Todo
mundo sabe que Hollywood adora levar para as telas dramáticas histórias
baseadas em fatos reais. Ela não desiste, mesmo com resultados pouco animadores.
Ultimamente, talvez para parecer menos comprometida com as fontes, no tom das
adaptações ou das versões, o “baseado” virou “inspirado”. O que não faz
diferença para o (influenciável) público-fã de “histórias verídicas” que nunca
sabe dizer se gostou do filme, por ser baseado em fatos reais, e ou se não
gostou, por achar que a vida real não é assim tão cheia de clichês. No entanto,
por mais que alguém negue, o mundo humano é abarrotado de clichês, de
pieguices, de breguices, principalmente na intimidade do lar e ou, no mínimo,
quando fulanos e beltranos se amam ou se odeiam. O problema do clichê (no
cinema e outras artes) é o mau uso..., o abuso da fórmula pronta para manipular
emoções de “frágeis” espectadores. Daí todos os incômodos.
O livro The Vow (O Voto) que no Brasil, assim como no cinema, recebeu o romântico e
apelativo título Para Sempre, em vez
de A Promessa (por exemplo), que tem
mais a ver com a trama, caiu no gosto das leitoras brasileiras, mas tem
dividido opiniões. Eu o conheço apenas das resenhas postadas na web. E pelo que
li, a curiosa história do casal Kim e Krickitt Carpenter tem decepcionado
leitoras (e alguns leitores) que esperavam algo no estilo Nicholas Sparks e
menos a vida como ela é ou pode vir a ser, já que o livro é mais biográfico que
romântico.
Para Sempre (The
Vow, 2012), melodrama dirigido pelo estreante Michael Sucsy, é inspirado no dramático episódio da vida do casal Kim
e Krickitt Carpenter, ambos vitimas de um grave acidente de trânsito, onde ele
se feriu sem gravidade e ela, ao se recuperar do coma, não se lembrava do
marido. Na versão cinematográfica (excetuando a sequência do acidente) a
história ganha leveza e o real vira ficção: o produtor musical Leo (Channing Tatum) e a artista plástica Paige (Rachel McAdams), vivem
um drama parecido, onde o rapaz fará de tudo para ajudar a mulher amada a recuperar
as memórias que “guardam” os melhores momentos de uma vida feliz e em comum.
Ao ler a
sinopse e ou assistir ao filme, com certeza um cinéfilo se lembrará de uma meia
dúzia de outros com a mesma temática, em produções de maior ou menor apelo
comercial e emocional. O tema tem a sua
boa dose de clichê que funciona tanto em filme “A” quanto “B”. Se bem que, não
importa quantas vezes a mesma história é contada, mas em como ela é contada. É
como uma velha piada, um bom humorista fará o público rir as trocentas vezes em
que a (re)contar.
O que faz
de Para Sempre uma adaptação interessante
é o comedimento da narrativa. O diretor não tem pressa em contar a história de
amor e de estranheza de um casal separado por uma falha da memória. Pode
parecer timidez e ou mesmo falta de ousadia de Sucsy, mas, ao final, se verá
que a sua opção pela simplicidade (ou vá lá: lugar comum) ao falar das facetas
do amor (na saúde e na doença) é o mais acertado. Em vez de correr riscos, ser
mais original, mudar o rumo da história (como até ensaiou!), já que é uma obra
inspirada e sem compromisso com a verdade, preferiu a segurança do
(inspirador?) desfecho real.
Para Sempre não chega a ser uma comédia, já que o
seu motivo (romântico) responde melhor ao drama (de superação) do que ao humor,
mas tem uma ou outra gracinha. A frieza da narrativa (às vezes excessiva) busca
um olhar cinematográfico que (falsamente) o distancia tanto da literatura quanto
do grande público emotivo. Por isso, é provável que o público chegado a uma
dorzinha alheia não encontre no “sofrimento dos personagens” a empatia esperada
(como parece não ter encontrado também no livro). O que não deixa de ser
saudável, já que propicia uma análise imparcial do filme (e da história). Vale
lembrar que este (falso) distanciamento que lhe dá um ar mais cool, tem nada a ver com a ótima performance
(e química) de Tatum e McAdams. A princípio parece mais uma busca de estilo de Michael
Sucsy, que procura evitar o sentimentalismo barato, indo direto ao que
interessa..., mas sem atropelar as sutilezas do (por exemplo) adorável Mnemonic Café. Quer saber o que
significa mnemônico? Vá ao Google.
A
qualidade de um filme nem sempre é medida pelo grau de prazer e ou de dor que
provoca no espectador. Para Sempre,
dependendo da leitura, pode ser mais ou menos que uma sessão da tarde. A produção
é bem cuidada e a excelência dos atores (incluindo coadjuvantes de luxo: Sam Neill e Jessica Lange) dá um sabor de veracidade ao drama leve,
pulverizando clichês. Porém, só o fato de passar ao largo das baixarias que
fazem parte do cardápio das novas produções estadunidenses, já é um convite para
uma olhadinha descompromissada.
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