Sempre
que penso em filmes sobre o amor na maturidade eu me lembro de Caminhando sob a Chuva da Primavera (A Walk in the Spring Rain, 1970), estrelado
por Anthony Quinn e Ingrid Bergman, com direção do britânico Guy Green (1913 -
2005), que vi na minha juventude. Não sei se a lembrança vem da beleza
(oriental) do título e ou da singeleza (trágica) do seu enredo, que trata da
relação extraconjugal entre um camponês e a mulher de um professor. Tem uma
fotografia linda e uma emocionante sequência sob a chuva da primavera. Depois
me recordo da inebriante sensação ao assistir (no Festival de Brasília) o antológico filme Chuvas de Verão (1977), com Jofre Soares e Miriam Pires (divinos!),
sob a direção de Cacá Diegues. Não foram os únicos que vi (até hoje), mas os
mais marcantes.
A causa dessa
nostalgia incontida é a estreia de O
Exótico Hotel Marigold (The Best
Exotic Marigold Hotel, Reino Unido, 2012), do diretor John Madden, uma deliciosa comédia romântica (meio dramática) que
traz no seu elenco alguns dos melhores atores britânicos. A trama gira em torno
de sete personagens, todos na terceira idade e cada um com a sua razão para trocar
a úmida Londres pela ensolarada Jaipur, na Índia, em busca de conforto e
tranquilidade num hotel de luxo para idosos: Evelyn (Judi Dench) é
uma mulher forte, mas que perdeu o chão ao descobrir-se viúva e endividada; o
solitário Graham (Tom Wilkinson), juiz de Suprema Corte, é
um homem em busca de redenção; Douglas
(Bill Nighy) é calmo e Jean (Penelope Wilton) é estressada, um casal em constante pé de guerra; Norman (Ronald Pickup) e Madge (Celia Imrie), são apenas companheiros
de viagem, porém fogosos; a xenófoba governanta Muriel (Maggie Smith) quer
apenas tratar o quadril deslocado. Um grupo unido pelo acaso e cujo destino
será decidido quando puser os pés naquele exótico país, com seus cheiros,
sabores e cores, e descobrir que o tal resort
não é exatamente o da publicidade. Mas Sonny
(Dev Patel), o proprietário, fará de
tudo para provar o contrário, já que: “Na
Índia, temos um ditado: tudo vai dar certo no final. Então, se não estiver tudo
certo, é porque ainda não é o final.”
Baseado
no romance These Foolish Things, de
Deborah Moggach, o filme é um achado precioso na balbúrdia temática (de gosto
cada dia mais duvidoso) que tomou conta das salas de cinema. Impressiona a
delicadeza com que Madden trata alguns temas pertinentes como o sexo, o
trabalho, a família, o preconceito, a solidão, o amor na terceira idade. Bem
como a transformação que cada um passa ao se deixar envolver pela cultura e
costumes locais. A narrativa não adoça os problemas que atingem inesperadamente
os sete aposentados, apenas propõe um outro olhar (mais esperançoso) sobre eles.
Leve e gracioso, O Exótico Hotel
Marigold toca o espectador sem escandalizar e ou subestimar sua
inteligência e sentimentos. Também porque não é preciso ser (ou estar) velho
para compreender os percalços de se envelhecer numa sociedade a cada dia mais
egocêntrica e egoísta. Nem tão pouco esperar sentado a morte chegar, já que ela
pode vir a qualquer hora ou demorar.
O Exótico Hotel Marigold tem um charme especial e rema contra a
maré de clichês, passa ao largo da pieguice e, apesar do retrato cru que
desenha da terceira idade, troca a melancolia pelo bom (e estranho) humor inglês.
Se o roteiro de Ol Parker tem a sua
excelência, a interpretação de todo o elenco não fica atrás. Há veracidade em
cada diálogo, gesto, olhar dos atores veteranos e também dos indianos. Que
prazer assistir a quem sabe dizer o que quer dizer um texto. Mesmo quando
mínimo ou sem o uso da palavra, como faz Tom Wilkinson em sua peregrinação para
corrigir um “erro” que cometeu no passado. Que prazer assistir a oito histórias
tão bem contadas e amarradas. Utópico ou não, funciona!
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