quinta-feira, 3 de julho de 2014

Crítica: Não Aceitamos Devolução


Sabe aquele cartaz feioso de cinema que você olha e pensa: cara, eu não vejo esse filme nem de graça! Assim é o pôster de Não Aceitamos Devoluções, bem ao estilo das recentes comédias debiloidemente escatológicas americanas. Então, de repente, você começa a ouvir e ou ler que o filme é mexicano. Não é comédia americana? Ôpa!!! E que, mesmo sendo mexicano e exibido com legenda (que o estadunidense odeia!) é considerado o filme mexicano de maior sucesso nos EUA. Será que vale uma olhadinha?

Não Aceitamos Devolução (No se Aceptan Devoluciones, México, 2013), que chega ao Brasil, praticamente um ano depois do seu lançamento, é uma comédia meio nonsense, meio pastelão, meio cartum..., com pitadas de drama. Protagonizado e dirigido por Eugenio Derbez, também co-roteirista e co-produtor, a trama traz a “absurda” história do mulherengo incorrigível Valentin (Derbez), que vive em Acapulco e, numa bela manhã, recebe a visita de uma ex-namorada americana, Julie (Jessica Lindsey), que lhe entrega um bebê, dizendo ser sua filha, pega um taxi e desaparece. Louco para se livrar do “presente de grego”, o bon-vivant Valentin decide ir a Los Angeles devolver a criança. Lá, em vez da ex, acaba encontrando um trabalho de dublê de cinema. Após seis anos Julie reaparece, saudosa da filha Maggie (Loreto Peralta, excelente) que abandonou.


Não Aceitamos Devolução pode não ter um roteiro dos mais originais, mas Derbez consegue a façanha de conduzi-lo de forma encantadora. Há uma ou outra patinagem, é verdade, mas nada que comprometa a narrativa que, se erra a mão na edição de gags, acerta em cheio na passagem do tempo. A apropriação inteligente de muitos clichês (étnicos) hollywoodianos dá um charme especial ao filme, afinal, a Hollywood o que é de Hollywood! Não faltam assuntos como resistência à “língua universal” inglesa; conceitos e pré-conceitos na pauta do dia a dia estadunidense e mexicano; imigração; paródia ao cinema (blockbusters e knockbuster) americano e ou (dramalhão) mexicano; contos de fadas na cidade dos sonhos; metalinguagem...

Por falar em linguagem, há um filme dentro filme, ou melhor, uma animação dentro filme que é a coisa mais linda do mundo (lúdico em que vivem - ou pensam viver - pai e filha). Uma bem-vinda ruptura entre o “mundo real” e os “contos de fadas”, ou vice-versa, e um dos dois momentos mais emocionantes da trama que não dispensa viravoltas. Ao menos uma, a mim, é o que justifica toda a narrativa (do prólogo ao epílogo).


Não Aceitamos Devolução é uma comédia de costumes bem acima da média das recentes produções americanas e brasileiras. Algumas piadas são impagáveis, como as relacionadas à língua inglesa (a primeira delas, sobre o bebê, é um achado!) e ao cinema, principalmente sobre o trabalho de dublê (o mais “perigoso do mundo”) em filmes diversos. Parece que parte da crítica estadunidense e tupiniquim não entendeu a paródia às produtoras (Asylum, Brightspark) de mockbusters, aqueles filmes que parecem, mas (por uma letra) não são os originais.

Enfim, considerando a raridade de se ver um filme (comédia!) mexicano lançado (mesmo com atraso!) no Brasil; que a química entre os dois protagonistas é fantástica; que Derbez está muito bem, mas que quem rouba a maioria das cenas é a graciosa Peralta; que a animação (entrecenas) é arrebatadora; que o enredo opta por atalhos (inesperados) sem a menor preocupação (ou consideração!) com a bíblia cinematográfica hollywoodiana que padroniza o gênero (acostumando mal muitos críticos)..., vale o preço do ingresso, mesmo!

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