quinta-feira, 7 de junho de 2012

Crítica: Carnage - Deus da Carnificina



Em uma discussão, na saída da escola, Zachary, de 11 anos, filho Nancy (Kate Winslet) e Alan (Christoph Waltz), agride Ethan, 11 anos, filho Penélope (Jodie Foster) e Michael (John C. Reilly)..., e sem querer armam o palco para que seus pais, sem ao menos saber a razão da briga, se encontrem para por um fim às desavenças. A princípio os dois casais se mostram excessivamente polidos, compreensivos, dispostos a encerrar o assunto de uma vez por todas. No entanto, com a interlocutora Penélope (que convocou a reunião em sua casa) extremamente protetora, a conversa entre eles vai se tornando agressiva e fora de controle. Sem que consigam se desvencilhar do assunto, vão se expondo cada vez mais, deixando cair a máscara e mostrando o quanto cada um pode superar o outro em hipocrisia.


Carnage - Deus da Carnificina (Carnage, 2011), de Roman Polanski é baseado na peça teatral homônima de Yasmina Reza, que colaborou com Polanski no roteiro. Excetuando os rápidos prólogo e epílogo (que têm a duração dos créditos) a trama toda se passa, praticamente, na sala de um apartamento, onde os personagens tornam-se prisioneiros do próprio verbo e ou, da falta dele, já que os diálogos estão disfarçados em monólogos à procura de um receptor. Todos divagam sobre o mesmo tema, sem a menor possibilidade de concordância. Nessa catarse coletiva e ou terapia em grupo, cada um acaba expondo a sua verdadeira face dentro e fora do casamento e do trabalho. A certa altura, os filhos passam a ser o menor dos seus problemas, pois o que interessa é o “eu?” ou “você!”. Bom..., pelo menos enquanto a “conversa” não é interrompida por insistentes telefonemas que, de tão desconexos, acabam fazendo parte do imbróglio em que se envolvem.  


Carnage - Deus da Carnificina é um filme bastante provocativo. A narrativa surreal, carregada de humor ácido e absurdo, lembra a do antológico O Anjo Exterminador (1962), de Luis Buñuel. O texto é fascinante, um desafio aos nervos do espectador preso ao círculo vicioso e ridículo do quarteto. É impossível ficar alheio à discussão tão real quanto banal dos casais e ou sequer deixar a sala. Ousado, ainda que teatral ou talvez por isso, o drama é capaz de fazer o espectador saudável adorar se aborrecer com o destempero dos seus civilizados personagens e refletir sobre a roupa suja que tem em casa.

Deus da Carnificina é o cinema de autor (diretor, ator, roteirista) em sua essência. Uma obra que realmente faz jus à sétima arte. Tirando a breve escorregadela de Winslet, numa sequência de bebedeira, o prazer de ver a excepcional performance dos quatro atores é grande. Preferir um a outro é difícil. O interesse muda conforme o “protagonista” da cena. Se bem que, há tempos não via Foster tão bem e Reilly tão natural. A maestria da direção de Polanski se completa com a fotografia de Pawel Edelman, que dá uma cor meio anos setenta ao drama. Um filme irresistível e definitivamente sem saída!

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