O embate entre luz e trevas parece não ter fim
na mitologia do entretenimento ou vice-versa. No mundo da ficção globalizada
(religiosa ou pagã) há sempre alguém querendo ser dono da eletricidade e outro louco
pra cortar a fiação. Heróis da luz e vilões da escuridão povoam a imaginação de
adultos e crianças nas mais diversas manifestações culturais. Quando se trata
de histórias em quadrinhos, então, é um esconde-esconde sem fim. Pegando carona
na meada do apagão, chega aos cinemas Thor
- O Mundo Sombrio.
A história se passa logo após a pancadaria
desenfreada em Os Vigadores, quando Thor (Chris Hemsworth) retorna a Asgard, levando o prisioneiro Loki (Tom Hiddleston), e parte para novas batalhas na pacificação dos
Nove Reinos. Mal a ordem é restabelecida e eis que surge das profundezas o pesadelo
asgardiano: Malekith (Christopher Eccleston). O maldito elfo
negro, derrotado por Bor, avô de Thor, acorda para o seu maior ato de
vingança universal: escuridão eterna para todos! O pivô inocente útil, para que
a trama se cumpra, é Jane Foster (Natalie Portman), a namorada do herói.
Filme-hq de fantasia, Thor - O mundo Sombrio (Thor
- The Dark World, EUA, 2013), dirigido por Alan Taylor, mescla muito bem ação, aventura, drama, imaginação e
(entre uma referência bíblica e outra) bom humor. Despretensioso (até demais)
cumpre o que promete: diversão. Ao trocar acertadamente a base terráquea,
(geralmente) em Nova York por Londres (Greenwich), muda, além do ritmo, o nível
destrutivo das lutas. Na Inglaterra a destruição urbana é mínima, se comparada à
dos seus (heroicos) concorrentes anteriores em solo norte-americano. Mas não
menos intensa. Ah, o irônico humor inglês é muito melhor que o pastelão escatológico
estadunidense.
Thor - O
Mundo Sombrio tem excelente produção. Os cenários, com riqueza
de detalhes, são extraordinários e as aeronaves inspiradíssimas. O elenco
continua afinado, o que não é uma árdua tarefa, com Hiddleston roubando cena a
cena. Duas emocionantes sequências, envolvendo a Rainha Frigga (Rene Russo),
merecem destaque pela perfeita composição de elementos dramáticos e técnicos: a
perturbadora visita a Loki, na prisão, e o deslumbrante funeral dos guerreiros
asgardianos. É o que fica na memória depois de todo o caos.
Originalidade pode não ser o forte do argumento
que malha o trevoso ferro frio, mas o roteiro sopra umas brasas da forja e as
fagulhas que iluminam história e personagens, fazem de Thor - O Mundo Sombrio, um excelente filme-hq, mesmo com
escorregadas, uma das melhores adaptações do gênero. Não acho que deva ser
comparado ao ótimo shakespeariano Thor
(2011), dirigido por Kenneth Branagh, porque o palco é outro. Agora a lenda
cabe mais aos Céus do que à Terra que, como sempre, é um planeta pairando no
meio do caminho de algum vilão intergaláctico sem planeta e ou (pior!) chegado
numa escuridão.
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