quinta-feira, 10 de julho de 2014

Crítica: Amor Fora da Lei


Uma história de amor bandido, quando bem contada, sempre pode render um bom filme, como Bonnie and Clyde (1967) de Arthur Penn ou Terra de Ninguém (1973), de Terrence Malick.

Amor Fora da Lei (Ain't Them Bodies Saints, EUA, 2013), com roteiro e direção de David Lowery, é um drama policial que se passa num lugarejo qualquer no Texas, na década de 1970, envolvendo um apaixonado casal fora da lei. Ali, após um assalto, os marginais Bob Muldoon (Casey Affleck) e Ruth Guthrie (Rooney Mara) enfrentam a polícia. Um policial, Patrick Wheeler (Ben Foster), é ferido e a dupla é presa. Bob pega 25 anos de cadeia. Ruth, grávida, tem o seu bebê em liberdade e é amparada pelo enigmático comerciante Skerrit (Keith Carradine). Quatro anos depois Bob foge da prisão. 

Fim do breve prólogo e o começo de uma misteriosa saga de caça e rato, onde personagens ambíguos, temendo a própria sombra, parecem saber de tudo, uns dos outros, e ter certeza de nada, sobre si mesmos.


Amor Fora da Lei é uma produção independente, portanto, com maior liberdade para ousadias técnicas e de conteúdo pouco usuais em Hollywood. Com excelente elenco e personagens interessantes, críveis, numa trama tão melancólica quanto intensa, onde a violência é apenas um detalhe, Lowery surpreende com uma história envolvente sobre outsiders. Também é apenas um detalhe a data e o lugar do conto policial, já que há marginalizados (amantes ou não) em qualquer época e lugar do mundo. Talvez nem tão passionais, mas há! 

É prazeroso ver um filme em que coisa alguma soa gratuita. Enredo sombrio, introspectivo, meio assim como a vida é. Protagonistas carentes de um mero afago. Tensão constante de um amor desesperado e ou frustrado. Detalhes valorizados pela edição primorosa em cada diálogo minimalista, cuja agressividade rasgante se funde a uma doçura agreste; em cada acorde da curiosa música de Daniel Hart, cuja percussão palmeia mais que o ritmo da prisão ou da liberdade de Bob e Ruth; em cada bela imagem da sugestiva fotografia de Bradford Young...

Amor Fora da Lei tem a cadência luminosa do bonito Dias de Paraíso (1978), de Terrence Malick, o mal-estar de Inverno da Alma (2010), de Debra Granik,  e um clima de balada country rock. Uma balada triste, é verdade, mas fascinante em sua pungência.

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