A região amazônica é considerada tanto um
Paraíso Verde quanto um Inferno Verde. É apenas uma questão de ponto de vista e
ou de resistência física e material dos habitantes (nativos e migrantes) ou pesquisadores
e turistas aventureiros. Por conta de seus mistérios e encantos, a região tem constantemente
a sua geografia explorada, pelos mais diversos ângulos, em fotos e documentários
televisivos brasileiros e estrangeiros.
Amazônia
3D
(2013) é um docuficção dirigido pelo francês Thierry Ragobert. A produção franco-brasileira, ainda que menos
dramática, lembra muito Chimpanzé (2012), o envolvente documentário
da Disneynature, dirigido por Alastair
Fothergill e Mark Linfield (infelizmente lançado apenas em DVD, no Brasil), que
conta a história de Oscar, um filhote
de chimpanzé que, após uma luta territorial entre dois grupos rivais de
primatas, se vê abandonado ao “deus dará” no Parque Nacional de Taï, na Costa
do Marfim, na África ocidental. Sem condições de se alimentar sozinho, Oscar passa por situações desesperadoras
até ser adotado por Freddy, um macho
alfa.
Atravessando o Oceano Atlântico, em algum lugar da
floresta amazônica brasileira encontramos Castanho,
um macaco-prego perdido na selva, após um acidente com a aeronave que o trazia
do Rio de Janeiro para “trabalhar” (?) em um circo. Sozinho e sem qualquer
referência, o macaco urbano, tão antropomorfizado quanto as ararinhas azuis da
animação Rio 2,
apesar de parecer uma pequena enciclopédia de biologia, sabe quase tudo sobre a
fauna, um pouco sobre a flora, mas nada sobre onde encontrar comida e ou o que
comer no grande “mercado” em que se encontra. Porém, com o instinto do Homem-Aranha (sim, ele sabe quem é o H-A!), atento ao mundo selvagem ao seu
redor, ele acaba conhecendo Gaia e um
grupo de macacos-prego nada amistoso. Castanho
acredita ter tirado a sorte grande, ao encontrar uma adorável macaquinha e seu
bando. No entanto, se quiser sobreviver por ali, vai precisar descobrir o seu
lado selvagem encoberto por muitas camadas de urbanidade.
No Brasil, Amazônia
3D ganhou voz (de Lúcio Mauro Filho e de Isabelle Drummond) e diálogos, na
maioria, desnecessários e ou ridiculamente forçados, do escritor José Roberto
Torero, que subestimam a inteligência do espectador infantil (público-alvo) e,
principalmente, do seu acompanhante adulto. Há boas chances (ou não!) de um
espectador mais velho se incomodar com o tom (infantiloide) da narração-off, mais pela falta
de graça, de humor, do que pela obviedade (redundância!).
A história, escrita e editada a partir do
material gravado durante três anos, é bem fácil da criançada acompanhar. Só não
espere que dê asas à imaginação, já que o texto ilustra a imagem que ilustra o
texto. Amazônia pode não ser lá
muito original em seus registros de fauna (os poucos bichos em cena são os de sempre: onça, jacaré, anta, cobra, mosquito, formiga, arara...) e flora (deixa pra lá!) e ou na trama (bobinha) improvisada (na edição), todavia,
mesmo não apresentando nenhum espécime novo e ou comportamento animal desconhecido,
vale pela beleza das imagens captadas (em 3D de profundidade) pelas lentes de Gustavo
Hadba, Manuel Teran e Jerôme Bouvier.
Entre as sequências mais interessantes (ao gosto
de National Geographic, Discovery, BBC) estão aquelas não recomendadas para quem não gosta de ver (e de
entender!) a natureza selvagem dos animais como ela é, onde o mais forte come o
mais fraco. Inclusive Castanho (redescoberto)
não abre mão dessa garantia de sobrevivência. No mais, fica uma mensagem bacaninha (para as criancinhas) sobre a importância de se preservar a biodiversidade. Quero dizer, desde que ela já saiba o que é biodiversidade! Enfim, um filme para gringo conhecer (?) um pouco da ainda majestosa selva brasileira.
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