Sabe aquele cartaz feioso de cinema que você
olha e pensa: cara, eu não vejo esse filme nem de graça! Assim é o pôster de Não Aceitamos Devoluções, bem ao estilo
das recentes comédias debiloidemente escatológicas americanas. Então, de
repente, você começa a ouvir e ou ler que o filme é mexicano. Não é comédia
americana? Ôpa!!! E que, mesmo sendo mexicano e exibido com legenda (que o
estadunidense odeia!) é considerado o filme mexicano de maior sucesso nos EUA. Será
que vale uma olhadinha?
Não
Aceitamos Devolução (No se
Aceptan Devoluciones, México, 2013), que chega ao Brasil, praticamente um
ano depois do seu lançamento, é uma comédia meio nonsense, meio pastelão, meio
cartum..., com pitadas de drama. Protagonizado e dirigido por Eugenio Derbez, também co-roteirista e
co-produtor, a trama traz a “absurda” história do mulherengo incorrigível Valentin (Derbez), que vive em Acapulco e, numa bela manhã, recebe a visita
de uma ex-namorada americana, Julie (Jessica Lindsey), que lhe entrega um
bebê, dizendo ser sua filha, pega um taxi e desaparece. Louco para se livrar do
“presente de grego”, o bon-vivant Valentin
decide ir a Los Angeles devolver a criança. Lá, em vez da ex, acaba encontrando
um trabalho de dublê de cinema. Após seis anos Julie reaparece, saudosa da filha Maggie (Loreto Peralta, excelente) que abandonou.
Não
Aceitamos Devolução pode não ter um roteiro dos mais originais, mas
Derbez consegue a façanha de conduzi-lo de forma encantadora. Há uma ou outra
patinagem, é verdade, mas nada que comprometa a narrativa que, se erra a mão na
edição de gags, acerta em cheio na passagem do tempo. A apropriação inteligente
de muitos clichês (étnicos) hollywoodianos dá um charme especial ao filme,
afinal, a Hollywood o que é de Hollywood! Não faltam assuntos como resistência
à “língua universal” inglesa; conceitos e pré-conceitos na pauta do dia a dia estadunidense
e mexicano; imigração; paródia ao cinema (blockbusters e knockbuster) americano e ou (dramalhão) mexicano; contos de
fadas na cidade dos sonhos; metalinguagem...
Por falar em linguagem, há um filme dentro
filme, ou melhor, uma animação dentro filme que é a coisa mais linda do mundo
(lúdico em que vivem - ou pensam viver - pai e filha). Uma bem-vinda ruptura
entre o “mundo real” e os “contos de fadas”, ou vice-versa, e um dos dois
momentos mais emocionantes da trama que não dispensa viravoltas. Ao menos uma, a
mim, é o que justifica toda a narrativa (do prólogo ao epílogo).
Não
Aceitamos Devolução é uma comédia de costumes bem acima da média
das recentes produções americanas e brasileiras. Algumas piadas são impagáveis,
como as relacionadas à língua inglesa (a primeira delas, sobre o bebê, é um
achado!) e ao cinema, principalmente sobre o trabalho de dublê (o mais “perigoso
do mundo”) em filmes diversos. Parece que parte da crítica estadunidense e
tupiniquim não entendeu a paródia às produtoras (Asylum, Brightspark) de mockbusters, aqueles filmes que parecem, mas (por uma letra) não são os originais.
Enfim, considerando a raridade de se ver um
filme (comédia!) mexicano lançado (mesmo com atraso!) no Brasil; que a química
entre os dois protagonistas é fantástica; que Derbez está muito bem, mas que quem
rouba a maioria das cenas é a graciosa Peralta; que a animação (entrecenas) é arrebatadora;
que o enredo opta por atalhos (inesperados) sem a menor preocupação (ou
consideração!) com a bíblia cinematográfica hollywoodiana que padroniza o
gênero (acostumando mal muitos críticos)..., vale o preço do ingresso, mesmo!
Valeu, boa dica
ResponderExcluir..., acho que vai curtir muito a animação...
Excluirabs.