No
princípio havia uma folha de papel em branco. Ela foi quadriculada e virou um
tabuleiro. Palco perfeito para qualquer jogo de estratégia. Era (?) um tempo de
avanços e recuos de nações na exposição de seu poderio bélico na terra, no mar,
no ar. Era (?) um tempo de espiões. Era (?) um tempo de jogatina política. Era
um tempo em que realmente se rabiscava tudo numa folha de papel em branco e
tinha-se (?) um telefone (ou um telégrafo) ao alcance das mãos, ao se desvelar
o segredo do “inimigo”. Um bom jogo de estratégia pode ser jogado nas mais
diversas plataformas ou até mesmo sem elas. Em 1931 os amantes do Batalha Naval (antes rabiscado em
qualquer pedaço de papel) adoraram a ideia da Milton Bradley Company lançar o
jogo comercialmente. Ele virou febre, mania, moda, online, passou... Hollywood
o redescobriu e resolveu inventar uma história infantojuvenil que o justificasse
numa plataforma cinematográfica.
Quando se
trata de guerra (real ou fictícia) os autoproclamados xerifes do mundo se
arrepiam. Antes os estadunidenses se preocupavam com a Guerra Fria, hoje se
atrapalham com a Guerra Quente. Assim, para não ferir sensibilidades europeias,
arábicas e ou asiáticas, na falta de um oponente terrestre de peso, Hollywood
decidiu trazer (ou seria convidar?) um do espaço sideral. Ah, pra quê!? Os
recém descobertos goldilocksianos, a muito anos-luz do Havaí, aceitaram o
convite enviado (em 2005) pela NASA e, em apenas sete anos, resolveram ver o
que os havaianos tinham a lhes oferecer. Inebriados pela beleza e
poluição do planeta, os ETs chegaram atropelando satélites e alguns edifícios
na China (?), caindo no mar do paradisíaco arquipélago, prontos para trocar
fogo com os ultranacionalistas marines norte-americanos, em exercício de rotina
ali por Pearl Harbor.
Bem,
todos sabem que ETs do mundo todo (e de fora dele) adoram odiar os Estados
Unidos da América do Norte e ou seus domínios. Em Battleship - A Batalha dos Mares, com seu ufanismo-exaltação às velhas
e novas forças militares (típica dos filmes do gênero), não é diferente. Mas
poderia, se o rebelde sem causa (com potencial!) Alex Hopper (Taylor Kitch),
não tivesse lido o clássico chinês A
Arte da Guerra, de Sun Tzu, certo de que o autor era japonês (Hollywood está
trocando jovens idiotas por panacas filosóficos) e se tornado (em apenas dois
dias!) um estrategista militar incomparável. Só pode ser uma piada (ruim!).
Explico
melhor: Alex é o vagabundo (com
potencial!) irmão de Stone (Alexander Skarsgaard), comandante do
navio USS Samson. Um belo dia, ao se apaixonar (à primeira vista) por Sam (Brooklyn Decker), filha do almirante Shane (Liam Neeson),
comandante do navio USS John Paul Jones, atenta contra o bom senso, comete um
delito e, como punição (!), vai servir a marinha já com um posto de oficial
naval. Encrenqueiro (com potencial!), ele é motivo de chacota. Mas, como quem
ri por último ri melhor, indiferente ao turbilhão de clichês, adivinha quem vai
salvar o havaiano mundo norte-americano? Não responda ainda, porque, nesse
festival de sandices americanófilas, você ainda pode “vibrar” ou “chorar” com o
improvável brilho de um desafortunado marinheiro paraplégico (frustrado e
perigoso!), um cientista bobalhão (mais veloz que o Flash!), um oficial japonês
mais inteligente (?) que um oficial americano, uma fisioterapeuta sem noção, um
soldado adolescente e a sua histórinha sobre lagartos, um punhado de
marinheiros aposentados e caquéticos...
Battleship - A Batalha dos Mares (Battleship,
EUA, 2012) é um filme de ação literalmente explosivo, do “roteiro” pífio de Erich
Hoeber e Jon Hoeber (que só conseguiram acertar em RED) à direção equivocada de Peter
Berg. Ele parece cumprir à risca a máxima do saudoso Chacrinha (Abelardo Barbosa): Eu
estou aqui para confundir! Eu não estou aqui para explicar!
Ou seja, sobra por quês do começo ao fim: Por que só tem duas mulheres no
elenco, uma negra (no mar): Rihanna (a
“especialista” em armas Cora Raikers)
e uma loira (em terra): Brooklyn Decker (a “fisioterapeuta”), que não têm a
menor ideia das suas “funções”? Por que o boné de Rhiana está sempre colado
naquela peruca horrorosa (não cai nem quando ela afunda na água!)? Por que Raikers é a única marinheira a bordo? Por
que os ETs e os humanos estão brigando? Por que um sujeito vagal feito Alex, em vez de ir para a cadeia vai
para a marinha e, mesmo sem nenhuma experiência, torna-se tenente? Por que...,
ah, me cansei.
Desastres
à parte, possivelmente o mais comprometedor nessa produção milionária seja a
montagem miserável. São tantos o buracos que, de duas, uma: ou esqueceram de
filmar cenas que poderiam dar (!) algum sentido (?) à trama ou foram todas surrupiadas
pelo montador. Diretor: da escola Michael Bay de futilidades, mas está a quilômetros
do explode-mundos hollywoodianos (com involuntário humor trash) Roland Emmerich.
Diálogos: para suicidar o Tico e o Teco. Efeitos especiais: explosões, aeronaves
que mudam de forma mas (ainda!) não viram robôs transformers. Ets: lagartos
(como sempre!) vestindo armaduras parecidas com as do Homem de Ferro e do Game Halo.
Romance: ora, esse é um filme para a garotada que vai ao cinema facebookear e se entupir de pipoca e refrigerante.
Enfim, só não é pior porque não é convertido em 3D.
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