Sábado, 14.06.2014, após a sessão de Setenta, documentário brasileiro que
remonta ao Golpe Militar de 1964, sob o ponto de vista dos revolucionários
civis sobreviventes, voltava para casa, quando, passando pelo calçadão central
de Curitiba, ouço um crente vociferando: “...,
até a época de Noé nunca tinha chovido na Terra, por isso as pessoas que não
sabiam o que era chuva não acreditaram no dilúvio mandado por deus e morreram!”
Hãnnn?! É cada crentenice que a gente houve pelas ruas e no susto, quando muda
de canal de tevê, que não está na Bíblia, viu?!
Será esse tipo de sensacionalismo religioso
factoide (sandices de rua e de mídia) que está levando Hollywood a descartar a marola
e apostar num lucrativo tsunami doutrinário cristão (Noé; O Filho de Deus; Deus Não Está Morto; O Céu é de Verdade; Maria,
Mãe de Cristo; Rei dos Reis; Caim e Abel; Exodus) bem ao gosto dos evangélicos
e, principalmente, dos criacionistas eternamente de plantão? Well, parece que o culto, na companhia
da Comissão Cristã de Cinema e Televisão americana, já começou: “Se Deus é pelo nosso estrondoso lucro, quem
será contra nossa sagrada ganância?”
Ôpa, será que já está valendo para o tiro de
meta Transcendence - A Revolução?
Bem, valendo ou não, eis aí uma ficção científica catastrofista que os cristãos
egoístas e crentes encabrestados, sempre contrários à evolução humana e aos
avanços tecnológicos, vão amar dizer: “Eu
não falei?”; “Isso é que dá querer
ser Deus!”; “Tecnologia é coisa do
Diabo!”
O enredo “transcendental” traz Johny Depp na pele do Dr. Will Caster, um notável cientista
cuja pesquisa sobre Inteligência Artificial o levou à criação de um computador
que interage emocionalmente com os humanos. No entanto, a descoberta que amplia
a área de aplicação da nanotecnologia acaba alvo de religiosos e de uma
organização extremista antitecnologia e Will
sofre um atentado. Ao vê-lo mortalmente ferido, os cientistas Evelyn Caster (Rebecca Hall), sua esposa, e Max
Waters (Paul Bettany), seu
amigo, decidem transferir a sua consciência para um supercomputador. Porém, ao
se adaptar ao novo corpo, a consciência de Caster
transcende e coisas inexplicáveis começam a acontecer no mundo.
Transcendence
- A Revolução é dirigido por Wally Pfister, o diretor de fotografia e ganhador do Oscar por Origem (de
Christopher Nolan, 2010), aquele plágio (?) do fascinante anime Páprika.
Baseado no roteiro do também estreante Jack Paglen, o antiquado drama sci-fi começa falando dos avanços
tecnológicos que podem melhorar a qualidade da vida humana. Todavia, na hora de
engrenar o assunto, revolucionar o universo cyberpunk,
a trama escorrega, se fere no chip e
começa a claudicar, para delírio venturoso dos criacionistas. O bug no software acaba deixando a narrativa confusa, enfadonha e, com o
apoio da insuportável onipresente música do atrito sonoro, digo, trilha
sonora..., extremamente irritante.
Ainda que com resquícios de Geração Proteus (1977) e O
Passageiro do Futuro (1992 e 1996), Transcendence
- A Revolução (Transcendence, 2014) tem um “prólogo” bom, mas nada
revolucionário, como sugere o título. Aliás, a função de “A Revolução”, no título, é um mistério. A narrativa que pretende dialogar com o
futuro, falar de intolerância, ignorância, poder..., fé cega e alma imolada na
plataforma de tecnologia, acaba perdendo o tutorial e, sem rumo e sem noção do
ridículo, deixa-se levar pela (con)fusão de ideias estapafúrdias (sobre
tecnologia e religião), sem a menor coerência com o enunciado. Assim, quando se
espera encontrar geeks, num grande
templo tecnológico erguido (ou abaixado) no deserto, se defronta com um Vampiro
Cibernético de Almas e seu “exército” de zumborgs
(misto de zumbi com cyborg). Qualquer
referência ao clássico Vampiros de Almas
(1956) pode não ser mera coincidência.
Enfim, considerando que Johny Depp interpreta
mais um sujeito estranho e que a maioria do elenco está mais tonta que uma tumble weed rolando a esmo pelo oeste estadunidense;
que, como diretor, Wally Pfister continua um excelente fotógrafo; que não
consegui entender porque um “ser digital” precisa de óculos; que é um filme retrógrado
e que em sua tolice transcende a toda e qualquer “lógica” sci-fi..., acredito que os cristãos e evangélicos (interpretando a
seu favor, é claro) vão fazer coro com o profeta João Batista: “- Raça de víboras, quem vos recomendou fugir da ira que vem por
aí?”
Nenhum comentário:
Postar um comentário