Recentemente estreou a divertida animação
pastelão A Fuga do Planeta Terra e agora, no
mesmo vácuo, chega o filme Depois da
Terra, estrelado por Jaden e Will Smith. Além do gênero ficção científica,
em comum um clima retrô e o diálogo, ou melhor, o destino final de seus
protagonistas. Coincidência ou mudança
de hábito?
Depois
da Terra (After Earth, EUA, 2013), dirigido por M. Night Shyamalan, que roteirizou, em
parceria com Gary Whitta, o argumento
de Will Smith, é um filme de
aventura e ação, com pinceladas dramáticas, voltado ao público juvenil (12 a
16). Todos os realizadores sabem que a explosiva relação entre pais e filhos pode
gerar bons (ou enfadonhos) filmes. No entanto o “discutir a relação” (tema em
pauta até nos desenhos animados) não é tão fácil quanto parece. Spielbeg,
especialista no assunto (divã mal resolvido), que o diga. E também, cá pra nós,
adolescente que apronta aqui não é o mesmo adolescente que sobrevive acolá. Se
é que me fiz entender.
Depois da Terra fala da saga de 750 mil privilegiados (?) que, por conta de desastres naturais e degradação causada pelo próprio homem, migraram da Terra para Prime, onde enfrentam a ira da civilização Skrel, que considera o planeta como o seu santuário e os humanos como praga a ser dizimada. Esses terráqueos realmente não têm jeito..., com um universo tão grande, vão em suas “arcas” invadir justo um planeta que já tem dono?! Enfim, para defender o seu território os alienígenas têm as Ursas, feras cegas que, atraídas pelo feromônio secretado pelos humanos medrosos, matam sem dó nem piedade. Para manter a posse os imigrantes têm o astucioso comandante Cypher Raige (Will Smith), que descobriu uma forma de controlar o medo, tornando-se invisível e letal para os animais. Fora de casa o tenso Cypher é uma lenda, dentro é prepotente e não sabe como lidar com o adolescente Kitai Raige (Jaden Smith). Nas laterais, pai herói ausente versus filho admirador carente. No centro, Faia Raige (Sophie Okonedo), esposa e mãe pacificadora de ânimos. Certo dia o jovem acompanha Cypher em uma missão e quando um acidente obriga o comandante a pousar a nave no inóspito planeta Terra (de mil anos depois), colocando a vida de ambos em risco, eles terão de (aprender a) confiar um no outro.
Aproveitando o estilo mangá/anime (ainda em
voga) de contar histórias juvenis, Shyamalan usa e abusa de elementos orientais,
na tentativa de dar alguma profundidade à sua trama rasa. As referências ao universo samurai estão no nome
do personagem (Kitai), nos rituais de
concentração, nas armas. E por falar em armas (como já visto em outras
histórias), parece que a gente do futuro vai ser chegada numa lâmina e suas
ramificações. Lá pelo ano 3000 e pouco a grande sensação será a compacta e
eficiente Lança modelo C-40 (com suas
22 configurações, incluindo lâmina curta, lança, lâmina longa, foice, adaga). Uma
maravilha “de bolso” capaz de estraçalhar qualquer inimigo. Quem apostava no
laser ou em algo mais quente, dançou!
Depois
da Terra tem vários pontos em comum com O
Último Mestre do Ar (2010), também roteirizado
e dirigido por M. Night. Em ambos há um (insolente) jovem adolescente e sua “penitente”
jornada do herói rumo à gloriosa
maturidade. Que autoconfiança, superação do medo, controle da mente..., são
ideias recorrentes em suas exauridas narrativas, não é novidade. A questão é
que o vício de linguagem acaba cansando o espectador e aí, qualquer que seja a
“jornada” lhe é indiferente o “herói”.
Kitai não é um personagem arrebatador, muito menos Cypher. Cadê o diretor? Eles passam o tempo todo de cara amarrada e estão mais para egocêntricos à beira da antipatia do que vítimas do sistema (ora, nem Clark Kent é super-herói 24h por dia). A impressão é a de que as suas diferenças vão se dissolvendo aos poucos, itinerário afora (ou adentro), mais por conta do (a)preço pela sobrevivência do que pelo desatamento dos nós familiares, que devem (?) acontecer após o prólogo piegas. Fruto de um roteiro inconsistente, o medo que motiva transformações em ambos também não é pleno..., fica, se muito, no sobressalto.
Tudo bem que se trata de “superação do medo”
e não de “provocação do riso”, é um drama de ação e não uma comédia de ação...,
mas em uma produção onde até o medo é linear, uma pitadinha de humor, com
certeza, faria boa diferença. Depois da
Terra (que não resiste à curiosidade do tipo: o que aconteceu com os humanos deixados para trás?) está focado na
emoção do espectador jovem e não na razão do adulto. Portanto, o que disse pode
não ter a menor importância, já que é possível a um adolescente (ainda que da
geração “i”) se identificar com o drama-clichê de Kitai e mesmo assim não dispensar o combo.
Ah, nunca é demais alertar aos distraídos que
erram datas na virada do ano, no futuro o d.C
(depois de Cristo) será alterado para d.T
(depois da Terra, daí o título). Gostou da analogia hollywoodiana? Eu, hein! Se
bem que, para economizar neurônios, era só alterar o “C” de Cristo para o “C” de Cypher.
Então, de olho no calendário do próximo milênio! Se é que você ainda vai se
lembrar do filme quando sair do cinema.
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