Câncer é um assunto que ainda hoje exige muito
tato, muita delicadeza na sua abordagem, seja na vida real, seja na ficção
(livro, cinema, tv, teatro). Doenças
variadas, dependência química são temas caros à Hollywood, que não tem pudor algum
em tratá-los comercialmente, abusando da pieguice, do clichê..., sempre de olho
na bilheteria e no Oscar. Poderia
dizer que até virou um gênero cinematográfico: autoajuda. Porém, como
felizmente há sempre um mas, na
intenção de diretores mais ousados e ou independentes e ou pouco (?) conectados
com os produtores, um filme ou outro acaba se destacando na mesmice, como é o
caso do comovente A Música Nunca Parou
(2011), de Jim Kohlberg, o envolvente 50/50
(2011), de Jonathan Levine e agora do sensível A Culpa é das Estrelas (The Fault in Our
Stars), de Josh Boone.
A Culpa
é das Estrelas é baseado no romance homônimo de John Green, um dos autores favoritos
dos jovens. O seu foco é a “rotina” de jovens diagnosticados com câncer e, sob
a luz tênue, o romance entre os adolescentes Hazel Lancaster (Shailene
Woodley) e Augustus Waters (Ansel Elgort). Ela, aos 13 anos, soube
do câncer de tireoide, que evoluiu para metástase no pulmão. Hazel respira com a ajuda de uma cânula
no nariz e de um cilindro de oxigênio que carrega para todo canto em que vai. O
diagnóstico dele é osteossarcoma que, após uma decisão vital, Augustus acredita que está controlado.
Ela é melancólica, outonal, quase trágica na sua dor compartilhada com o livro
de cabeceira Uma Aflição Imperial, do
escritor Peter Van Houten (Willem Dafoe), em que busca decifrar o
“final”, já que a história termina no meio da frase de Anna, uma menina diagnosticada com leucemia. Ele é otimista, primaveril,
sempre procurando levar a vida com humor. Na trama, o resguardo dela versus a expansividade
dele.
Apesar da sinopse pesada o tema é tratado com
leveza e doses de humor. Por vezes a narrativa o aproxima do apaixonante As Vantagens de Ser Invisível
(2012), de Stephen Chbosky, que fala do deslocamento de jovens no seu próprio
meio. Iguais no diagnóstico (câncer), mas contrários na filosofia (e
expectativa) de vida pós-diagnóstico, Hazel
e Augustus traçam caminhos diferentes,
mas não o suficiente para que não se tangenciem. Assim, entre uma lágrima reticente
(à beira da explosão) e um riso espontâneo (contendo a explosão), surge uma
tocante história de amor juvenil no compasso de um relógio sem os ponteiros do
tempo.
Josh Boone, ciente da perola real em mãos, com
base no bom roteiro de Scott Neustadter e Michael H. Weber, conduz a história
de modo sóbrio e jamais sombrio. É claro que, em se tratando do assunto câncer,
o lado “sombrio” é tentador, mal ele não afetou o diretor que parece alheio ao
sensacionalismo.
Em sua essência A Culpa é das Estrelas questiona a forma como, principalmente nós
ocidentais, dependendo da fragilidade (e sofrimento!) do paciente e ou do grau
de egoísmo (apego) de seus familiares, lidamos com os pequenos prazeres da vida
e as grandes dores da morte e ou vice-versa. Lembrança e ou anonimato? Viver
intensamente (para ser lembrado) a cada segundo ou prostrar-se (para ser
esquecido)? O que será que importa quando a única certeza que temos é que a
morte é inexorável e hora mais hora menos arrebanha (ou arrebata!) a todos?
A Culpa
é das Estrelas é um drama que provoca (também) no espectador
um vendaval de reações e emoções, com seus momentos doloridos ou coloridos. Um
drama que perturba pela frieza de algumas sequências..., como a imprescindível
visita do jovem casal ao escritor Peter
Van Houten, em Amsterdã. A química entre Shailene (Hazel) e Ansel (Augustus)
é admirável. E a empatia pelo casal tem nada a ver com a exploração da doença,
com piedade e ou autopiedade (dos jovens), mas com o desenvolvimento
convincente dos personagens e de suas histórias, que passam bem longe do
melodrama.
Essa veracidade do filme, com certeza vem do romance
(que ainda não li), já que John Green trabalhou como estagiário por cinco meses
em um hospital pediátrico que atendia a crianças debilitadas, em estado
crítico. Uma ocupação que deu novo rumo, inclusive profissional, à sua vida.
Enfim, considerando que é um tema difícil,
tratado com a maior consideração; que traz um elenco maravilhoso, entregue aos
seus personagens; que a produção é cuidadosa; a direção eficiente e a
fotografia impecável..., A Culpa é das
Estrelas agradará não apenas aos leitores juvenis, mas também aos
espectadores (de todas as idades) que gostam de uma história bem contada... Em
tempo: Alguns culpam e outros agradecem às estrelas pelo seu bom ou mau
destino. E você?
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