quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Crítica: Um Time Show de Bola


Entendo absolutamente nada de futebol. Se muito, sei quando é gol. Zaga? Impedimento? Tiro de meta? Escalação soluço? Ponta? Bah! Porém, desde que vi o trailer da animação argentina Um Time Show de Bola, fiquei apaixonado pela expressividade dos personagens e pelo que era possível perceber da trama. A expectativa se manteve, o filme é gracioso.

Um Time Show de Bola, (Metegol, 2013), baseado no conto Memórias de un Wing Derecho (Memórias de Um Lateral Direito) do genial cartunista e escritor argentino Roberto Fontanarrosa (1944 - 2007), é uma história que rola num campo de pebolim e num de grama, envolvendo jogadores de chumbo e jogadores humanos, numa pequena e acolhedora cidade. De um lado, o tímido Amadeo (campeão do pebolim) e o arrogante Colosso (campeão dos gramados), com suas diferenças. De outro, os bonecos-jogadores listrados e grená que, libertos das barras giratórias, miraculosamente ganham vida e juntam força (mais bruta que intelectual) para ajudar Amadeo numa partida de futebol decisiva para a cidade.


A surpreendente animação em 3D, com bom ritmo, drama e humor (mesmo que perdido na versão e dublagem brasileira) traz sequências encantadoras, como a genial homenagem ao filme 2001 - Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Ou engraçadíssimas e bem resolvidas, como (todas) as do parque de diversões e das réplicas de estátuas na mansão de Colosso. As cenas de futebol (pebolim e campo) são um espetáculo à parte, principalmente as que lembram o arrepiante bailado dos jogadores brasileiros nos campos, através das lentes únicas do inesquecível Cinejornal Canal 100.

No pós-Pixar, sempre que um cinéfilo vê um brinquedo ganhando vida (compartilhada ou não com humanos) nas telas se lembra de Toy Story, talvez a mais tocante definição de fantasia no mundo animado. Ao menos para mim, a cena “made in Taiwan”, protagonizada por Buzz Lightyear, é antológica..., uma das mais emocionantes que vi no cinema. Portanto, é natural que a magia em Um Time Show de Bola, sem nenhum demérito à equipe internacional que o realizou, reporte ao clássico Toy Story.

Se bem que, na verdade, não importa muito como o boneco Capi (líder dos listrados) e os demais jogadores, entre eles Loco (o zen) e Beto (a celebridade) ganharam vida..., como ficará “claro” ao final (não convencional), já que o próprio futebol é mágico ou uma caixinha de surpresas. Assim, na animação um personagem precisa “crer para ver” a magia..., no campo o torcedor “vê e crê” na magia de um Pelé, Garrincha, Lionel Messi. Coisas da arte de viver da arte!


Segundo o corroteirista Gaston Gorali e o próprio diretor e roteirista Juan José Campanella: Um Time Show de Bola não é um filme sobre o jogo e pebolim, mas também não é um filme de futebol. É, acima de tudo, uma história de amor, amizade e superação. Campanella, aliás, alega que não gosta de futebol e torce para time nenhum. O roteiro, que ainda contou com a colaboração do escritor Eduardo Sacheri (apaixonadíssimo por futebol), é redondo e agradável até mesmo aos neófitos em futebol. Vale ressaltar a excelência da arte-concepção que, com seu padrão-mix, fica nada a dever aos grandes estúdios.

Apesar da aparência e insistência temática (egos inflados, revanches, idiossincrasias futebolísticas), no campo paralelo Um Time Show de Bola não deixa de ser (mais) um filme sobre valores humanos, com uma pegada mundial e uns chutes edificantes. Todavia, cá pra nosotros, que esta deliciosa animação, mesmo à revelia, é praticamente uma ode ao futebol, não há dúvida!

NOTA: Há duas curiosas animações (em espanhol) do conto Memorias de Um Wing Derecho, de Roberto Fontanarrosa, realizadas por Luciano Ferrero, no Vimeo: http://vimeo.com/40974629 e http://vimeo.com/43939173

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