Uma história de amor bandido, quando bem
contada, sempre pode render um bom filme, como Bonnie and Clyde (1967) de Arthur Penn ou Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick.
Amor
Fora da Lei (Ain't
Them Bodies Saints, EUA, 2013), com roteiro e direção de David Lowery, é um drama policial que
se passa num lugarejo qualquer no Texas, na década de 1970, envolvendo um apaixonado
casal fora da lei. Ali, após um assalto, os marginais Bob Muldoon (Casey Affleck)
e Ruth Guthrie (Rooney Mara) enfrentam a polícia. Um policial, Patrick Wheeler (Ben Foster),
é ferido e a dupla é presa. Bob pega
25 anos de cadeia. Ruth, grávida, tem
o seu bebê em liberdade e é amparada pelo enigmático comerciante Skerrit (Keith Carradine). Quatro anos depois Bob foge da prisão.
Fim do breve prólogo e o começo de uma
misteriosa saga de caça e rato, onde personagens ambíguos, temendo a própria
sombra, parecem saber de tudo, uns dos outros, e ter certeza de nada, sobre si
mesmos.
Amor Fora da Lei é uma produção independente, portanto, com
maior liberdade para ousadias técnicas e de conteúdo pouco usuais em Hollywood.
Com
excelente elenco e personagens interessantes, críveis, numa trama tão
melancólica quanto intensa, onde a violência é apenas um detalhe, Lowery
surpreende com uma história envolvente sobre outsiders. Também é apenas um
detalhe a data e o lugar do conto policial, já que há marginalizados (amantes
ou não) em qualquer época e lugar do mundo. Talvez nem tão passionais, mas há!
É prazeroso ver um filme em que coisa alguma soa
gratuita. Enredo sombrio, introspectivo,
meio assim como a vida é. Protagonistas carentes de um mero afago. Tensão constante
de um amor desesperado e ou frustrado. Detalhes valorizados pela edição
primorosa em cada diálogo minimalista, cuja agressividade rasgante se funde a
uma doçura agreste; em cada acorde da curiosa música de Daniel Hart, cuja percussão
palmeia mais que o ritmo da prisão ou da liberdade de Bob e Ruth; em cada bela imagem
da sugestiva fotografia de Bradford Young...
Amor
Fora da Lei tem a cadência luminosa do bonito Dias de Paraíso (1978), de Terrence
Malick, o
mal-estar de Inverno da Alma (2010),
de Debra Granik, e um clima de balada country rock. Uma balada triste, é verdade, mas
fascinante em sua pungência.
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