Que o público brasileiro está indo mais ao
cinema para ver telecomédias chulas, conhecidas também como (porno)chanchadas
imbecilizantes, protagonizadas por contadores de piada e atores de (um canal
de) TV..., já não é novidade. E pelo andar da carroça da freguesia, digo, da franquia,
vai continuar indo..., enquanto as celebridades televisivas forem
protagonistas. Cada qual com seu gosto.
Odeio o
Dia dos Namorados, dirigido por Roberto Santucci, esvoaça ao redor de Débora Ferrão (Heloísa Périssé),
uma ambiciosa e mal-humorada publicitária (queria o quê com um nome desses?)
que prefere a sua intensa vida profissional a um relacionamento amoroso com
algum pretendente. Nem mesmo Heitor (Daniel Boaventura), o apaixonadíssimo
namorado da sua juventude, conseguiu descongelar o seu coração. Assim, quando
é “indicada” para desenvolver uma campanha romântica para um bombom, ela trava
e a sua fortaleza desaba qual um castelo de cartas blefadas. Em meio a vários
incidentes ela recebe a visita do fantasma do seu amigo Gilberto (Marcelo Saback),
que a obriga a rever sua vida, seus conceitos e descobrir quem realmente é, na
opinião dos “seus” colegas de trabalho.
Odeio o
Dia dos Namorados (Brasil, 2013), que não deve ser confundido com
Eu Odeio o Dia dos Namorados (I Hate
Valentine’s Day, 2009), escrito, dirigido e protagonizado por Nia Vardalos...,
é um filme indeciso. Pelo título óbvio, o mais correto seria acreditar que se
trata de um romance, ou comédia romântica e ou drama cômico romântico. Nada mais distante do “roteiro” de Paulo Cursino, inspirado no dramático
clássico Conto de Natal, de Charles Dickens, que conta a história
do avarento e mal-humorado Ebenezer
Scrooge que, visitado por três espíritos, passa em revista a sua vida..., obra
trocentas vezes adaptada para o cinema, teatro, HQ. O problema maior da
produção brasileira nem é de argumento frouxo, mas de indefinição de gênero. O
que, de certa forma, não deixa de ser novidade, já que é o espectador é quem
vai decidir. Se conseguir rir: comédia. Se conseguir se emocionar: drama. Se
conseguir se divertir: aventura. Se...
Longe do humor chulo de uma chanchada (tão em
voga) e da escatologia (tão em voga), apesar de um rápido flerte abominável, Odeio o Dia dos Namorados claudica
entre um clichê e outro, entremeando “piadas” velhas e trocadilhos infames, até
abobar de vez em um previsível final. Carece de ousadia, de disritmia em sua
trama (linear). A videobreguice do prólogo até ensaia a promessa de uma boa e
divertida história..., porém, a videocafonice do epílogo (de volta ao começo)
não deixa dúvidas, a narrativa insossa reprimiu (ah, trocadilhei!) a
possibilidade de um bom deleite com essa “releitura” de Dickens. Minto, desviando
de diálogos sofríveis, maquiagem constrangedora e erros de continuidade, há uma
sequência até bacaninha: a viagem de Débora
ao futuro.
Um filme para fãs (do elenco..., que apenas traduz a
caricatura do fraco roteiro) e ou espectador pouco exigente de comédia, drama,
aventura etc. Divirta se puder e enquadre-o como quiser.
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