Na ficção literária e ou cinematográfica aprendemos
que viajar no tempo pode ser tedioso ou desesperador, prazeroso ou devastador.
Depende muito da intenção do viajante, ou de sua distração, como nos alerta (do
Efeito Borboleta) o grande mestre e
poeta da ficção científica Ray Bradbury no seu antológico conto Um Som de Trovão (já adaptado para o
teatro, hq, cinema). Um dos meus filmes favoritos, atrelados ao tema, é A Mulher do Viajante do Tempo (The Time
Traveler's Wife, 2009), de Robert Schwentke, que, por aqui, recebeu o ridículo
título de Te
Amarei Para Sempre..., e que, coincidentemente (?), é protagonizado também
por Rachel McAdams.
Questão
de Tempo (About Time,
Reino Unido, 2013), dirigido por Richard
Curtis, é uma simpática comédia romântica, com um pé na ficção científica e
outra no positivismo (pós-Comte). O itinerário desta mais recente viagem no
tempo, cujo viajante Tim Lake (Domhnall Gleeson) usa a memória (e o
desejo!), em vez de artefato mecânico, leva ao amor e ao bem-estar da família e
dos amigos. Aos 21 anos, surpreendido pelo seu pai (Bill Nighy) com a revelação de que é herdeiro natural do dom, Tim só tem um desejo: tirar proveito
para arranjar uma namorada. Ele acaba “conhecendo”, às cegas, num outro tipo de
viagem, a sua amada Mary (Rachel McAdams), mas vai precisar
“correr” um bocado se quiser restaurar o tempo perdido e conquistá-la definitivamente.
Como viajar no tempo é diferente da magia de uma varinha de condão, quando
tenta ir além do combinado, mesmo que por boa causa, o custo da passagem é
perturbador, já que nem toda estação é um recanto de felicidade eterna.
Questão
de Tempo, com roteiro do próprio Curtis, é divertido e, em alguns
momentos, de uma beleza arrebatadora, em meio a pieguice a que estão sujeitos
todos os que amam alguém “in tutto il
mondo”. Algumas sequências, como a da passagem do tempo do jovem casal, são
muito bem resolvidas. É um filme extremamente romântico, com frescor juvenil
(não necessariamente adolescente), bons diálogos, mas, por vezes, se atrapalha
com o guarda-roupa (pegadinha da trama) e se arrasta com cenas descartáveis. O
terceiro ato, mesmo com bons momentos, é quase claudicante. Ainda que com aura
de comédia romântica (e suas armadilhas do amor e sexo), o que sobressai e
envolve o espectador é a reflexão sobre a arte de atar laços e desatar nós de
família e a simplicidade (?) com que Curtis soluciona o grande dilema da sua
história: limites da viagem no tempo.
O humor é o inglês (óbvio!), estranho, seco,
irônico - piadas com a fonética sempre funcionam, lá. A divertida sequência “às
cegas” me lembrou Woody Allen. No vai-e-vem narrativo, quem marca o seu espaço
(entre os coadjuvantes) e rouba as cenas é Tom
Hollander, hilário como dramaturgo mal humorado - o desabafo sobre a
estreia da sua nova peça é impagável. Há uma química bacana entre Domhnall (Tim) e McAdams (Mary) e entre Nighy (pai) e Domhnall (filho). Para quem gosta de
pop romântico, a trilha é propícia, mas pegajosa. Diversão descompromissada
para fãs do tema viagem no tempo com uma pegada mais leve, mais romântica..., mais
família.
Nenhum comentário:
Postar um comentário