Quanto mais
velho, mais surpreendente. Assim me parece Woody
Allen a cada novo filme. O seu discurso continua tocando com ironia as
relações familiares, amorosas, sociais..., mas o seu olhar sempre encontra um
outro viés narrativo.
Blue Jasmine é um drama no fio da navalha tragicômica que
raros mestres têm habilidade para manusear com precisão. Falar com classe e elegância sobre decadência
não é para qualquer autor/diretor, naturalmente. Na trama, cuja catarse final
pode justificar ou não o prólogo, Jasmine
(Cate Blanchett), ex-socialite e ex-mulher-bibelô
do investidor financeiro Hal (Alec Baldwin), perde o rumo e o chão, ao
se divorciar, e se vê obrigada a passar uma temporada com a irmã Ginger (Sally Hawkins), em San Francisco. Decadente, na rua da amargura,
mas sem perder a elegância dos tempos de fartura, enquanto não decide o que fazer
da sua vida, continua sonhando alto, via web.
As duas irmãs foram
adotadas quando crianças, mas o destino tratou de separá-las social e economicamente:
uma para o glamour e a outra para a labuta. Enquanto Jasmine (com o mundo aos seus pés) se “aprisiona” no faz de conta,
“ignorando” a lógica das aparências e os tropeços da mentira, Ginger (com o mundo fora de seu alcance)
se conforma com a mediocridade da sua rotina de comerciária. Iguais nas suas diferenças, ambas buscam a
felicidade ou algo parecido no cotidiano possível. O ingrediente econômico (a
gosto) que dá um sabor agridoce à vida de Jasmine,
à beira de um surto, e de Ginger, voando
baixo para evitar turbulências, tambem dá ponto à receita e ganha a
cumplicidade do espectador que alterna sentimentos de ódio, amor e compaixão
por elas. Gosta-se ou não das personagens woodyallenianas porque elas lembram gentes
que conhecemos do lado de cá da vida, cuja imagem é muito mais nítida e nem se
precisa efeito 3D para emular a realidade.
Blue Jasmine (2013) é um vendaval de emoções arrebatador. Allen
sabe a ocasião de fazer a piada, cortar o riso, provocar a lágrima, numa mesma
cena. Sob uma trilha sonora menos evocativa, é tão prazeroso quanto constrangedor
a ebulição de sentimentos que provoca. O filme pode ser de Cate Blanchett,
magnífica na pele de Jasmine, mas tanto
Hawkins quanto Baldwin se saem bem de escada.
Num ambiente de
frustrações e impulsos de vingança, crime e castigo podem ter peso e medida
diferentes e ou equivalentes. Já que cada um é muito mais carrasco e vítima da
sua própria vida do que imagina..., um final feliz ou à francesa é muito
relativo.
Muito boa suas percepções... sem dúvida há ingredientes de vida, experiências e muito trabalho mental desta genialidade toda de Wood Allen.
ResponderExcluir..., obrigado, pela sua consideração. ..., sou fã de Woody Allen e quando ele sai da sua zona de conforto, como agora, e com a mesma competência, me fascina ainda mais. ..., saber (o quê) olhar e (o quê) ouvir é fundamental para a uma obra de excelência.
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