Semana
passada, enquanto aguardava a vez para comprar ingresso para o espetáculo A Mecânica das Borboletas (Otto Jr e
Suzana Faini estavam soberbos!), aqui em Curitiba, um conhecido comentava sobre
os filmes de terror feitos hoje em dia, com os vampiros bonzinhos e bonitinhos
que não metem medo em ninguém. Penso que o problema desse tipo de
entretenimento, dirigido ao público infantojuvenil, não tem a ver com os malvados
bonitões, mas com o conteúdo (personagens vazios e trama rasa). Afinal, a
maldade nunca foi “privilégio” dos feios!
O
propósito do comentário acima é por conta da estreia de Sombras da Noite (Dark
Shadows, EUA, 2012), de Tim Burton,
um filme na medida (?) para a geração crepúsculo e assemelhados televisivos. A
ficção de Burton não é a primeira adaptação cinematográfica da série cult homônima, criada por Dan Curtis
(1927 - 2006), que foi ao ar, pela rede ABC, de 1966 a 1971. O programa pioneiro
na mistura de terror e ficção científica (em 1225 episódios) fez tanto sucesso
na TV que, além de dois filmes: House
of Dark Shadows (1970) e Night of
Dark Shadows (1971), dirigidos por Dan Curtis, “inspirou” também diversos livros
e HQs, para o deleite de fãs.
A versão
burtoniana de Sombras da Noite traz Johnny Deep no papel de Barnabas Collins, herdeiro de um império
de pesca em Collinsport, no Maine, que ao se apaixonar pela doce e bela Josette DuPres (Bella Heathcote), magoa a fogosa e não menos bela Angelique Bouchard (Eva Green), que resolve se vingar, transformando o objeto de sua
paixão em um vampiro e, não satisfeita, enterrando-o vivo. 196 anos depois Barnabas está de volta e descobre que
tudo naquela pequena cidade mudou, inclusive alguns parentes que agora ocupam a
sua velha e decadente Mansão Collinwood: a matriarca Elizabeth Collins Stoddard (Michelle
Pfeiffer), com a filha adolescente Carolyn
Stoddard (Chloë Moretz); o irmão
dela, Roger Collins (Johnny Lee Miller), com o filho David Collins (Gully McGrath); e ainda a psiquiatra Dra. Julia Hoffman (Helena
Bonham Carter), a babá de David, Victoria Winters (Bella Heathcote), e o caseiro Willie
Loomis (Jackie Earle Haley). Mas
para resgatar o brilho de outrora Barnabas
terá de enfrentar a poderosa Angie (Eva Green).
Sombras da Noite é uma ficção um tanto preguiçosa. A
ideia original era criar o mesmo clima gótico da série, onde havia espaço para:
vampiro, lobisomens, zumbis, fantasmas, monstros, bruxas, feiticeiros..., além
de viagem no tempo e universo paralelo. Burton chegou bem próximo, o problema é
que, o que era novidade e divertia os adolescentes nos anos 1960/1970, hoje soa
ingênuo demais até para a garotada. O roteiro irregular é uma grande salada e acaba
se perdendo nas encruzilhadas do terror e do humor. Até tem uma ou outra piada
engraçadinha, mas não produz mais que um sorriso amarelo. Quanto ao terror...,
nem um arrepiozinho. É tudo morno: drama, romance, humor, terror, suspense,
ação, luxúria, libertinagem.
Excetuando
a explosiva relação obsessiva entre Barnabas
e Angie, há pouca ou quase nenhuma
interação entre os personagens. E não é por falta de “assunto” da família decadente.
A narrativa parece um canguru, saltando apressada de um “misterioso” personagem
para outro, antes do público absorver cada história. Não há tempo (e nem
interesse) do espectador se envolver com quem quer que seja, nem mesmo com a trama
leve (de crimes sem castigo). Não fossem umas duas cenas mais ou menos tórridas
(que talvez excitem a imaginação dos adolescentes), seria um filme quase
infantil. Há sequências que poderiam ser hilárias, como a dos hippies (queimando
uma erva) em volta da fogueira, em entrevista com o vampiro Barnabas (cujo desfecho
fica longe do esperado), que perdem o tempo da piada e ou do horror.
Sombras da Noite tem uma belíssima direção de arte e
efeitos especiais excelentes. A trilha sonora, que inclui grandes sucessos dos anos
1970, como Knights in White Satin, do
Moody Blues, Season of the With, de
Donovan, Superfly, de Curtis
Mayfield, Crocodile Rock, de Elton
John, Top of The World, dos
Carpenters..., é muito bacana. Mas
o melhor dela é, sem dúvida, a participação especial de Alice Cooper, a lenda do rock, cantando Ballad of Dwight Fry e No
More Mr. Nice Guy, num show ao vivo na Mansão Collins. Por falar em Alice,
o cara parece ter feito uma viagem no tempo, não envelheceu nadica. O elenco de
Burton é sempre eficiente, mesmo quando roteiro não ajuda. Deep faz bem (?) mais
um tipo estranho (ou uma variação de outros tipos estranhos?). Pfeiffer convence
como a matriarca dos Collins (de aparência), mas quem rouba a cena é a “endiabrada”
sedutora Green. Um filme para fãs não
muito exigentes de Burton e Deep.
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