência pós-apocalíptica e tampouco avança na linguagem sci-fi. Ou seja, a promessa (primeira) é de uma continuação marcante e a entrega (última) é de um dramalhão com cara de capítulo-piloto para franquia televisiva e ou cinematográfica.



Então..., apesar da frustração diante da “mudança de conteúdo” e de seu apêndice bônus (meia boca); de alguns problemas de continuidade e de pontas soltas doidas para desfiar rapidamente a história (com vocação trash frustrada) e chegar logo na parte dos ETs; da trilha ruidosa e horrorosa..., Rua Cloverfield 10 até que tem boa direção (melhor no drama do que na ficção científica) e um elenco excelente. Acho que o seu “problema” (ou o meu!) é a falta de rumo... 

Todavia da fantasia, sabe aquela sensação de quem pagou para ver o Godzilla (2014) em grande estilo e teve que se conformar com apenas "cinco minutos" de ação com o adorável gorducho dino e aguentar trocentos minutos de drama familiar? Pois é...

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